Translate

Postagens populares

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

PATRONOS DA ACADEMIA ITATIAIENSE DE HISTÓRIA

CADEIRA N.º 01 – BARÃO HOMEM DE MELLO

Grande administrador, político, historiador, geógrafo e professor de História e Geografia, muito ligado a Itatiaia e que aqui findou seus dias em sua casa de veraneio, aos 81 anos, em 4 de janeiro de 1918, vitimado pela Gripe Espanhola que atingiu cerca de 3000 Resendenses e Itatiaienses e vitimou 85 e só não fez mais vítimas, graças aos desvelos em Resende, do Dr. Manoel Fernandes da Silveira e em Itatiaia do recém chegado Dr. Roberto Bernardes Cotrim, o qual coube a ingrata missão de assinar o óbito do Barão Homem de Mello, o primeiro óbito assinado em Itatiaia.
O Barão Homem de Mello ligou-se a Itatiaia em 1873-77 na condição de Presidente da Companhia da Estrada de Ferro Rio-São Paulo que em sua gestão concretizou a ligação ferroviária Rio-São Paulo, cabendo-lhe fazer o discurso de inauguração desta estratégica ligação.
E foi de tanto passar pelo local que o Barão enamorou-se do Campo Belo e do imponente maciço do Itatiaia que não descansou até nele incursionar em 27,28 e 29 de junho de 1876. De sua excursão deixou circunstanciado e científico relatório apoiado em dois mapas que foram publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro sob o título “Ascenção ao Itatiaia” em junho de 1876, tendo anexo mapa para servir de guia do Rio de Janeiro ao Pico do Itatiaia todo, de sua autoria.
Acompanharam na excursão que partiu da estação Itatiaia e a ela retornou.
Foram mais o Dr. Luis Dias Novaes de São José do Barreiro, o tenente coronel José Rodrigues de Toledo e Silva, advogado em Resende, guia de excursão e profundo conhecedor do Itatiaia.
Obtiveram prévia permissão do comendador Francisco Ramos de Paula de Bananal para percorrer os locais que eram de sua propriedade e que também colocou à disposição a Casa da Invernada no alto do maciço.
O Barão registrou os cientistas que o antecederam: O engenheiro José Franklin Massena que ali esterve em junho de 1867, dez anos antes e mediu a altura das Agulhas Negras que a partir de então foi condecorado por quase um século o ponto culminante do Brasil. O Dr. Massena já havia estado no Itatiaia em 1858 e 1859 e interpreta Itatiaia como “ pedra em forma de grelha”. Ele traduziu o seguinte trabalho, fundamental para os estudos de História e Geografia de Itatiaia.
Massena, José Franklin. Quadros da Natureza Tropical da Ascensão científica ao Itatiaia, Rio, 1867.
Foi neste trabalho que o barão Homem de Mello baseou na incursão.
Registra ainda a excursão em 1868, do Conde D´Eu acompanhado do fotógrafo Marcos Ferraz, de Glaziu e de E. Willy, do Dr. Joaquim Nabuco em 1876 acompanhado do diplomata da Rússia e França e do grande engenheiro negro André Rebouças em 1887, com seus alunos da Escola Politécnica, quando o Itatiaia era propriedade do grande gaúcho filho do grande Irineu Evangelista de Souza – Barão de Mauá.
Rebouças teve como base de partida a fazenda Esperança, atual do Banco que pertence hoje a AMAN e que já fora propriedade do Comendador Breves, dono por volta de 1842 de 20 fazendas e 6.000 escravos. Rebouças sobre a excursão publicou: Trabalhos práticos com os alunos em Itatiaia , Rio, 1878(Existe o original no Museu Imperial de Petrópolis).
Rebouças usou como orientação o Mapa do Barão Homem de Mello. Barão Homem de Mello nasceu em Pindamonhangaba em 1º de maio de 1837; filho do Visconde de Pindamonhangaba.
Estudou no Seminário de Mariana e depois, Direito, São Paulo.
Presidiu a Câmara de Pinda. Em 1861 conquistou a cátedra de História do Colégio Pedro II. Presidiu São Paulo(1864), o Ceará(1866), o Rio Grande do Sul(1867) e a Bahia por último. O barão foi ministro da guerra(interino em 1881, em substituição ao famoso general Câmara e Visconde de Pelotas.
Foi professor de Geografia e História do Colégio Militar do Rio de Janeiro desde a fundação, sobre o que pronunciou o discurso inaugural, além de paraninfar a 1ª turma por ele formada em 1894.
Ele foi historiador, geógrafo de renome, tendo pertencido ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Academia Brasileira de Letras. Possui invejável obra literária que é referenciada por Sacramento Blake em seu Dicionário Bibliográfico Brasileiro v.2, p. 463-64.
Entre seus trabalhos mais famosos destaca-se:
- O Atlas do Império do Brasil(1882)
- Carta Física do Brasil (1876)
- Mapa Guia do Rio de Janeiro ao Itatiaia(1876)
- Estudos históricos brasileiros (SP, 1858)
- Esboços Biográficos(SP, 1858)

Os dois últimos revelam uma vocação extremamente precoce para a História, aos 21 anos.
Por volta de 1905 foi atingido pela cegueira em função da catarata.
Foi que então retirou-se para Campo Belo(atual Itatiaia), residindo ao que parece próximo do atual Hospital Militar de Convalescentes, que segundo um estudioso militar que comentou que foi por inferência do Barão Homem de Mello que o hospital foi instalado em Itatiaia de tanto gabar a excelência do clima local.
O Barão Homem de Mello foi sepultado no Cemitério São João Batista com grande comparecimento dos colégios D. Pedro II e Colégio Militar.

CADEIRA N.º 02 – Prof.ª Maria Augusta Dinorah Freire

Maria Augusta Dinorah Freire, dona Mariúcha, ensinou... ensinou... durante quase 50 anos. Era uma eterna apaixonada pelo ensino e pela Leitura.
Viveu 82 anos, de 28/08/1902 a 23/04/1985.
Aconselhava sempre seus alunos a amar o Livro, a manuseá-lo, a compreende-lo e a deseja-lo.
O estilo de escrever de D. Mariúcha é direto, fluente, constante e gostoso.
O conteúdo de seus escritos é rico, variado, coerente, humano e construtivo.
Era sempre convidada para participar de eventos e foi paraninfa de muitas turmas.
Seus escritos não representam uma autobiografia, mas mostram sua vida em cada página – Livro – Professora por Vocação (Padre Hélio Comissário da Silva).
Entrevista em 23/09/1975 por um grupo de alunas do Colégio Marechal Souza Dantas, quando lhe perguntaram como se sentia aposentada, respondeu:
__ “Não considero-me aposentada. A marca que o magistério me imprimiu na alma, nenhuma aposentadoria apagará.
Bem poucos mestres tiveram como eu tão colheita de gratidão e amor de seus alunos.
Ainda hoje, com 73 anos sinto pelo magistério o mesmo entusiasmo. Como valeu a pena!”“.
Ao finalizar aquela entrevista deu o seguinte conselho:
__ “Busquem a Luz lá de cima, que não falta para quem escolhe certo, para quem compreende que só no trabalho que o coração da felicidade.”
Hoje, graças a Deus, o nosso município tem sua Biblioteca Pública que leva o nome de D. Mariúcha(BIPUIM).
Que começou em 1979, seis anos antes de sua morte. Foi inaugurada a primeira sala de leitura da região, atualmente ACIATI, aqui em Itatiaia que leve o nome de nossa mestra D. Mariúcha.
“A todos os Campobelenses e aos jovens, em particular, vai o nosso apelo. Não deixem esta sala vazia!”.
Procurem-na, usem-na, manuseiem seus livros, leiam!
Leiam... leiam...leiam...
1996 BIMI D. Mariúcha – 28/08/1986
BIPUIM 28/08/2001.
Atende 1.600 sócios leitores que lêem, pesquisam, participam.
Hora do conto.
Acervo de 22.000 livros que ajudam novos alunos, professores, comunidade a de instruir, a ficar bem informado e a ter lazer.
Hoje D. Mariúcha estaria completando 102 anos, esta é uma pequena e singela homenagem.
D. Mariúcha receba esta homenagem com carinho de sua aluna (Angela) e de todas as pessoas que tiveram a honra de conviver e nascer, ao lado desta mestra extraordinária a mensagem de D. Mariúcha.
“No mar da vida Deus seja tua bússola, tua luz e tua âncora.
Bússola, para nortear-te, para dirigir-te através da vida.
Luz, para dissipar as dúvidas e mostrar-te a verdade única e indivisível.
Âncora, em que te apegarás quando as desilusões envolverem em desalento teu coração.
Então te firmarás nessa âncora, a Esperança dos que nada mais esperam e tudo se transformará para ti em Luminoso Arco-íris!”“.

CADEIRA N.º 03- CEL. JOSÉ MENDES BERNARDES

Descendia ele de portugueses, prósperos negociantes na freguesia de S. Pedro de Miragaia, Porto, expatriando-se a família, quando da segunda invasão de Napoleão em Portugal.
No início do século XIX seu avô Manoel Francisco da Rocha Bernardes, negociante matriculado ao tempo do Império, no Rio de Janeiro, transferiu-se para Vassouras, atraído pelo comércio cafeeiro e mais tarde para a região de Resende, onde fundou a Firma Rocha Bernardes e irmãos, com Armazém no Porto das Barcas, na Freguesia de Campo Belo, chegando na época do apogeu do ciclo do café, 1850 a 1870, a exportar 100.000 arrobas de café e outros produtos, através da navegação do Rio Paraíba.
José Mendes Bernardes, nasceu em Campo Belo, RJ, na Fazenda “Itatiaia”, de propriedade de sua tia-avó Mariana Cândida Ribeiro Rocha Leão, a 15 de fevereiro de 1858, filho do Alferes Francisco da Rocha Bernardes e de D. Feliciana Mendes Bernardes.
Fez seus estudos inicialmente com o então mestre de primeiras letras e latim, o educador José Fernandes de Oliveira, na freguesia de Campo Belo.
Em 1872, é levado à Corte, onde fez o primeiro ano da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, pertenceu à turma dos Aguiar Moreira, Paulo Frontin e de Eduardo Augusto Torres Cotrim, tornando-se amigo deste; não completou seus estudos, pois com o falecimento de seu pai, sendo ele filho único, teve que assumir os negócios da família.
Inteligente, laborioso, sistemático, conhecedor profundo da agricultura e pecuária, liquidou a firma Rocha Bernardes e iniciou-se nas lides agrárias e como pecuarista firmou o seu rebanho bovino com a raça “ Jérsey”, tendo uma grande visão do futuro dessa raça, por excelência leiteira, pouco a pouco foi selecionando; chegando a ser premiado em exposição de criadores de bovino no Parque de Água Branca em São Paulo.
Foi ele, 1883, o primeiro exportador de manteiga e o segundo em leite para a capital Federal, no município de Resende.
Fundador e primeiro Presidente da Associação dos Criadores de Resende e da Caixa Rural de Resende.
Fundou a Cia. Rural J. Bernardes para a exploração agropecuária na sua propriedade rural – a “ Belos Prados”; agricultor de milho, cana e arroz, tanto que em 1919 sua fazenda chegou a colher 1.600 sacas de arroz.
Como homem, jamais se curvou senão para escutar a voz da própria consciência.
Deveu tudo o que foi na sociedade de sua terra, exclusivamente ao seu notável critério e honestidade.
Pai extremoso e austero, era no seu lar o guarda das velhas tradições das virtudes dos seus ancestrais, tanto que em sua fazenda patriarcal, abrigava parentes, filhos, noras, netos e sobrinhos. Viveu sempre para a família e para a Pátria, jamais se conhecendo um só deslize dele no domínio moral e patriótico.
Como político foi um autêntico defensor dos ideais democráticos da época um dos fundadores do partido republicano em Campo Belo, de cujo diretório foi Presidente; aparecendo na imprensa local “O Regenerador” como órgão do partido Cotrim/Bernardes, que prestigia o governo estadual, a favor do Presidente Nilo Peçanha, opondo-se ao partido local dominante.
Foi presidente da primeira junta militar de alistamento (serviço obrigatório do Exército) em Resende.
Recebeu do Governo, Carta Patente, nomeado para o posto de Coronel da Guarda Nacional na Comarca de Resende no Estado do Rio de Janeiro, assinada pelo Presidente Nilo Peçanha.
Desfrutou de prestígio social e político no chão de seu nascimento, Campo Belo que era todo seu sonho.
Exerceu inúmeros cargos Eletivos:
Presidente da mesa eleitoral da Paróquia de São José de Campo Belo, RJ, em 19 de janeiro de 1884, para a eleição de dois Deputados a Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro.
Vereador para o quadriênio 1895/1899 à Prefeitura Municipal de Resende.
Vereador eleito com a maioria de votos, 518, para o biênio 1916/1918, assumindo a presidência da Câmara Municipal e Prefeito interino da Cidade de Resende, de 25 de janeiro a 10 de maio de 1916.
Eleito Deputado ao Congresso Estadual, cujo mandato não terminou, por quanto à intervenção do Presidente Arthur Bernardes, nos negócios do Estado do Rio, anulando todos os órgãos populares da administração fluminense.
Em cuja gestão de tais cargos, prestou os mais relevantes serviços ao nosso município, dentre tantos melhoramentos realizados, a ponte metálica que liga a cidade ao distrito de Campos Elíseos; em Itatiaia, a balsa que cortava o Paraíba de uma margem à outra, através de cabos de aço, bem em frente a sua fazenda “Belos Prados” , para comunicação, por terra, da freguesia de Campo Belo a Resende.
A 18 de março de 1932, faleceu em São Paulo, aos 75 anos, o Cel. José Mendes Bernardes, “ espírito empreendedor e incansável propugnador do progresso de sua terra natal, fez de sua propriedade agrária, no município, padrão de utilidade e ensinamento , por disposição testamentária determinou que sobre o coval não se levantasse sequer uma lápide, renunciando a perpetuidade da sepultura, detalhe que foi bem a expressão de uma vida simples e límpida.” Assim se expressou um jornal de Resende – A LIRA.
Transportado de São Paulo, em comboio fúnebre da Central do Brasil, foi sepultado no Cemitério de Itatiaia a 19 de março de 1932, constituindo seus funerais um dos acontecimentos jamais visto em Campo Belo, pela multidão de pessoas de todas as classes sociais que afluiu à sua casa e ao Cemitério.
A Prefeitura Municipal de Resende lhe concedeu sepultura perpétua e gratuita no Cemitério de Itatiaia, e imortalizou sua memória, dando o seu nome a uma das ruas das cidades de Resende e de Itatiaia.
Recebeu recentemente o Diploma de Vereador Emérito, “in memorian” da Câmara Municipal de Itatiaia.
Casou-se com sua prima irmã, em 21 de junho de 1879, Maria Carolina Mendes Bernardes com quem teve 9 filhos, e em segundas núpcias, com sua prima Ana Ribeiro Bernardes.

CADEIRA N.º 04 – JOSÉ EZEQUIEL FREIRE

Ezequiel Freire: natural de Resende, nascido em 10 de abril de 1850, na antiga Sant`Ana dos Tocos, hoje submersa pela Represa do Funil. Filho de Antônio Diogo Barbosa e D. Maria Crispiniana Barbosa.
A sua infância, decorreu na Fazenda Boa Vista, de seu pai e a Fazenda São José, de seu avô, amabas às margens do Paraíba, havia ainda em torno a riqueza do cenário das matas virgens, emoldura pela imponência da Mantiqueira, nesse ambiente, cheio de seduções para a alma de artista corria o lendário Rio Paraíba.
Aos vinte e um anos, Ezequiel partia da fazenda para a corte, ingressando na “Escola Militar da Praia Vermelha”, renunciando a carreira militar, matricula-se na “Escola Politécnica”, abandona a engenharia para cursar a “Faculdade de Direito” do Largo S. Francisco em S.Paulo, onde se bacharelou em 1881.
Durante o seu curso acadêmico, Ezequiel Freire, quase nada versejou, mas dedicando-se à prosa, colaborando no Correio Paulistano, escrevendo crônicas, que Ezequiel entrou definitivamente na sua nova fase literária, de notável prosador.
O escritor por esse tempo, professor de retórica, cátedra que obteve por meio de concurso. Foi colaborador do Estado de S. Paulo, da Tribuna Liberal. Tornando-se o fino cavaleiro das Letras.
Casou-se ainda estudante com D. Maria Adelaide de Araújo, filha do Dr. Luiz Ferreira de Araújo, D. Sinhá, como a tratava carinhosamente.
A vida conjugal de Ezequiel, desde o noivado até a separação pela morte foi de grande afeição, e cercado de muitos filhos.
Doze dias antes, percebendo que o fim se aproximava, enviou a todos os seus amigos, em cartão negro e, com uma impressionante mensagem escrita à tinta branca, rogando-lhes que rezassem:
__ Por conta de maior quantia, reza por ele
Padre Nosso e Ave Maria
(datado de 2 de Novembro de 1891).
Advogado, formado pela Faculdade de Direito de S. Paulo. Juiz de Direito em Araras-SP. Autor de vários livros entre eles: Flores do Campo. Jornalista e Poeta. Falecido em 14-11-1891. (rua Ezequiel Freire – Centro – Resende).
José Ezequiel Freire, o poeta resendense, ainda no vigor da juventude, fez com muito brilho, sua estréia literária (1874), com o belo livro de versos “Flores do Campo”. Prefaciado pela não menos talentosa, poeta fluminense, Narcisa Amália, a quem Ezequiel Freire fazia a côrte, mas não era correspondido. Tanto que enciumado, não compareceu à festa consagradora do livro de estréia, “As Nebulosas”, da poeta, assim se expressando:
_ “Não contemplei, Senhora, a vossa festa,
Eu tinha medo de vós ver formosa,
Inspirada e feliz! ...
Agora venho em nome da bondade,
Chamar sublime e caridosa idéia,
Porque ouviste um ai de um desgraçado,
Porque sagraste vossa pena de ouro,
As penas do infeliz...”

“Flores do Campo”, foi muito bem acolhido pela crítica contemporânea. Toda a existência de Ezequiel, caracterizou-se pela dignidade, na inteligência, no sentimento, no caráter, o poeta, o advogado e o jornalista.
Por certo, as grandes almas, como a sua, não surgem de improviso. Nasceu de raízes antigas. Pois descendia de uma ilustre família de nossa aristocracia rural, como neto do Comendador José Manuel Freire e de D. Maria da Silva Soares Freire e filho do Tenente Antônio Diogo Barbosa Lima e de D. Maria Crispiniana Barbosa Freire.
A morte lhe abriu o jazigo a 14 de Novembro de 1891.
Sepultado em Caçapava, onde se achava por motivo de tenaz moléstia(a tuberculose) que o vitimou.
Ezequiel, em visita ao cemitério em companhia do Cônego Rovalho, disse: “ Se eu viesse a morrer em Caçapava, desejaria ser enterrado aqui.”
Formaram-se crenças populares sobre seu túmulo, banhado de misterioso orvalho. Vieram romarias e preces em torno do túmulo que chora.
Recebeu ele pelos poderes públicos municipais a denominação “Ezequiel Freire” o grupo escolar e uma rua no bairro do Campo Alegre.
Em 1910, publicado o “Livro Póstumo”, prefaciado por Wenceslau de Queiroz, sobre crônicas e versos do ilustre poeta, escritor e jornalista que foi o nosso homenageado.
Em 1913, inaugurou-se a Escola Complementar “Ezequiel Freire”, gesto de merecido preito ao beletrista resendense, educandário que alguns anos depois ele passou a Grupo Escolar, transferido em 1938, sob a mesma denominação para o distrito de Campo Belo, hoje Itatiaia.
A professora Maria Rita Coelho Novelino foi a primeira diretora do “Ezequiel Freire” em 1938.
O colégio funcionava num casarão antigo da família Vieira, no largo João Vieira.

CADEIRA N.º 05 – JOSÉ FRANCISCO ZIKAN

José Francisco Zikan nasceu aos 19 de março de 1881 no lugar denominado “ Seis Casas” em Tepliz - Scheoenau na Boêmia, Tchecoslováquia, como filho primogênito de Francisco e Anna Zikán.
Com quatro anos de idade, foi matriculado em um “Jardim de Infância” em Teplitz, distante uma hora de onde morava. Devido às suas pernas curtas e às altas camadas de neve, muitas vezes era carregado nas costas pelos colegas maiores.
No verão, colecionava borboletas e para a captura, usava o chapéu, o boné ou o paletó.
Aos 8 anos, a família mudou-se para a cidade de Chomutov, onde não havia escola Tcheca e foi obrigado a freqüentar a escola alemã. Aos 13 anos mudou-se para a cidade de Dux, onde está sepultado o aventureiro José Casanova. Quando estava cursando a escola superior buergerschule, interrompeu seus estudos.
Como era costume na época, iniciou viagens a pé, à procura de serviço em outros lugares. Conheceu a Baviera, Augsburg, Muechen, Rosenhein. Atravessou o Rio Danúbio perto de sua nascente e chegou ao Tirol. Visitou Viena e retornou à Boêmia, sua terra natal.
Tendo o desejo de conhecer países tropicais, viajou para o Brasil em 1902 atraído pelas suas borboletas das quais já possuía uma pequena coleção.

Em Bremen embarcou no vapor “Wintemberg” e chegou a Recife em 14 de outubro de 1902. Seguiu depois para o Rio de Janeiro e para São Francisco do Sul, em Santa Catarina, onde chegou em 23 de outubro. No mesmo dia, viajou para Santos e daí para São Paulo onde ficou até 7 de maio de 1903.
Em seguida foi convidado para lecionar em uma escola de roça em Mar de Espanha, Minas Gerais, onde permaneceu até o dia primeiro de novembro de 1904, quando partiu para o sul do Estado do Espírito Santo para se dedicar à sua coleção de insetos. Viajou por várias cidades do Espírito Santo, pela estrada de ferro denominada “Mula sem cabeça”. Chegou a Bom Jesus, daí seguindo a pé até Bom Jesus de Itabapuana, sendo sua bagagem transportada por carro de boi. Atravessou para o Estado do Rio de Janeiro onde se instalou em um quarto na fazenda do Sr. Carlos de Aquino Xavier.
No dia 8 de novembro saiu pela primeira vez para coletar insetos nas matas próximas, que naquela época eram abundantes. Escalou o Pico da Bandeira, na Serra do Caparão, considerado, naquela época, como o ponto culminante do Brasil. Alternou sua residência entre Minas Gerais e o Espírito Santo até que em primeiro de maio de 1909, casou-se com Elisa Joana Braun e ficou lecionando em Mar de Espanha durante dois anos.
Em novembro de 1911 mudou-se para o sul do Espírito Santo com a mulher e os dois filhos mais velhos, Walter e Otokar, onde ficou como administrador da fazenda “Jerusalém”. Em outubro de q915 foi contratado para administrar a Fazenda dos Campos, em Passa Quatro.
Com o auxílio do Sr. Julius Arp, adquiriu um terreno em Itatiaia, lote 15 do antigo núcleo colonial e mudou-se em outubro de 1923, onde viveu em companhia de sua esposa e de seus 7 filhos(Walter, Otokar, Gertrudes, Maria, Adelaide, Germano e Leonor), esta última nascida em Itatiaia.
Convidado pelo prelado do Rio Negro no Amazonas para explorar a fauna de insetos nas Missões dos Salesianos daquele rio, partiu em 17 de junho de 1927 no vapor “Prudêncio de Morais”, para Manaus. Coletou insetos nos arredores até 19 de julho, quando prosseguiu viagem em lancha rio acima, chegando no dia 24 em São Gabriel, onde ficou até 6 de agosto. Neste dia partiu na chata “Inca” indo até Santa Isabel, e em lancha até a Manaus e daí, em 9 de janeiro de 1928, voltou ao Rio de Janeiro no vapor “Afonso Pena”.
Em 13 de março de 1923 trabalhou como naturalista na Estação Biológica do Itatiaia, hoje Parque Nacional do Itatiaia.
Durante 26 anos explorou a fauna entomológica da encosta meridional da Serra do Itatiaia, gerando um trabalho científico até hoje inigualado.
José Francisco Zikan faleceu em 23 de maio de 1949 deixando um valioso legado científico constituído de 153.086 insetos atualmente conservados do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Esta coleção é considerada uma das mais valiosas contribuições científicas brasileiras pois, além dos insetos, a coleção possui estudos dos hábitos, do habitat e das variações morfológicas dos mesmos.
A coleção de insetos que está atualmente no museu do Parque Nacional do Itatiaia foi fruto de seu trabalho naquela unidade de conservação e que foi continuado por Walter e Leonor Zikan. Em sua homenagem, foi dado o nome de “ José Francisco Zikan” à biblioteca do museu, onde o seu retrato , pintado por Osório Belém, guarnece uma das paredes.
Foi sócio da “ Deustche Entomologische Gesselschaft”, da “ Sociedade Entomológica do Brasil” e da “Sociedad Entologica Argentina”.
Publicou 61 artigos técnicos em alemão e português, em revistas alemãs, austríacas, argentinas e brasileiras. Um dos trabalhos fala sobre a necessidade da preservação das florestas e da natureza.
José Francisco Zikan foi premiado em 1922 quando expôs sua coleção de insetos em uma exposição comemorativa do Centenário do Brasil.
Foi homenageado em diversas publicações científicas, como o “ Boletim da Sociedade Brasileira de Entomologia”, a “ Revista de Entomologia”, a revista “ Chácaras e Quintais”, a “Revista de La Sociedad Entomológica Argentina” e no primeiro número do “ Boletim do Parque Nacional do Itatiaia”.
José Francisco Zikan foi retratado por seu amigo Guignard em 1942 e a obra é considerada um dos melhores trabalhos deste famoso pintor.
Recebeu da Câmara Municipal de Itatiaia o Diploma de Mérito Cultural, através da resolução número 60/90 de 8 de novembro de 1990, por indicação da Mesa Diretora, presidida pelo vereador Jair Alexandre Gonçalves.
O nome Zikan foi perpetuado na ciência pois lhe foi atribuído o nome científico de mais de 60 espécies de besouros, 6 de percevejos e outras de moscas e vespas.
Da mesma forma, levam o nome Zikan dois gêneros de vespas, um de moscas, um de percevejo e um de borboleta.
Também lhe foram dedicadas algumas espécies de plantas como a “Madotheca Zikani”, “Macromitrium Zikani” e a orquídea “ Oncidium Zikanianum”.
CADEIRA N.º 06 – TOIVO SUNI

Nasceu em 18.11.1895, em Jääski, Finlândia, faleceu em 01.10.63, em Penedo – Itatiaia-RJ.
Primeiro casamento com Laura Suni, filhos Paavo e Eva Paavo.
Faleceu na II Guerra Mundial na Finlândia em 1941.
Segundo casamento com Helga Vartiainen, filha Maarit e neto Breno, vivem em Penedo.
Faziam parte de um grupo de idealistas, vegetarianos e naturalistas que quiseram se transferir de um país de clima frio como Finlândia para um de clima tropical e resolveram se imigrar para o Brasil.
Toivo Uuskallio chegou aqui em procura de lugar onde instalariam a colônia finlandesa e em janeiro de 1929 compraram a Fazenda Penedo que ficou sendo a nova terra de Toivo Suni até a sua morte.
A casa de Suni foi a primeira a ser construída e habitada ainda em 1929, a casa ainda existe.
Suni foi um agricultor por excelência, tinha, como dizemos na Finlândia, “ o polegar verde”, tudo o que plantava crescia e florescia.
Era orgulhoso pelo fato de ser um dos mais rápidos enxertadores de laranjeiras, o trabalho habitual dos finlandeses de Penedo dos primeiros anos da colônia.
Desde jovem, Suni se interessou pelo desenho e pela pintura.
Pintar paisagens a óleo era sempre o seu passatempo favorito. Ao correr dos anos o passatempo foi aos poucos transformando-se em sua atividade principal e depois dos anos 50 a agricultura ficou ao lado e Suni começou-se considerar artista e pintor.
Suni era praticamente auto-didato, mas no final da década de 40, foi discípulo do famoso pintor checo Jan Zach que morou em Penedo por alguns anos.
O estilo de pintura de Suni variava, os primeiros trabalhos eram do estilo clássico figurativista, passando a moderno, cubismo, e abstrato, sob influência de Zach. Nos seus últimos anos voltou a pintar a estilo mais tradicional.
Suni participou de várias exposições do Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, e outras coletivas. Tive exposição individual em Resende em 1950, no IBEU do Rio de Janeiro em 1952, em São Paulo em 1955.
Em 1977 foi feita uma exposição retrospectiva de Suni na sede atual do Clube Finlândia, com 80 telas, e em comemoração dos 60 anos da Colônia Finlandesa, o MAM de Resende organizou uma retrospectiva de Suni.
Toivo Suni ganhou Diploma Mérito Cultural n.º 064 (in memoriam) da Câmara Municipal de Itatiaia em 8 de novembro de 1990.
Suni era uma personagem marcante, um pioneiro da Colônia Finlandesa de Penedo, agricultor, artista, filósofo, idealista.

CADEIRA N.º 07 – CAPITÃO EDUARDO AUGUSTO DA SILVA

Filho de João Augusto da Silva e de Raimunda Augusta da Silva nasceu na cidade de Fortaleza no Estado do Ceará no dia 18 de maio de 1928.
Casado com Dulce Costa da Silva no dia 25 de setembro de 1954, da qual resultaram filhos, netos e bisnetos.
Aos dezoito anos iniciou sua brilhante carreira militar, ingressando como aluno na ESA – (Escola de Sargento das Armas) em Realengo, no Rio de Janeiro, no ano de 1946.
Em 1947 foi promovido a 3º sargento, tendo sido transferido para o 3º R.I. em São Gonçalo, Estado do Rio. Promovido a 2º Sargento em 1957, a 1º Tenente em 1977, em junho de 1980 promovido a Capitão.
O.M. – ONDE SERVIU E RESPECTIVAS DATAS:
E.S.A – Agosto de 1946 a julho de 1947.
3º RI – Agosto de 1947 a novembro de 1965.
R.E.I – Dezembro de 1965 a janeiro de 1967.
Rep. Dominicana (FAIBRÁS) – de Dezembro de 1965 a Setembro de
1966.
3ºRI – Dezembro de 1966 a Junho de 1972.
H.C.I – Maio de 1972 a junho de 1984.
Entre outras funções que exerceu no Exército destacou-se:
- Chefe de Serviço de Patrimônio
- Comandante de Contigente
- Chefe de Seção de Manutenção e Transporte
- Adjunto de Secretaria
- Chefe de Serviço, Recreação e Esportes.
- Oficial de Relações Públicas
- Chefe de Serviços de Assistente Social
- Aprovisionador
Ao longo de sua carreira por determinação do Ex.mo. Sr. Comandante do Exército, para integrar no Contigente, para seguir a San Domingos (Rep. Dominicana) – FAIBRÁS – onde desempenhou suas tarefas com muita capacidade e recebeu muitos elogios e lá devido seus serviços que desempenhou foi destacado para trabalhar diretamente na O.E.A(Organização dos Estados Americanos) onde era Comandante, o General Carlos de Meira Mattos.
Foi agraciado com medalhas: de Bronze, Prata e Ouro(dez, vinte e trinta anos e outorgado), serviços prestados no Exército e medalhas outorgada pela Part S. Dau.
Transferido para o HCI(Itatiaia) em 1972, onde também exerceu suas funções com elevado destaque.
Em 1981, este grande brasileiro conhece o movimento leonístico no LIONS CLUBE DE RESENDE, e começou os trabalhos visando fundar o LIONS CLUBE DE ITATIAIA. Incansável e com o apoio dos padrinhos de Resende, consegue no dia 16 de junho de 1982 fundar o LIONS CLUBE DE ITATIAIA, sendo o primeiro Presidente, votado por unanimidade.
Com entusiasmo do leonismo, sempre participou da Diretoria do seu Clube além de participar da governadoria tendo sido : Presidente de Divisão, Vice Governador, Assessor de Divulgação e Extensão.
Durante sete anos de LIONS sempre foi leão cem por cento, e recebeu também medalha de Leão Chave. Para o LIONS CLUBE DE ITATIAIA, Eduardo Augusto foi a pedra fundamental.
Trabalhou as vezes no anonimato para esta comunidade. Foi figura Vip em 1981, pelos benefícios feitos à comunidade, escolheu Itatiaia para sua morada.
Foi Secretário por dois anos seguidos e sempre era destacado para Mestre de Cerimônias.
Na comunidade participou do SOS, em 1988. Participou do movimento de emancipação por Itatiaia, foi beneficente anônimo. Trabalhou para a igreja local como coordenador de festas, idealizador do Natal para os carentes, participou da Comissão de Obras da Cidade Alegria, participou do Movimento Ecológico do Parque Nacional do Itatiaia, idealizador da iluminação de sua rua, junto da Prefeitura Municipal de Resende.
Dia 13 de setembro de 1989, veio a falecer, causa – derrame cerebral.

CADEIRA N.º 08 – TOIVO BERNHARD UUSKALLIO

Nasceu na Finlândia em 23 de setembro de 1891. Sua família possuía uma fazenda – escola para onde convergiam aprendizes de toda parte daquele país.
Na numerosa família todos trabalhavam juntos; o pai de Toivo fazia móveis, armas e “ kanteles” (instrumento musical de cordas) e as mulheres, além de ajudar na lavoura, cuidar dos afazeres domésticos, fiavam o linho e a lã para tecer para tecer seus próprios tecidos.
Toivo adoeceu gravemente e resolveu adotar o regime absolutamente vegetariano.
Com isto se curou e quis propagar os resultados desta experiência para outros.
Publicou livros sobre nutrição, agricultura e religião, tendo previsto já , naquela época, os desequilíbrios da natureza se a humanidade continuasse transgredindo contra ela.
Na Finlândia, naquele tempo, era muito difícil seguir o regime vegetariano devido ao longo e rigoroso inverno, não havendo os recursos de hoje.
Surgiu então, a idéia de procurar um país onde o clima permitisse viver mais de acordo com seus ideais.
Formou-se um grupo, comprar um local adequado aos seus objetivos.
Encontraram a fazenda Penedo no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Era uma antiga fazenda de café e depois de gado, pertencente ao Mosteiro de São Bento. A compra foi efetuada e começaram a vir os primeiros colonos. Tiveram inúmeras dificuldades; muitos desistiram, mas os que permaneceram tiveram uma vida muito árdua, criando no entanto, raízes profundas nesta boa terra.
Tentaram manter algumas tradições finlandeses, como a sauna, as danças típicas, trabalhos manuais e reuniões para cantar canções da terra natal, com várias vozes.
As dificuldades com a agricultura foram tão grandes, que os colonos começaram a procurar outros meios de sobreviver.
Surgiram as primeiras pensões familiares, fabricação de geléias e chutneys caseiros, artesanatos utilizando o know-how finlandês com materiais do Brasil: madeira, bucha, capituva, tapetes e tecidos feitos à mão.
O sonho de Toivo Uuskallio e outros companheiros, talvez não tenha se realizado no sentido de formar um pequeno paraíso na terra, mas com muito sacrifício e tenacidade, chegou perto.
O maior legado que esta minúscula colônia está deixando aos que vem depois, é não ter medo de qualquer trabalho, grande amor e respeito à natureza e a tradicional, acolhedora maneira de receber os visitantes.
Toivo tinha personalidade marcante, muita fé em Deus e era adverso a qualquer tipo de violência.
Toivo Uuskallio faleceu em 19 de agosto de 1969.

CADEIRA N.º 09 – JOAQUIM DE AZEVEDO CARNEIRO MAIA

Nasceu em Resende em 24 de janeiro de 1898 e morreu em 06 de setembro de 1991 aos 93 anos. Era um dos 15 filhos de Clodomiro e Joanina Maia. Joaquim Maia era bancário e foi Juiz de Paz e Prefeito de Resende por 01 ano, nomeado em 1947 durante o período de transição democrática no fim do Estado Novo.
Em sua breve passagem pela Prefeitura, construiu a rede de água do bairro Manejo. Proveniente de uma família de artistas, depois de aposentado ele dedicou-se a tapeçaria retratando sobretudo, casarões antigos de Resende, muitos já demolidos.
Seu irmão era fotógrafo e fazia desenhos em bico de pena. Outro irmão Irênio, pintava aquarela. Segundo Dona Clarisse, os Maias eram muito inteligentes, sensíveis e artistas polivalentes, e eu acrescento todos eles muito engraçados. Uma das características da família Maia, era realmente o bom humor permanente.
Do avô, João Maia, ele herdou o gosto pela pesquisa histórica, o dom de escrever e também o temperamento sistemático, segundo sua viúva Clarisse. Ela conta que João Maia trancava-se no seu escritório para escrever, e não deixava ninguém entrar, a não ser sua gata de estimação.
O neto Joaquim, também era assim, ninguém tinha acesso a seus escritórios. Talvez por isso mesmo é que durante muito tempo, pouca gente soube dos seus preciosos manuscritos de sua autoria, e Joaquim Maia guardava no seu escritório, abordando diversos aspectos da história de Resende.
Além de crônicas de costumes da cidade no início do século. Entre esses tratados, podemos citar: Voluntários de Resende na Guerra do Paraguai; História da Santa Casa; Biografia de Alfredo Sodré; Rios e Pontes do Município de Resende; Coletânea de Provérbio, Sabedoria e Ditos Populares, Vgílios.
Isso aqui mostra realmente como o Joaquim era um filósofo nato.
Tinha uma memória prodigiosa. Contava histórias do seu tempo com uma riqueza de detalhes inigualáveis.
Nos últimos anos, Joaquim Maia foi se tornando apático, ao peso da saudade do passado que tanto o atormentava. Ele não reconhecia como sua cidade, desfigurada pelo progresso.
A Resende que ele insistia em manter viva na memória era aquela onde as ruas exalavam o perfume das flores, onde as portas das casas ficavam permanentemente abertas, onde os namoros começavam dentro das igrejas, durante as festas religiosas e eram alimentadas pelas belas serenatas e onde a luz do lampião à gás não ofuscava o brilho da Lua.
Joaquim Maia trabalhou durante muito tempo, no Cartório e na Caixa Rural.

CADEIRA N.º 10 –REYNALDO MAIA SOUTO
Reinaldo Maia Souto foi um homem de destaque tanto na sociedade Barreirense, Resendense e Itatiaiense.
Nascido aos 23 dias do mês de março de 1892 em São José do Barreiro; filho de Emília e Joaquim Maia Souto e passou sua infância na chácara da família em São José do Barreiro, sempre foi um homem que apreciou a natureza, exaltando a beleza dos pássaros e flores, que expressava através de seus manuscritos.
Suas primeiras letras foram aprendidas a domicílio. Aos 14 anos já demonstrava grande interesse pela profissão de farmacêutico, cabe aqui lembrar que esta profissão requeria muitos pré-requisitos, uma vez que não existiam os remédios industrializados, assim os que aspirassem a esta profissão deveriam aprender a manipular as matérias-primas que compunham os remédios, a fim de que pudessem atender a sua clientela.
Então, Reinaldo para aperfeiçoar-se, primeiramente, entrou para farmácia de Arthur Ribeiro de Oliveira e peregrinou muito no aprendizado da profissão por Bananal, Rio de Janeiro-A Capital Federal, São José da Boa Vista, Igarapava e finalmente formou-se na Escola de Farmácia de Pindamonhangaba.
Proprietário de farmácia tanto em São José do Barreiro como em Itatiaia, desenvolveu outras atividades paralelas a paixão pela farmácia; homem comprometido com seu tempo e sua comunidade, Maia Souto foi redator do jornal “O Barreirense” fundado em 10 de abril de 1924/1932 de propriedade de Antenor de Carvalho; foi subdelegado de polícia, vereador e presidente da Câmara (1926); um dos diretores da Santa Casa de Misericórdia de São José do Barreiro, diretor dão Rádio Clube Barreirense, Secretário do Diretório do Partido Republicano; um dos fundadores da biblioteca pública de São José do Barreiro, e finalmente Prefeito de São José do Barreiro (1927/1930). Seu mandato foi abruptamente interrompido pela Revolução Getuliana.
Reinaldo Maia Souto que era viúvo de Maria Cândida da Gama casou-se em 2 as núpcias com Albertina Soares Lara, onde teve uma filha, Glícia Maia de Almeida, onde lhe deu dois netos com a união com Adão de Almeida Filho - Cleverson José Maia de Almeida e Sandra Maria Maia de Almeida.
Em 1933, veio residir em Itatiaia, devido à conjuntura política nacional e também para dirigir os negócios dos Maias, pois a farmácia Campo Belo terminara de ser incorporada a firma Irmãos Maia da qual era sócio com os irmãos Oscar e Sebastião. Período que passou a escrever para o jornal “O CAMPOBELLENSE”, sendo seu redator chefe (1938).
A partir de 1941, Reinaldo passou a fazer parte do Instituto Genealógico Brasileiro, como sócio-contribuinte.
Reinaldo ressalta no livro História de São José de Barreiro de sua autoria, a importância de ser registrado os levantamentos das civilizações e da cultura para sabermos de onde viemos e para onde vamos, através do Instituto Genealógico Brasileiro com a cooperação dos governos da União, Estado e dos Municípios.
Reinaldo Maia Souto morava ao lado da farmácia, na Rua São José n0 64, onde hoje é a Chácara Pequenina, em homenagem a sua esposa Albertina. Como era o único farmacêutico do lugar dedicou-se incessantemente ao atendimento da população, sobretudo aos mais necessitados e crianças.
Reinaldo era tão dedicado que às vezes dormia vestido, pois se alguém necessitasse de seus cuidados a qualquer hora, este já estaria pronto.
Paralelo a vida cotidiana dos Itatiaienses, o Brasil passava por uma redemocratização, período que assume Dutra, no pós-guerra e já sob o signo da democracia, veremos então Reinaldo preparando-se para a volta a vida pública, interrompida pela ditadura Vargas.
Mostrando seu reconhecimento a população Campobellense o elegeu seu representante na Câmara Municipal de Resende, onde ocupou sua presidência por duas legislaturas, no período do Governo de Geraldo Rodrigues (12/10/1947 – 31/01/1951) e no Governo de João Maurício de Macedo Costa (31/01/1951- 31/01/1954).
Reinaldo conseguiu benefícios à Itatiaia com a ligação de água a Itatiaia, com a instalação da caixa abastecedora no alto da colina, local chamado como Vila Maia.
Através de seus discursos podemos ver a alma do filósofo, jornalista e escritor.
Ficou na política até 1955, mudando-se para Niterói em 1956, onde dedicou-se aos seus escritos.
A partir de 22/10 de 1958 passou a fazer parte do Cenáculo Fluminense de História e Letras na Cadeira patrocinada por Antônio Gonçalves Dias.
Em 1962 foi acometido de trombose o que roubou-lhe o encanto dos discursos, mas como Reinaldo mesmo anteviu “Povo de Itatiaia tenha a certeza de que velarei sem canseiras pelo vosso conforto material e moral, até que desta terra eu possa ausentar-me um dia, deixando alguma lembrança de minha passagem”, e assim o foi quando em 27/ 08/ 1967, já doente lhe foi conferido o título de Cidadão Resendense.
Em 17 de outubro de 1969 faleceu em Niterói nosso incansável amigo Reinaldo como diz o grande escritor Guimarães Rosa. “morremos para provar que vivemos”, e ninguém melhor do que Reinaldo deixou exemplo disto. Sendo Sepultado no Cemitério velho da terra em que nasceu.
E mais uma vez Reinaldo anteviu quando por solicitação da Ilma. Sra. Walda Walquíria Bruno, que era diretora de Ensino naquela época, pede ao Exmo. Sr. Prefeito Dr. Aarão Soares da Rocha que construa uma escola em Itatiaia e assim o foi e por sugestão do Dr. Aarão foi dado o nome à Escola de Reinaldo Maia Souto.

CADEIRA N.º 11 – SEBASTIÃO MAIA SOUTO
“ Seu Maia”, como muitos o conheciam aqui em Itatiaia, nasceu na pequena e aconchegante, São José do Barreiro, no Estado de São Paulo, aos três dias de Janeiro de 1901. Filho de Joaquim e Emília Maia Souto, perdeu o pai muito cedo, aos três anos de idade. Mas, foi um menino muito alegre, como ele mesmo dizia nos versos de sua autoria do soneto denominado Barreiro, que ora os declamo:
“Tranqüilo, repousando entre colinas:
Jaz meu Barreiro, humilde e pequenino,
Onde outrora vivi horas divinas,
Nos meus tempos saudosos de menino...

A fase mais feliz da minha vida,
Indiferente ao mundo e ao meu destino,
eu passei nesta terra tão querida:
O meu Barreiro, tão modesto e pobre,
Para mim, como é grande, como é nobre,
Que beleza, tão rara, que ele encerra!
Para mim, que o adoro tanto, tanto ele revela singular encanto:
- é o encanto de ser a minha terra!


Sendo o nono, dos dez filhos do casal Maia Souto, foi criado por sua mãe e seus irmãos mais velhos, que lhe guiaram com toda rigidez, princípios morais, pureza e amor pela terra; qualidades herdadas do pai do pai português, que pouco conhecera em sua passagem por esta vida.
Os Maias, sempre foram família ilustre da sociedade barreirense, cultivavam a terra, desenvolviam o comércio, eram ligados às letras, artes e a política.
Dos irmãos, Sebastião, era um dos que mais gostava de lidar com a terra e estar próximo à natureza.
Este dom, aliado ao fato de ter sido ele o caçula, entre os meninos, em uma família tão numerosa, fez com que a vida lhe tenha tirado a oportunidade de prosseguir em seus estudos, como outros irmãos que fizeram-se advogado e farmacêutico.
Apesar de não ter freqüentado as cadeiras de uma faculdade, era um homem culto e sensível, pois gostava muito de ler e estava sempre atento aos acontecimentos locais, do país e do mundo.
Em 1924, veio para Itatiaia a fim de trabalhar com seus irmãos, Reynaldo e Oscar, pois estes possuíam ponto comercial, que se situava onde é o Paço Municipal, ao lado da Prefeitura.
Assim que chegou a nossa cidade, iniciou a compra de terras, que naquela época abrangiam o que hoje compreendem os bairros, Vila Maia e Vila Magnólia.
O nome Vila Magnólia, foi sugestão do próprio Sebastião, que possuía em seu sítio, “ O CAMPO BELO”, uma árvore de flores vistosas e perfume inebriante, cujo nome era Magnólia.
Quanto ao Bairro Vila Maia, este na realidade não existe oficialmente nos mapas da Prefeitura, o que é questão apenas de regularização.
Os moradores do bairro já consagraram a existência deste bairro, em gratidão e reconheci mento a um homem, que somente para ajudar a quem possuía menos do que ele, foi vendendo partes de suas terras, por quantias quase irrisórias.
Mas, o destino deste jovem estava mesmo no Distrito de Campo Belo, pois logo encontraria sua outra metade, refere-se à senhorita Maria Nazareth Nunes de Almeida, cujos pais, Manoel Francisco de Almeida e Isaura Nunes de Almeida vieram de São Vicente Ferrer, Estado de Minas Gerais para trabalhar na Fazenda da Serra, propriedade pertencente à família Cotrim. A união dos dois, que fizeram de Itatiaia sua segunda terra natal, no dia 20 de Janeiro de 1928, na cidade de Aparecida do Norte. E como era de se esperar do sangue dos Maia, foram cúmplices desse amor, dezesseis filhos: Sebastião, Maria Nazareth, Eneida, Alcir, Célia, Lélia, Selma, Dulcinéia, Clarice, Décio, Márcio, Milton, Alcimar, José Carlos, Maria Auxiliadora e Carlos Alberto.
Após se casarem, Sebastião e Nazareth, tiveram residência próxima ao armazém dos Irmãos Maia, até que sua casa, no sítio Campo Belo, ficasse pronta, em meados de setembro de 1933.
No sítio Campo Belo, Sebastião viveu até seus últimos dias e criou seus filhos com os frutos que a terra pode nos dar e muito trabalho.
Dizia ele, já em idade avançada, sobre o trabalho:
“O trabalho era o meu divertimento,
Trabalhar, já não posso nesta idade...
Por isso agora é meu maior tormento
Passar a vida na ociosidade.”

Além dos animais que criava, mantinha canteiros de verduras e hortaliças, e organizou com muito carinho, um pomar, que era sua menina dos olhos. Pois, muda por muda, foi adquirindo através de encomendadas feitas à revista Chácaras e Quintais, da qual era colecionador.
Importantes aspectos eram importantes em sua personalidade: a de homem ligado à terra e à vida, pois em sua biblioteca particular podia-se encontrar uma verdadeira coletânea agrícola e zootécnica.
Uma outra faceta que podia-se vislumbrar, era seu amor e paixão pela sociedade e pelo arranjo que as palavras podem ter em um verso, a poesia.
Por mais que Sebastião, tenha dito que era apenas um versejador comum, as evidências mostram o contrário. Pois, todos que um dia o ouviram declamar ou já leram seus sonetos, que eram sua especialidade, sabem que seus versos possuíam inteligência, espírito e perspicácia.
Segundo ele, seus versos era uma forma de exteriorizar seus sentimentos de dor, decepções, incompreensões, que a cada passo se apresentam em seu caminho. Em carta, que mais parece uma melodia, escrita por ele à poetisa Maria Amélia Alves, dizia:
(... ) ”Não tenho pois, interesse em projetar-me como poeta.
Vivi sempre na penumbre e quero permanecer, direi pois ao Aparício:
Não pretendo aparecer.
“É uma verdadeira festa, tão amena e sossegada, viver mergulhado nesta glória imensa de ser nada.”
Ao conversar com Maria Amélia Alves, sua grande amiga dos versos, pois era para quem ele os enviava, a fim de corrigi-los e colocar as pontuações, certa vez ela confidenciou: “Sr. Sebastião era muito humilde, dizia que suas poesias não estavam à altura de serem conhecidas. Mas, disse a ele: o que é bonito, precisa ser mostrado”.
Sua sutileza era tanta, que em publicações locais podíamos encontrar poesias escritas por ele, mas sob o pseudônimo de “João do Morro”, pois esta era a maneira de Sebastião manter-se incógnito.
Após uma vida dedicada à confecção de poesias, é chegado o momento de ser quebrado este anonimato.
Por intermédio de seus sobrinhos Glícia Maia de Almeida, Hortência e Altamiro Lara, foi feita publicação do livro “Crepúsculos dos Sonhos”, em 1984, com uma parte de sua produção poética. As 35 poesias, ainda inéditas, precisam tornar-se públicas, para que os Itatiaienses conheçam o gênio criador de Sebastião Maia Souto. O espírito poético deste homem se apresentava a todo o momento em seu lado espiritualista.
Depois de ter se tratado com três médicos, sem resultado e estando quase impossibilitado de andar, devido a uma coceira nos pés, resolveu pedir auxílio aos “irmãos do espaço”, como assim denominava os espíritos.
Através de uma irmã espiritual, relatou seu problema em uma poesia, a qual é transcrito neste momento:
“Maldita coceira
Oh! Que coceira maldita
Que me fez deseperar
Eu sinto minha alma aflita
De tanto, de tanto coçar
.....................................

É uma luta insana nossa
Coçar em todo lugar
Quanto mais a gente coça,
Mais a gente quer coçar.

---------------------------------

Talvez a gente nem possa
Esta coceira agüentar
É um constante coça, coça
É um desejo de coçar.

Já estou ficando com medo,
A coisa é de arrepiar,
Coça na ponta dos dedos,
Coça até no calcanhar.

-----------------------------------

Neste constante penar
Deste coçar quase eterno
Peço a coceira ir coçar
Nas profundezas do inferno.

Quando se começa a falar de Sebastião Maia Souto, não é coisa fácil de ser realizada, pois sempre se depara com algum fato novo.
Não poderia deixar de relatar, o Sebastião envolvido na política local, juntamente com seu irmão Reynaldo.
Chegando a se candidatar duas vezes a cargo de vereança e mesmo depois, que não mais lhe interessava ocupar uma cadeira política, era sempre procurado por políticos da região, devido a sua grande influência na comunidade Itatiaiense.
Após nos tornarmos município, foi justo o reconhecimento desta cidade, que um dia carinhosamente o acolheu. Através da Câmara Municipal de Itatiaia, Sebastião Maia Souto, recebeu o título de Cidadão Itatiaiense, a 22 de Maio de 1990, por mais de meio século aqui vividos em prol do engrandecimento desta terra. Nesta época, já encontrava-se enfermo e a 7 de junho de 1990 fez sua passagem “ao sublime raiar de nova aurora”, do soneto Ave Norte, de Sebastião Maia Souto.
Após a partida de seu espírito, foi novamente homenageado por esta Casa em que ora nos encontramos, com o título de Mérito Cultural, pelo seu talento inventivo em fazer desta vida uma poesia e da morte uma esperança.

CADEIRA N.º 12 – DR. ROBERTO BERNARDES COTRIM

Roberto Bernardes Cotrim, oitavo entre nove irmãos, viveu durante 75 anos. Nascido no dia 3 de agosto de 1894, morreu na Santa Casa de Misericórdia de Resende, a 11 de agosto de 1969.
De sua mãe, Rosa Emília Mendes Bernardes, filha de Santana dos Tocos, provavelmente herdou o amor às raízes e um grande apego a este chão. De seu pai, Eduardo Augusto Torres Cotrim, engenheiro, nascido e educado no Rio de Janeiro, culto e empreendedor, deve ter herdado sua visão ampla e cosmopolita do mundo e da história.
Sua vida, intensamente integrada aos fatos que plasmaram a época em que viveu, reflete esta origem, onde o amor à sua terra e a inserção no mundo se misturam para moldar sua maneira de ser.
Aos sete anos foi para o colégio São Luís de Itu, SP onde recebeu dos padres jesuítas a educação básica. Em 1917 forma-se médico pela faculdade de medicina do Rio de Janeiro e inicia sua vida profissional no serviço de profilaxia rural do estado em São Gonçalo.
Em 1918 entra para a fundação Rockefeller que cuidava da saúde pública em todo mundo e vem irônica e propositalmente trabalhar em Resende, ajudando a debelar a anquilostomiase que grassava na época. Para tanto, contava, andou a cavalo por todos os cantos e recantos do município, dadas as precárias condições de locomoção de então.
Em 1923, casa-se com Graciema Carvalho da Silveira, com quem teve quatro filhos, e decide se transferir para o interior de São Paulo para trabalhar com seu primo Carlos Cotrim Berla em Monte Alto, onde pode desenvolver sua experiência clínica. Com a crise de 1929 volta a Resende e funda o primeiro laboratório de análises da cidade, ajudado por sua mulher.
Em 1930, no mesmo ano em que se processava no país uma profunda reviravolta com o fim da República Velha, por consenso familiar, assume o controle da Empresa Agro-Pecuária e Resende S/A criada por seu pai em moldes pioneiros para este tipo de atividade, com a administração da fazenda, e das usinas de pasteurização de leite e de geração de energia elétrica.
Torna-se administrador e fazendeiro, se interessa pela política e continua médico por insistência dos clientes que não deixam de lhe solicitar atendimento.
Em 1934 já estava intensamente envolvido na política e, no ano seguinte é convidado para exercer o cargo de secretário da Agricultura, Viação e Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, pelo então governador Almirante Protógenes Guimarães.
Corre todo o estado e para Resende, proporciona a primeira reforma da ponte metálica e o acesso rodoviário para Engenheiro Passos, iniciando um trecho fundamental do que mais tarde se constituiria num elo da chamada estrada Rio Caxambu e a ligação rápida aos municípios paulistas vizinhos de Queluz e Cruzeiro. Ainda neste cargo ajudou a instalação das duas novas comunidades de imigrantes que se fixavam no município: os finlandeses em Penedo e os judeus na Fazenda da Barra.
Com o golpe de 1937 afasta-se da Secretaria e retorna à fazenda.
Na década de quarenta, a da criação de Volta Redonda e da Academia Militar das Agulhas Negras, do final da segunda guerra mundial e do início da implantação da Rodovia Presidente Dutra, a região se transforma. Para Roberto é também a década em que ele decidiu, para diversificar as atividades empresariais, construir o Hotel Fazenda da Serra aproveitando a forte vocação da região para o turismo, ao mesmo tempo em que procurava contornar as agruras do produtor brasileiro de leite, há muito conhecidas de todos. Foi também a época em que expirou a vida da Empresa com a divisão dos bens entre os herdeiros, muitos já da segunda geração, o que em 1947 chegou a bom termo apesar das normais dificuldades dessas situações.
Conduzindo seu próprio negócio, Roberto não deixou de participar ativamente da vida comunitária. Como empresário na condução das cooperativas dos produtores de leite de Nhangapi e de Resende, e como cidadão na vida políticas partidária (foi candidato a deputado federal pela UDN nas eleições de 1946) ou participando ativamente do Rotary Clube de Resende do qual foi presidente por três vezes.
Dessa fase recorda-se bem das discussões envolvendo os apertos do produtor de leite, das chamadas para atender os arigós que constituíram a Via Dutra ou a linha de retificação da Central do Brasil, das controvérsias que envolviam a política local, nacional ou internacional, dos sonhos de construção de uma nova realidade, dos quais tratava em seus discursos para o Rotary ou em outras oportunidades públicas. Eram temas ligados à proteção do solo ou à recuperação das pastagens; era a importância das granjas da agricultura e da pecuária intensivas; eram os pleitos para dotar o município de energia elétrica farta e barata; era o empenho para atrair indústrias, aproveitando nossa posição estratégica entre Rio e São Paulo.
Roberto morreu há vinte e cinco anos. Muito do que temos hoje ele viu, mas pressentiu de modo nítido e correto. Participou e contribuiu decisivamente para o que hoje somos: curando, fazendo, pregando...
Não quero deixar de aproveitar a oportunidade para registrar alguns traços de sua personalidade.
Homem inteligente, de excelente memória, tinha o espírito de associação e síntese o que lhe proporcionou fazer acertadamente os diagnósticos na profissão que escolheu.
Acumulou invejável cultura geral e se interessou por tudo que via e ouvia: era uma espécie de enciclopédia ambulante.
Liberal em política no sentido genuíno do termo, foi tolerante e magnânimo, não poupando esforços para ajudar amigos e parentes perseguidos em períodos autoritários.
Tinha fácil comunicação, apreciando e se dedicando cuidadosamente à oratória, sinal de sua preocupação com o bom relacionamento com os outros.
Apaixonado pelas viagens, cruzou várias vezes o maciço do Itatiaia em lombo de burro ou cavalo pelas fragárias e campos redondos, ou a serra da Bocaina até o morro do Tira Chapéu.
Com a chegada do automóvel ia no seu Ford Sedan frequentemente ao sul de Minas Gerais a pretexto de visitar parentes ou simplesmente tomar água mineral. Mais tarde cruzou o país por estrada de terra do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Para sair do país, vendeu parte de seus bens e pode experimentar, no final dos quarenta e durante os anos cinqüenta, visitas a Argentina e ao Chile, à quase toda a Europa e aos Estados Unidos, Canadá e México.
Amante da vida e profundamente humano, adorava a boa comida, os banhos de rio no verão e as moças bonitas. Não bebia mas tinha seus vícios: o cigarro e o jornal. Dirigir era um de seus fracos, mas era emérito barbeiro por ser distraído demais.
Distraído e irritável, aprontava grandes gritarias e pouco depois se arrependia e se acalmava voltando à tranqüilidade e à realidade de seu coração.
Foi respeitador e respeitado, leal aos seus amigos e hábil negociador. Acompanhou o seu tempo.
Criado no clima da decadência do café no vale do Paraíba, mudou-se para a vizinhança da terra roxa acompanhando esse nosso notável colonizador.
Enfrentou a transição dos anos trinta com o recurso que se dispunha: a pecuária leiteira.
Abriu-se para uma de nossas permanentes vocações, proporcionada pela prodigalidade da natureza – a paisagem e o clima – envolvendo-se com o turismo. E batalhou pela modernização de nossa terra com o aproveitamento da situação geográfica para a implantação industrial.
Contribuiu decisivamente como integrador dos novos grupos que para aqui vieram: estrangeiros, militares, empresários e, como orador deu seu recado à nossa vida cultural.

CADEIRA N.º 13 – DR. AMADEU DE OLIVEIRA ROCHA
Nasceu em 13 de junho de 1936 na cidade de Montes Claros – MG.
Faleceu no dia 06 de setembro de 1987, após um dia de intenso trabalho, participando de um corpo a corpo pelas ruas de Itatiaia, envolvido com a população, por nossa emancipação, pedindo aos eleitores que votassem pelo SIM. Teve participação destacada na condução do processo de Emancipação de nossa cidade, defendendo vigorosamente na Assembléia Legislativa de nosso Estado o nosso sentimento de libertação e autodeterminação que culminou com a nossa vitória. Oriundo de família pobre, foi educado em um seminário e a seguir vai para São Paulo, onde, trabalhando e estudando consegue graduar-se em Direito.
Atendendo a sua vocação, ingressa na Política. Logo após, segue para a Alemanha onde realiza curso de Pós-Graduação e retorna ao país. A seguir, ingressa no Partido Socialista Brasileiro, onde foi seu dirigente por muitos anos. Foi aluno e professor do I.S.E.B (Instituto Superior de Estudos Brasileiros). Contestando o Regime Militar implantado em 1964, foi preso por duas vezes. Humilhado e torturado, foi condenado pelos institucionais impostos à Nação; os que não comungavam com o Regime de Nulidade de Arbítrio Democrático, tinham sumariamente seus direitos cassados e seus destinos poderiam ser o cárcere privado, o exílio, a proscrição da vida pública ou até mesmo a morte.
Anistiado em 1979, retorna a atividade política pela corrente social trabalhista, representada pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT.
Destacou-se no governo fluminense – 1983/87, nos cargos de sub-secretário de Administração, sub-secretário de Governo.
Foi também Secretário de Administração do Município do Rio de Janeiro.
Sua presença na Assembléia Legislativa Fluminense foi brilhante como Deputado no transcurso da legislatura 1983/87, onde apresentou diversos projetos, sempre de interesse social.
Marcante foi sua atuação como Presidente da Comissão de Constituição e Justiça da ALERJ, assegurando-lhe admiração e respeito dos colegas Deputados, independente de Partido e ou tendência ideológica.
Entre nós – Itatiaienses – Amadeu Rocha – está indelevelmente perpetuado em nossa memória histórica por sua participação incontestável em uma etapa – a mais importante, sem dúvida – de nossa vida política: “A EMANCIPAÇÃO DE ITATIAIA.”
Amadeu de Oliveira Rocha faleceu aos 54 anos de idade.
DADOS DE SUA VIDA PÚBLICA:
- Deputado Estadual pelo PDT(1982);
- Sub-secretário estadual de Governo (com Leonel Brizola);
- Sub-secretário estadual de Administração (com Leonel Brizola);
- Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro;
- Secretário Municipal de Administração da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (1987);



AÇÕES POLÍTICAS
- Participação no Movimento Político Nacional de 1964, combatendo a Ditadura Militar;
- Atuou na Guerrilha de Caparaó, em Minas Gerais;
- Preso político por oito anos;
- Direitos políticos suspensos por 18 anos;
- Viveu no exílio, em diversos países da América;
- Em 1982, retornou ao Brasil e à vida pública, elegendo-se Deptuado Estadual;
- Membro do Diretório Nacional do PDT;
- Em 1984, encaminhou o Projeto Pró - Emancipacionista de Itatiaia, junto a ALERJ;
- Juntamente com os líderes emancipacionistas, lutou pela autonomia político-administrativa do então 4º Distrito de Resende – (Itatiaia).
- Faleceu a caminho do Rio de Janeiro, vítima de infarto, na madrugada do dia 6 de setembro de 1987, manhã em que seria votado o Plebiscito, pelo povo de Itatiaia.
- Participou da Campanha do Plebiscito (Votar SIM), pelas ruas de Itatiaia.



TRÂMITES LEGAIS:

A LEI n.º 1.330, de 06/07/1988, cria o Município de Itatiaia, sancionada pelo então governador Wellington Moreira Franco.
Antecedentes a essa lei, configuram registros dos trâmites legais que resultaram nessa conquista:
No dia 14 de agosto de 1985, o secretário de Estado da Fazenda, César Epitácio Maia, enviava a arrecadação do Distrito de Itatiaia ao Deputado Federal, Denisar Arneiro.
Em 2 de outubro de 1985, sob o ofício n.º 37/85, cumprindo a delegação da Comissão Pró – Emancipacionista de Itatiaia, o Dr. Amadeu Rocha solicita as providências estabelecidas na Lei Complementar Federal, a fim de que a vontade da população local fosse atendida por aquela Assembléia Legislativa, em pedido ao Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, na época, Dr. Eduardo Chuahy.
Em 07 de maio de 1986, o Deputado Átila Nunes, líder do PMDB, no Rio de Janeiro, envia telex ao Ex.mo. Sr. Desembargador Olavo Tostes Filho, Presidente do Tribunal Regional Eleitoral solicitando as informações indispensáveis para subsidiar o requerimento de emancipação de Itatiaia.
Outro telex pelo mesmo deputado foi enviado ao Sr. Edmar Bacha – Presidente do IBGE de igual teor.
No dia 28 de maio de 1986, sob o ofício CCJ/19/86, o Deputado Amadeu Rocha encaminhou um pedido ao Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro solicitando um encaminhamento de ofício ao IBGE para que os dados dos LIMITES fossem oficialmente confirmados e enviados ao andamento do Processo de Emancipação de Itatiaia. Em 28 de maio de 1986, Claudio Salm, Diretor de População Social do IBGE, enviava a CERTIDÃO comprobatória dos Limites de Itatiaia. Em 6 de outubro de 1986 sob o ofício de n.º 52, o Deputado Amadeu Rocha dirigido ao Presidente da Assembléia Legislativa solicitando providências para que, em 08(oito) dias, fosse tomada uma decisão. Sob a resolução n.º 621, de 1986, de 1986, determinava-se a realização de plebiscito para consulta à população da área correspondente à Itatiaia, para elevação da região à categoria de município, por autoria do Deputado Eduardo Chuahy, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
Em 30 de abril de 1987, o Deputado Estadual Luiz Henrique Lima enviava moção de congratulações aos moradores do distrito de Itatiaia, município de Resende, em luta pela sua emancipação. Em resposta à obscura panfletagem feita anteriormente, uma carta à população de Itatiaia foi distribuída pela consolidação da Itatiaia emancipada, unida, forte e progressista, escrita por George Waldemar Fusco, Christiano Ribeiro e Alda Bernardes de Faria e Silva. Sob o processo n.º 1231/85 – classe x/795 – recurso s/nº - Rio de Janeiro – João Carlos Lisboa Besouchet entrou com impugnação ao resultado da consulta plebiscitária à criação do município de Itatiaia. Por decisão unânime da justiça esse pedido foi desconsiderado.
O Presidente da Câmara Municipal de Resende na época, Iskandar Hanna Arbache, sob o ofício n.º 678/pcr/87 envia moção de pesar à ilustríssima senhora Vera Rocha, deferimento o requerimento n.º 070/87, da autoria do vereador Pedro de Souza Rangel.
CADEIRA N.º 14 – DRA. BERTHA MARIA JÚLIA LUTZ
Filha do cientista Dr. Adolpho Lutz, pioneiro no campo da Medicina Tropical e Zoologia Médica no Brasil. Seus avós paternos eram suíços e os maternos descendentes de ingleses.
Sua progenitora, D. Amy Fowler, conheceu o Dr. Adolpho Lutz no Hawai, onde era enfermeira voluntária no Hospital de Leprosos.
Dra. Bertha Lutz nasceu em São Paulo, em 02 de agosto de 1894. Seu único irmão, Dr. Gualter Lutz, foi professor de renome, ocupando a cátedra de Medicina legal da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil.
Dra. Bertha Lutz teve sua formação primária e secundária em São Paulo, mas no último ano do secundário, seguiu para Paris, onde a concluiu em 1914, ingressando a seguir no curso superior na Faculdade de Ciências da Universidade de Sourbone, em Paris de 1915 a 1918, durante a I Guerra Mundial. Ainda em 1918, de volta ao Brasil, foi contratada como tradutora do Instituto Osvaldo Cruz, passou a auxiliar o Dr. Adolpho Lutz, na organização do Museu de Zoologia.
Ingressou como secretária do Museu Nacional em 1919, após concurso, classificando-se em primeiro lugar, sendo a Segunda mulher a ocupar um cargo público por nomeação. Exercendo a função até janeiro de 1936, sendo então promovida a Naturalista, subindo por promoção até 1938, encerrando como Zoóloga no Museu Nacional da Universidade do Brasil até 1963, quando saiu na compulsória.
Dra. Bertha Lutz, Zoóloga, jubilada do Museu Nacional, Professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro, durante sua carreira como Naturalista Pesquisadora, foi bolsista e coordenadora do Conselho Nacional de Pesquisa.
Publicou inúmeros trabalhos no Brasil e no exterior, inicialmente em companhia de seu pai Dr. Adolpho Lutz, e inicialmente em companhia de seu pai Dr. Adolpho Lutz, e mais tarde, desenvolveu assuntos sobre Botânica, Biologia, Herpetologia, além de outros assuntos relacionados com os direitos da mulher. Vários trabalhos de sua autoria figuram em obras publicadas nos Estados Unidos, sobre animais do Brasil para enciclopédia popular e um capítulo sobre anfíbios e animais venenosos. A Universidade do Texas imprimiu sua obra sobre batráquios (Hylas), com pranchas coloridas de slides produzidos pelo Professor Gualter Lutz, seu irmão. Dra. Bertha Lutz viajou por todo o Brasil a procura dos Anfíbios pelos quais tinha verdadeira adoração.
No Itatiaia, chegou em fevereiro de 1947; trazendo uma autorização do Ministro da Agricultura para coletar nesta região.
A Dra. Bertha Lutz visitou o Itatiaia ainda em 1950, 1951 e 1957, publicando cinco espécies novas, além de coletarmos mais de 60 formas geográficas nesta região. Dra. Bertha Lutz, desde cedo se preocupava com a emancipação da mulher, recém chegada de Paris, liderou a campanha pelo voto feminino; em 1919, fundou a Liga para Emancipação Intelectual da Mulher. Neste mesmo ano, o Senador Justo Chermont apresentou o projeto em favor do voto feminino. Em 1922, voltando da primeira Conferência Pan-americana de Mulheres, convocada pela Liga Nacional de Eleitoras dos Estados Unidos, em Baltimore, Dra. Bertha Lutz fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, da qual é Presidenta Perpétua. A essa entidade, a mulher brasileira deve grande parte dos direitos que usufrui, pois dos 50 anos de campanha resultou a maior parte desses direitos. A campanha durou até 1928, quando inaugurou-se o voto feminino no Rio Grande do Norte, graças a interpretação correta da Constituição Federal. Em 1931, após o segundo Congresso Feminista, obteve-se o apoio do Presidente da República Getúlio Dornelles Vargas para o voto feminino, seguido de várias senhoras da sociedade brasileira. No final da Revolução de São Paulo, foi nomeada com outra mulher, Dra. Natércia da Silveira, para fazerem parte da Comissão que elaborou o anteprojeto da Constituição de 1934. Neste trabalho foram aprovadas medidas de igualdade de direitos políticos da mulher e proteção à maternidade. Em 1936, a Dra. Bertha foi eleita Deputada Federal e apresentou outro projeto: “Departamento de Maternidade, Infância, Trabalho Feminino e Lar”, sendo aprovado em primeira e segunda discussões., entretanto, não sancionado em função do fechamento do Congresso(1937) por Getúlio Vargas. Presidiu também a Comissão de Estatuto da Mulher, propondo novas leis a seu favor.
Foi delegada Titular do Brasil na comissão Interamericana de Mulheres. Em 1956, foi eleita “Mulher das Américas”. Representou o Brasil em muitos Congressos no exterior, inclusive na Conferência de São Francisco, que fundou as Nações Unidas, sendo uma dos oito Delegados Plenipotenciários do Brasil. Com exceção do princípio de igualdade de direitos do homem e da mulher, constantes do Preâmbulo, redigido pelo Primeiro Ministro da África do Sul, todas as medidas de igualdade prática entre os homens e mulheres existente na Carta das Nações Unidas, foram propostas por Bertha Lutz, em nome do Brasil, e com apoio das outras mulheres latino-americanas presentes à Conferência. Também foi ela quem propôs a criação Comissão do Estatuto da Mulher das Nações Unidas. Por esse motivo recebeu da Federação Americana de Clubes Soroptimistas, o título e um prêmio como “A Mulher que mais fez nos últimos 25 anos”.
Por iniciativa de Bertha Lutz foi realizada(junho de 1972), em San Cristobal de Las Casas, México, o Seminário sobre problemas da mulher indígena, que ela propôs em forma de simpósio à XV Assembléia da Comissão Interamericana de Mulheres, em Bogotá, sendo eleita Vice Presidente, onde sua mensagem ao certame, dizia que na velhice lhe pesava na consciência, o fato de nada ter feito pelas mulheres das tribos indígenas, a parte mais desamparada da população feminina do Continente Americano. Uma de suas últimas missões em favor da mulher, fez parte da delegação que representou o Brasil na Conferência das nações Unidas, México, sobre o ANO INTERNACIONAL DA MULHER. (junho/julho, 1975).


CONDECORAÇÕES E TÍTULOS
Foi condecorada pelo Rei da Bélgica, Alberto I, em 1923, por serviços à agricultura. Em 1929, com a Ordem da Cruz Vermelha, pelo Presidente Hindenburg da Alemanha. No fim da I Guerra Mundial, foi agraciada pelo Rei Jorge VI da Inglaterra com a medalha Real, por serviços à Causa da Liberdade. Recebeu o grande Oficialato da Ordem de Juan Pablo Duarte, da República Dominicana (1956) e a Medalha Lauro Muller, do Itamaraty (1967). Também a medalha Marechal Cândido Rondon, da Sociedade Geográfica de São Paulo. Foi membro da Academia Internacional de Zoologia, da Sociedade de Zoologia de Londres e do Natur-Museum Senckenberg de Frankfurt, na Alemanha (1969). Recebeu a Ordem do Mérito pelo Ministério da Educação, a medalha da Primavera como cientista, e eleita Cidadã Carioca. Foi Cidadã Honorária do Estado do Texas, e Dra. “Honoris Causa” de Mills College, da Califórnia, USA.
Dra. Bertha Lutz, faleceu em 15 de setembro de 1976, falava quatro idiomas, caracterizava-se por sua personalidade marcante, sendo reconhecida internacionalmente, dedicando sua vida ao estudo das Ciências Naturais. As homenagens que lhe foram conferidas dignificam a mulher brasileira, conduzindo-a ao mais alto degrau, jamais conquistado por outra mulher no Brasil.

CADEIRA N.º 15 – JOÃO NUNES DE ALMEIDA
Nasceu em 08 de fevereiro de 1905, filho de Manoel Francisco de Almeida e Isaura Villela Nunes de Almeida, mineiros do Sul de Minas Gerais e descendentes das famílias Barão do Rio Verde e Villela Nunes.
Era neto paterno de Francisco de Almeida (português) e de Leopoldina Augusta de Almeida e neto materno de Cornélio Villela Nunes e de Virgínia Nunes.
Era o filho mais velho de uma família de sete irmãos. São eles: João Nunes de Almeida, que faleceu quando ainda se encontrava no Exército com a patente de coronel; Maria Nazaré de Almeida; Moacir Nunes de Almeida; Geraldo Nunes de Almeida; Nair Nunes de Almeida e Maria Aparecida de Almeida.
O senhor Manoel, pai de João Nunes, era administrador em fazendas no sul de Minas Gerais.
Homem de quase nenhuma instrução acadêmica não desejava o mesmo destino para os filhos e assim quando João atingiu uma certa idade foi levado para o Colégio São Joaquim de propriedade de seu avô materno, o professor Cornélio Villela Nunes, para iniciar seus estudos e de onde regressava somente no período das férias escolares.
Era costume do avô instruir através da música e isto o aproximou mais do neto.
Quem sabe deva-se a isto alguns traços marcantes de sua personalidade e também a organização da banda de música que possuíam.
Tempos depois a família veio residir no Hotel Vila Forte, em Engenheiro Passos, a pedido de tia Liça, que era gerente do mesmo.
Transcorridos três meses vieram trabalhar na Fazenda da Serra, de propriedade da Família Cotrim onde, segundo consta, os filhos viriam auxiliar o pai nas “coisas da roça” (palavras de Maria Nazaré de Almeida).
Entretanto, o nosso querido João Nunes não gostava dos trabalhos pesados, preferindo a leitura e a escrita, atividades estimuladas pela mãe Isaura.
Isso fez com que ainda jovem viesse trabalhar em um armazém em Floriano, município de Barra Mansa, tutelando seus irmãos Geraldo e Maria Nazaré durante o período que ali permaneceu.
Com o falecimento de seu pai, veio para o antigo “Campo Belo”, que hoje é Itatiaia, para cuidar dos irmãos menores e responsabilizar-se pelo armazém de secos e molhados de propriedade da família. Este armazém ainda existe e hoje é de propriedade da Família Camejo.
Foi convidado para trabalhar como auxiliar no Cartório de Registro Civil e em 1929 foi nomeado Tabelião e Escrivão do Registro Civil de Itatiaia, cargo que exerceu com muito respeito e dignidade até o ano de 1976.
Era uma pessoa de grande expressão em função do que representava na sociedade da época. O homem político só veio a ter projeção a partir de 1955, até então o que o marcava era a forma respeitosa e humana com que tratava a todos.
Ao se falar de João Nunes os adjetivos são sempre de bondade, de honestidade, caridade, responsabilidade.
Era, sobretudo, humano! Esta forma de tratar as pessoas talvez se deva às suas origens e do desejo de amenizar o sofrimento daqueles que o procuravam.
Durante o período que permaneceu como tabelião fazia muitos atendimentos e registros gratuitamente e, que nesta época também foi Representante/Agente do Banco Fluminense da Produção, este, situava-se onde é hoje a Farmácia do Dito à Rua Prefeito Assumpção.
Como bom mineiro gostava de política e na política da época foi representante do partido do governo: PSD. Foi eleito Vereador por dois mandatos: 1955/1959 e 1967/1971.
Sendo que, no segundo mandato, exerceu a função de Presidente da Câmara durante os anos de 1967 e 1968, numa época em que a Vereança era gratuita. Era muito respeitado por seus pares, correligionários e adversários.
Seu esforço em representar a Vila de Itatiaia junto à Câmara Municipal de Resende fez-se presente através dos vários requerimentos e contatos com governadores, deputados e prefeitos. A sua tarefa não fácil, pois através das atas ficou claro como a nossa “Vila sempre foi uma pedra nos sapatos de Resende.”
Sua grande preocupação durante o período em que representou Itatiaia foi buscar melhorias tanto na área da saúde como na área de saneamento básico e infra-estrutura e também na inspeção veterinária do gado abatido aqui.
Deve-se ressaltar que pela sua tradição política sempre lutou por uma prefeitura em nosso distrito, pela emancipação social e política de nossa gente.
Felizmente antes de falecer pode ver o processo de emancipação.
Foi um grande admirador do ilustre comandante Ernani do Amaral Peixoto, então governador do Estado do Rio de Janeiro, de quem era amigo pessoal.
Juntamente com o sr. Reinaldo Maia Souto, pôde conseguir daquele relacionamento, a construção do Grupo Escolar “Ezequiel Freire”, que até hoje ainda funciona em nosso município, e também a criação do primeiro serviço de água para Itatiaia.
Participou de vários clubes e entidades sociais do município, tais como a Maçonaria, o Lions e o Rotary.
João Nunes casou-se com Perseveranda Gomes de Macedo, de tradicional família Itatiaiense. Desta união nasceram cinco filhos: Haroldo, Laís, Almir, Marlie Sueli.
Era um pai atencioso e cuidadoso, sempre teve uma atenção especial com os filhos e esposa possuía um humor sutil, fazia do almoço de domingo um dia especial para apreciar os dotes das meninas.
Nutria pela esposa um amor sereno e equilibrado, ela por sua vez não escondia o ciúme que sentia, deixando claro nos mimos a atenção a ele dispensada nos detalhes do dia-a-dia.
Era um homem bonito, esguio, sempre elegante e muito cortês. Segundo a filha Marli, ele era “um peixão” e era óbvio que a mãe pequenininha deveria sentir ciúme.
Membro da Igreja Católica veio falecer aos 82 anos de idade em 20 de abril de 1987.
E mais uma vez a vida demonstrou o amor que uniu Perseveranda, que já estava doente, veio em menos de um mês também a falecer e dizia em seus últimos dias que estava com saudades e queria unir-se ao marido.
Podemos então usar as velhas palavras da igreja, tantas vezes proferidas e tão pouco seguidas: “O que Deus uniu o homem não separa.”
Creio que o grande amor que uniu D. Perseveranda e o Sr. João Nunes aqui na terra ainda os une em outra vida. Espero que a alegria deste momento possa estar sendo compartilhada com vocês.
Sua antiga residência fora construída pelo oficial do exército João Zane, que trouxe o material todo da Europa, especificamente de Portugal, como telhas, azulejos.
Curiosamente abriu-se um desvio da estrada férrea para que se fizesse chega-los mais facilmente.
Tempos mais tarde, depois de servir de residência para os Bernardes, foi vendido ao Sr. João Nunes.

CADEIRA N.º 16 – VISCONDE DE MAUÁ
Nasceu em um rincão de Arroio Grande no Sul do Rio Grande do Sul, a 28 Dezembro de 1813, em modesta casa de um só cômodo, com alicerce de pedras, paredes de taipa e teto de capim seco.
Descendente de açorianos, seu pai o criou nas lides da campanha gaúcha até aos cinco anos.
Com o assassinato do progenitor, ficou aos cuidados da jovem viúva, sua mãe Dona Mariana.
Sob orientação materna, o menino Irineu aprendeu as letras, os números, e a fazer contas, diferenciando-se assim dos garotos de sua idade que só trabalhavam no campo.
Foi a primeira mudança de rumo da sua vida.
Ao completar nove anos, um seu tio, capitão de navio costeiro, obteve permissão de Dona Mariana para levá-lo embarcado para o Rio de Janeiro, o que marcou a segunda mudança de vida.
O tio, conhecido de um dos maiores negociantes do Rio, Pereira de Almeida (mais tarde, Barão de Ubá), deixou-o aos cuidados do comerciante e o menino Irineu iniciou-se fazendo pequenos trabalhos no armazém.
Observador, inteligente e curioso, o ajudante de armazém ou caixeiro começava uma meteórica carreira comercial e ascendendo já aos quinze anos era o empregado de confiança do patrão.
Aos dezesseis passa a gerir os grandes negócios como guarda-livros.
Retirando-se Pereira de Almeida do Rio, o rapaz Irineu foi trabalhar com o escocês Richard Carruthers. Com Carruthers o jovem aprendeu o inglês e as regras da economia inglesa, muito diferente das normas comerciais que aprendera. Tornou-se perito em contabilidade manejada habilmente o complicado câmbio de libras em mil-réis e vice-versa, bem como as complexas aplicações do capital nos negócios de alto vulto. Nesta ocasião ingressou na maçonaria, aumentando enormemente o seu círculo de conhecimentos.
Ao se retirar dos negócios, ou se aposentar como se diz hoje, o seu patrão e amigo Carruthers, promove o moço Irineu, que tinha 22 anos, como sócio.
Aos vinte e seis anos Irineu vai à Europa, onde observa o mundo britânico dos grandes negócios e dos grandes empreendimentos industriais.
Em 1841, com 27 anos se casa com uma prima de 15 anos. Teve dezoito filhos, mas nem todos vingaram.
Com trinta anos, Irineu encerra a fase comercial de sua vida, vende tudo que tinha acumulado e muito rico, lança-se nos empreendimentos industriais.
É um novo rumo na sua vida inteiramente diferente do que tinha sido comerciante e como gerenciador de capitais.
Torna-se um empresário, calculista, lúcido e dinâmico.
Ele passa a criar coisas que não existiam, que se faziam necessárias, mas onde ninguém tinha tido sucesso ou nem sequer imaginado.
Assim, monta uma fundição e um estaleiro em Niterói, realiza canalização de água na Tijuca, por exemplo.
Seus métodos estão muito adiantados para a época e a cada sucesso, aumenta o número de cortesãos e palacianos invejosos ou prejudicados pelas mudanças.
Apesar de ser um vulto independente, embora tenha recebido um ou outro apoio do governo imperial, Irineu alcança uma posição tão proeminente no cenário nacional, que acontece um fato inédito para os tratados internacionais.
O acordo firmado entre o Brasil, o Uruguai na guerra contra as pretensões argentinas é assinado pelo governo do Brasil, pelo governo do Uruguai e por um particular, Irineu Evangelista de Souza!
E este que garante os navios, os canhões e as despesas dos exércitos, com seu crédito pessoal e, com suas empresas.
Além de fundar Bancos, como o Banco do Comércio e Indústria, mais tarde chamado Banco do Brasil, com crédito internacional, e que mais tarde as manobras palacianas encamparam e tornaram do governo, ou como o Banco Mauá & Cia, no Uruguai, espalhando uma rede de agências, inclusive em Londres, Irineu está sempre à frente das principais iniciativas a favor do progresso do Segundo Império.
Suas empresas trazem a primeira iluminação à gás para o Rio de Janeiro, a primeira companhia de navegação do rio Amazonas, a primeira estrada de ferro na Raiz da Serra em demanda de Petrópolis, o assentamento do primeiro cabo submarino de telégrafos.

E muitas outras iniciativas, algumas fadadas ao fracasso porque o número de oponentes no governo aumentava sem cessar.
Sua fortuna poderia ser caracterizada como uma das maiores do mundo, mas só o próprio Irineu é que poderia estimá-la.
Era um monarquista leal, e jamais agiu contra Pedro II. Este não via com bons olhos aquele verdadeiro imperador financeiro que pretenderia ensinar ao real imperador os melhores rumos para o progresso de seu Império.
Ambos tinham pontos de semelhança, começaram jovens, gostavam de novidades, mas como diz o povo, dois bicudos não se beijam.
As intrigas palacianas e a politicagem pessoal sempre que podiam embaraçavam o Empresário e dificultavam as intenções do Regente.
Assim, sem nenhuma homenagem palaciana, á contragosto quase, Pedro II concedeu o título de Barão de Mauá em 1854, quando da inauguração da primeira estrada de ferro do País, e o título de Visconde de Mauá em 1874, por ocasião da inauguração do telégrafo por cabo submarino.
Mauá não teve uma vida sem tropeços, pois os seus adversários políticos e palacianos nunca descansaram e procuravam incessantemente dificultar sua vida e seus empreendimentos.
Tal reação era previsível e por várias vezes ele precisou de todo o seu engenho e conhecimentos para não ser derrotado.
Na verdade, a História obedecia a uma lei inexorável da Física: a toda ação corresponde uma reação igual e em sentido contrário.
Assim foi com Mauá: os Estaleiros, a Iluminação à gás, a Navegação Amazônica, os Bancos, as Financiadoras, as Fábricas de velas e sabão, a Mineração do ouro Maranhense, a Companhia de Transporte Fluminense, o Dique Flutuante, a Ferrovia Santos-Jundiaí, a Companhia Agrícola Pastoril e muitas ações geraram reações de oposição crescentes e formidáveis.
Sem apoio do Império, um só homem não poderia vencer as ações e as reações.
O inevitável aconteceu: o declínio do império econômico financeiro passou a se tornar mais forte a partir de 1863 e o Conde de Mauá estava então com 50 anos.
Suas batalhas foram cobertas de sucesso ou fracasso e muitas vezes ele salvou por um triz o seu mundo de empreendimentos.
Em altos e baixos, conseguiu aos 53 anos de idade, fazer o pagamento de seus acionistas, embora isto não lhe fosse obrigatório por lei nem pelos costumes.
Em 1870, três anos após inaugurar trecho de ferrovia Santos-Jundiaí, Mauá conseguiu recompor seu império às custas de seus bens pessoais.
Em 1874, aos 61 anos, Mauá sofreu grave acidente pessoal, ao ser atropelado por um carroção em Petrópolis e esteve por um mês entre a vida e a morte.
No mesmo ano Pedro II concedeu-lhe o título de Visconde de Mauá.
Mas apenas um ano depois, apesar dos ingentes esforços de obter auxílios e prazos, Mauá teve que pedir Moratória, distribuindo a famosa Exposição aos credores de Mauá & Cia.
Seguiu-se longa demanda judicial, pressurosamente aproveitada pelos seus antagonistas declarados ou ocultos e, em 1877, Mauá teve o desgosto de ver decretado inexoravelmente à falência.
Sem esmorecimento, o princípio adotado por Mauá de pagar o que era devido e de não ter nunca o seu nome manchado, levou-o ao sacrifício de seus bens pessoais, até saldar o último vintém.
Por isso, em 1884, Mauá teve a definitiva recompensa pela sua honestidade Por isso, em 1884, Mauá teve a definitiva recompensa pela sua honestidade a toda prova: a Carta de Reabilitação do Comerciante matriculado Visconde de Mauá, lido em cerimônia no Tribunal de Comércio do Rio.
Ele começava a sentir os efeitos da doença que iria abater o maior vulto empresarial do Brasil.
Ainda resistiria cinco anos à diabete.
Mauá também foi deputado pelo Rio Grande do Sul de 1856, 1885-60, 1861-64, 1864-66 e 1872-75 e renunciou em 1873 para atender às empresas em perigo pela crise financeira de 1864.
Mauá, com setenta e um anos volta a ser apenas um homem rico.
Fazia eventual corretagem no Rio e esporadicamente ia ao Uruguai, acompanhar a direção de suas estâncias.
Não mais lhe interessavam as ações do governo e recusou todos os convites de Pedro II para conversas informais.
Como considerava que a libertação dos escravos deveria ter sido feita trinta anos antes, não deu a menor importância para o ato imperial de 1888.
Mauá faleceu no Rio no dia 21 de outubro de 1889, com setenta e dois anos de idade.
O Império Brasileiro sobreviveu-lhe três semanas, quando sobreveio a Proclamação da República.
O filho e herdeiro do Visconde, o Comendador Henrique Irineu de Souza teve oportunidade de continuar um sonho de Mauá que era o de trazer imigrantes para o Brasil, aproveitando o corte das migrações para os Estados Unidos durante a Guerra de Secessão.
O comendador obteve, em 1889, por contrato a permissão de instalar dois núcleos coloniais em suas terras: o núcleo Itatiaia(no vale do Rio Campo Belo).
Tais núcleos chegaram a ter 185 colonos, dentre austríacos, tchecos, alemães, italianos, espanhóis, portugueses, mas no final de 1890, a experiência foi dada como fracassada, tendo sido apontada como principal causa à falta de estradas para escoamento dos gêneros produzidos.
Em 1908, o governo federal compra as terras e tenta colonizar os antigos núcleos.
De 1926 a 1924 forma-se um mercado fundiário na região e o leite e o queijo predominaram, panorama que só veio mudar em 1970-1980, quando se abre espaço para pousadas, veraneio, pensões e hotéis-fazenda.
Cabe mencionar as terras de sua propriedade aqui na nossa região: o núcleo Visconde de Mauá (no vale do Rio Preto) e o núcleo Itatiaia (no vale do Rio Campo Belo).

CADEIRA N.º 17 – WANDERBILT DUARTE DE BARROS

Wanderbilt Duarte de Barros, natural do Estado do Pará nasceu na cidade de Óbidos em 25 de fevereiro de 1916 no seio de uma família onde a intimidade com a terra e com as coisas da natureza tomava conta da realidade da vida.
Cursou regularmente o primário naquela cidade e em Belém, realizando, pois, o curso secundário na cidade de Passa Quatro em Minas Gerais.
Ingressou, ainda em Passa Quatro, no curso de Engenharia Agronômica no ano de 1934, alcançando a sua conclusão 3 anos depois, quando iniciava uma etapa de trabalho como topógrafo e professor. A oportunidade profissional o conduziu para o Estado de São Paulo, iniciando outro período de atividades em sua vida, agora no Departamento de Estradas de Rodagem daquele Estado da Federação.
O seu fascínio pelo manejo dos recursos naturais e espírito conservacionista permite a sua aprovação no concurso público realizado pelo Departamento de Administração do Serviço Público em 1940, sendo nomeado em 1940 para exercer atividades técnicas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, sendo, em seguida, transferido para o Parque Nacional do Itatiaia onde iniciou estudos botânicos na área de Dendrologia.
A região de Teresópolis, o dedo de Deus, apontava os próximos anos de trabalho e em 1942, no mês de setembro, assume a direção do Parque Nacional da Serra dos Órgãos até maio de 1943. A sua vida profissional ganha novo impulso e o reconhecimento dos resultados favoráveis de sua administração permitem a sua nomeação para assumir a direção do Parque Nacional do Itatiaia em setembro de 1943, finalizada somente 14 anos depois(fevereiro de 1957).
Dotado de ampla visão das necessidades de conservação dos recursos naturais, fomenta na região do Itatiaia um núcleo de atividades científicas, promove, através do apoio recebido pelo Ministério da Agricultura, dezenas de construções com a finalidade de prover o Parque Nacional do Itatiaia com dependências adequadas para o cumprimento de suas finalidades enquanto Unidade de Conservação Federal e primeiro Parque Nacional criado no Brasil.
Estimulou a criação do Boletim Técnico do Parque Nacional do Itatiaia, convidando técnicos de outras nações e Institutos e da própria Instituição para ali desenvolverem temas de interesse científico e que pudessem orientar, através dos resultados das pesquisas, os planos da administração do Parque, bem como, e principalmente, as práticas de manejo do ambiente natural, planejando a delimitação de áreas exclusivas para as práticas de um turismo compromissado com conservação da natureza e a educação para o meio ambiente, além de um programa de cultivo de espécies nativas para reflorestar áreas degradadas do Parque. Pesquisas nas áreas de entomologia, ornitologia, ecologia geral, botânica sistemática, anatomia da madeira, dendrologia, biologia de vertebrados, climatologia e recursos hídricos, constituíram a base de um valioso acervo científico que hoje constitui o Museu Regional da Fauna e Flora do Parque Nacional do Itatiaia que é cobiçado por dezenas de instituições de nosso País e do exterior e visitado por milhares de estudantes e turistas anualmente.
As plantas secas do herbário(exsicatas) da coleção de Alexandre Curt Brade, Campos Porto, Graziela Barroso, Kuhlman, além das coleções Zikan (na área da entomologia) e os exemplares estudados e taxidermizados por Élio Gouvêa e colaboradores, são o fruto de anos e anos de trabalho para informar ao mundo sobre a riqueza da Biodiversidade da região do Itatiaia, do Patrimônio Genético Nacional que, não só como profissionais das ciências biológicas e do ambiente, mas como cidadãos de um município novo e moderno, temos o dever de estudar, compreender e preservar. O Dr. Wanderbilt Duarte de Barros ofereceu ao Parque Nacional do Itatiaia uma feição especial que consagrou a instituição.
Nos anos seguintes, já na década de 60, ingressava no Curso Regular da Escola Superior de Guerra, assumindo a Diretoria de Produção Agropecuária do Ministério da Agricultura.
Nas décadas de 70 e 80, conduziu o Departamento de Agricultura do Instituto Brasileiro da Reforma Agrária, dirigiu o Projeto de Desenvolvimento da Pesquisa Florestal no Brasil, preside a Comissão para a criação da primeira Escola de Engenharia Florestal do Brasil e organiza, em parceria com outros profissionais, a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza(FBCN), Organização Não Governamental que promove um novo entendimento da questão ambiental do País e que em muitos momentos, teve ao seu lado o Prof. Alceo Magnanini.
Atuando como professor de cursos de aperfeiçoamento da OEA(Organização dos Estados Americanos) e Professor Adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, é convidado para assumir, ao final da década de 80, a Superintendência de Recursos Naturais e Meio Ambiente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE).
Aos 74 anos de idade é nomeado Superintendente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A sua administração teve início em 1990 e logo se iniciava um período de reformulação naquela Instituição, principalmente no Arboeto, ou o Campus, como ele gostava de chamar a coleção de plantas vivas reunidas conosco em assuntos técnicos. Buscando a parceria com os pesquisadores da Instituição, organiza o Congresso Internacional de Jardins Botânicos na cidade do Rio de Janeiro com o total apoio do BGCI (Comitê Internacional de Jardins Botânicos) sediado na Inglaterra.
O Congresso permitiu a reunião de representantes de muitos países dos vários continentes com o propósito de se discutir a missão dos Jardins Botânicos e as estratégias de conservação da natureza, orientado pelas propostas da IUCN(União Internacional para a Conservação da Natureza).
Motivado por seu espírito de construção e de discursos objetivos e de vigor, estimula um grande Seminário de Interelações Pessoais na intenções de orientar os servidores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro a aderirem a uma proposta de gestão democrática, escolhendo os seus chefes por um processo de eleição e criando metas para um gerenciamento participativo. Todos os trabalhos foram conduzidos por equipes técnicas especializadas com apoio financeiro do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Impulsiona as atividades de pesquisas da Instituição, facilitando o crescimento de projetos de estudos em restingas, mata atlântica, ecossistemas costeiros e nas áreas de entorno do Jardim Botânico, em especial às encostas da Mata Atlântica.
Reformula e aperfeiçoa o Setor de Museologia daquela Instituição, convocando os profissionais a participarem dos programas de educação para o meio ambiente e permite que a associação dos servidores organizasse o Coral do Jardim Botânico do Rio de Janeiro em reuniões de confraternização e aprendizado musical.
Próximo ao final de sua gestão no ano de 1995, é homenageado pela Prefeitura Municipal de Itatiaia como Cidadão Itatiaiense, reforçando o respeito e admiração dos munícipes através da então, já criada, Avenida Wanderbilt Duarte de Barros que une a Rodovia Presidente Dutra ao Parque Nacional do Itatiaia.
Após seu falecimento no dia 30 de abril de 1997(aos 81 anos), através de gestões do IBAMA em Itatiaia, formuladas em parceria com a Academia Itatiaiense de História e por ocasião das festividades dos 60 anos de criação do Parque Nacional do Itatiaia, em 14 de junho de 1997, passou a ser denominado o Centro de Visitantes do Parque Nacional do Itatiaia, onde funciona o Museu de Centro de Visitantes Professor Wanderbilt Duarte de Barros.

CADEIRA N.º 18 – WALTER ZIKÁN
Nasceu a 6 de junho de 1910 em Mar de Espanha, estado de Minas Gerais e faleceu a 5 de março de 1989 em Itatiaia.
Veio para Itatiaia no ano de 1923, junto com seus pais, José Francisco Zikan e Elisa Zikan e mais seis irmãos, instalando-se no lote 15, do extinto Núcleo Colonial de Itatiaia.
Obtendo apenas instrução secundária incompleta se desenvolveu como autodidata, seguindo os passos de seu pai, trabalhando e pesquisando no campo da entomologia.
Em 1934 casou-se com Yvone Fernandes Zikan, indo residir no Rio de Janeiro.
Foi então trabalhar no Ministério da Agricultura, no subúrbio de Deodoro, no Rio de Janeiro, então Capital do Brasil. Com a construção da Universidade Rural do Brasil, no km 47, da antiga Estrada Rio -São Paulo, para lá se mudou, passando a trabalhar na Seção de Entomologia do Instituto de Ecologia.
Ali passou a maior parte de sua vida, tendo exercido entre outras atividades: Administrador do Ginásio Fernando Costa, da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos(CNGE), onde todos os filhos estudaram; Presidente da Cooperativa de consumo dos funcionários do Km 47; Presidente do Atlético Clube Ecologia (de cujo time de futebol era torcedor fanático, além do Botafogo).
Após sua aposentadoria em 1964, voltou a morar em Itatiaia durante seus últimos 25 anos de vida.
Exerceu a Presidência da Comissão Executiva Provisória do MDB durante os heróicos tempos da resistência democrática.
Foi eleito vereador nas eleições de 15 de novembro de 1976, com 556 votos, tendo sido Vice Presidente da Câmara Municipal de Resende, no período de 1977 a 1978, representando o 4º distrito de Resende – na época Itatiaia.
Dentre as 416 proposições apresentadas podem ser destacadas as que resultaram na construção de mais seis salas de aula e instalação de telefone no Colégio Municipal Reinaldo Maia Souto, na construção de escola no bairro Vila Pinheiro, no calçamento da rua Prefeito Assumpção, na votação decisiva pela instalação da sub-prefeitura em Itatiaia, em melhorias no Posto de Saúde e na contratação do médico Walter Moreira Martins e da odontóloga Ismaelita Barbosa.
Em 1982 foi agraciado com o título de Cidadão Resendense, concedido pela Câmara Municipal de Resende.
Apesar de ser autodidata publicou 12 trabalhos de pesquisas em entomologia e mais outros 15 de divulgação geral abordando, principalmente, temas ligados à proteção da natureza.
Foi sócio – fundador do Lions Club de Itatiaia e do Centro Fluminense para a Conservação da Natureza. Pertenceu também a outras entidades como Grupo Excursionista Agulhas Negras, Sociedade Brasileira de Zoologia, Sociedade Brasileira para a Defesa da Fauna e da Flora, Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, Sociedade Paranaense de Ciências Naturais, Sociedade Brasileira de Entomologia e Sociedade Entomológica Argentina.
CADEIRA N.º 19 – TENENTE CORONEL MÉDICO DR. OLEGÁRIO DE ANDRADE VASCONCELOS

Filho do Marechal João Luiz de Andrade Vasconcelos e Dona Eugênia Meirelles de Andrade Vasconcellos. Nasce em Porto Alegre, província do Rio Grande do Sul a seis de março de mil oitocentos e setenta. Casa-se com Dona Armia Jorge de Andrade Vasconcellos, com quem teve nove filhos.
Em 1897, sendo formado em medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, é nomeado médico adjunto do exército, para servir na cidade de Cachoeira, no Estado do Rio Grande do Sul. Em vinte e três de novembro é transferido para Bagé.
Em doze de setembro de 1898 é nomeado tenente médico, tendo passado em segundo lugar no concurso realizado.
É nomeado para o forte de Coimbra em Mato Grosso e depois para Don Pedrito, em Novembro daquele ano. Em maio de 1899 é transferido para a Colônia do Alto Uruguay. Em setembro vai para Porto Alegre e em novembro é nomeado Chefe de enfermaria em Bagé.
Em maio de 1905 é transferido para Santana do Livramento. No mesmo mês em 1908 é transferido para a guarnição de Santa Catarina em Florianópolis.
Em vinte e nove de abril de 1909 é promovido a capitão.
Em 1910 é nomeado para servir na fortaleza de São João. É delegado pelo general José Carlos Pinto Júnior ao deixar o comando do segundo batalhão de artilharia de posição da fortaleza de São João, sempre pela sua habilidade profissional, atendendo sempre com humanidade aos que precisavam da sua assistência, fazendo da sai profissão um verdadeiro sacerdócio. Da mesma forma o major Pedro Henrique Cordeiro Júnior agradeceu seus serviços sempre falando de sua inteligência brilhante e disciplinar.
Em 1915 vai para o Hospital Militar de Curitiba onde em 1916 passa a diretor do mesmo. Em dois de julho de 1918 é promovido ao posto de major.
Em primeiro de janeiro de 1919 é nomeado para o “Depósito de Convalescentes” em São João del Rey onde ficou até 1921.
Em janeiro de 1922 o Senhor Ministro manda-o para a capital federal a fim de iniciar e dirigir a instalação do serviço do depósito de convalescente com sede em Campo Belo, onde toma posse em março.
A primeiro de abril de 1923 é promovido a tenente coronel. Em março de 1924 deixa o cargo de diretor do depósito e segue para a capital federal. Lá exerce outras funções relevantes.
Em julho de 1924 é designado para fazer parte da junta superior de saúde. Ao deixar o cargo foi muito elogiado pela sua competência, abnegação e relevantes serviços prestados junto às forças em operação na defesa do governo constituído por ocasião da impatrícia revolta de cinco de julho.
Trabalhando dia e noite com afinco e inteligência para atender as requisições da divisão de operações,serviço penoso e muito movimentado.
Em outubro de 1924 é nomeado comandante da Escola de Aplicação dos serviços de saúde.
E a três de agosto de 1924 baixa no HCE – Hospital de Convalescentes do Exército de onde tem alta em setembro. Mas a doze de setembro de 1925, por motivo de saúde, volta a ser internado para falecer a 24 de Outubro.

CADEIRA N.º 20 – MARIA JOSÉ DE AQUINO
Dona Zezé, como carinhosamente chamada por todos que a conheceram.
Nasceu Maria José de Aquino, em 28 de Setembro de 1897. Filha de Virgílio Thomaz de Aquino e Maria Pacheco de Aquino.
Seus irmãos Benedita de Aquino(Didita), José Thomaz de Aquino(Juca).
Do segundo casamento de seu pai com Dona Joselina Rosa de Aquino; teve mais dois irmãos: Valdir Aquino(ex-radialista da Rádio Agulhas Negras e ex-vereador) e Lizete de Aquino, além da irmã adotiva , que foi criada por ela, chamada Maria Vitória.
Seu tio, Joaquim Thomaz de Aquino foi prefeito de Resende em 1915.
Dona Zezé nasceu e cresceu morando no prédio do antigo H.C.I; hoje sede da prefeitura, depois mudou-se para a “ Travessa Padre Aquino”, nome dado em homenagem a seu tio, que foi um dos primeiros padres de Itatiaia, naquele tempo chamada Campo Belo.
Leiga foi uma das primeiras professoras municipais de nossa cidade; Dona Zezé lecionou por 29 anos; de 1939 a 1968, já aos 42 anos.
Trabalhava na Capela D. Bosco (atrás da Igreja da Matriz), onde é a casa paroquial e depois na igreja do Senhor dos Passos, onde funcionou uma parte administrativa da Prefeitura Municipal de Itatiaia, por algum tempo, anexo que mais tarde, em 1975, com a ampliação do anexo, hoje sede do DETRAN, viria a ser denominado Colégio Municipal Reinaldo Maia Souto, na rua São José.
Pegava para ensinar a todos que queriam aprender. Era severa e ensinava globalmente. Contava-se que os alunos com maiores dificuldades eram levados, depois da aula para sua casa, onde aprendiam até a lavar roupa e usar corretamente os talheres.
No dia 24 de abril de 1979, recebeu uma homenagem, uma medalha de bronze, da Prefeitura de Resende, oferecida pelo então prefeito Sr. Noel de Carvalho Neto.
Em 20 de setembro de 1986 recebeu da Câmara Municipal de Itatiaia o título de “Professor Emérito” como a primeira professora municipal de Itatiaia.
Enquanto viveu fez questão de zelar pela igreja; cuidava para que as crianças não a desrespeitasse.
Rezava o terço junto com a Didita e Maria todos os dias. Era filha de Maria e da irmandade do Sagrado Coração de Jesus.
Pessoa de grande carisma; foi amada e respeitada por todos, levou uma vida dedicada a Deus e ao próximo, cuidando de tudo e de todos, sempre aberta a todos que a visitavam.
Bordava muito bem e fazia crochê como ninguém, além de ensinar o que sabia a quem tivesse vontade de aprender.
Uma mulher que deixou muito mais que saudades. Deixou exemplo de bondade, desprendimento, amor e muita ternura.
Ela era sábia! Sabia como ninguém ensinar e convencer. Mostrava as verdades e convicções através de exemplo.
Moça de maiores prendas, personalidade forte e corajosa.
Não se intimidava diante das dificuldades, nem mesmo quando vitimada por um câncer na boca, adoeceu para morrer, não se deixou abater, resistiu bravamente.
Fazia piada pelo fato de ter ficado solteira. Dizia que quando os rapazes queriam lhe namorar, o seu Virgílio logo chegava e acabava com a conversa.
Ela dizia que o seu pai, achava que não havia moços com qualidades suficientes para casarem com suas meninas, (ela e Didita).
Certa vez o presidente Getúlio Dornelles Vargas esteve a passeio em Itatiaia e ela foi encarregada de fazer um bolo para ele.
Disse que foi uma emoção muito grande quando recebeu os elogios e o aperto de mão do presidente.
No dia 02 de Junho de 1992 à inauguração da Pré Escola passou a ser denominada: “Pré Escola Municipal Maria José de Aquino”, em homenagem aos seus feitos como professora.
Ainda em vida, foi homenageada pelo nosso poeta, senhor Osvaldo Motta, com os versos que se seguem, encontrados no livro “Meu céu azul de Itatiaia”.
Sempre atenta... aos sons do sino
Com fé cristã que irradia
Maria José de Aquino,
Digna filha de Maria,
Em versos de grande soma
Não constar seu nome ao mapa,
É como ir à Roma
E não ver o Santo Papa...

De casa ao ouvir bater
O relógio da matriz,
Lembro de quem com prazer:
Houve essa oblata feliz...

CADEIRA N.º 21 – LUIZ PEREIRA BARRETTO
Dr. Luiz Pereira Barretto é uma das mais significativas figuras do pensamento nacional. Vivendo oitenta e três anos, nascendo em Resende a 11 de janeiro de 1840 e falecendo em São Paulo a 11 de janeiro de 1923, desde 1865, quando retornou ao Brasil, após graduar-se, começou a desempenhar um importante papel na vida científica e intelectual brasileira.
Filho do Comendador Fabiano Pereira Barretto, figura de maior projeção no cenário político e social do município, alcançando todos os mais importantes postos da representação da política local.
Em Resende, aprendeu as primeiras letras, fazendo ainda parte de seus preparatórios no colégio Brasil, de Joaquim Pinto Brasil, depois concluindo seus estudos no Colégio João Carlos - São Paulo - SP.
Posteriormente seguiu para Bélgica com o objetivo de estudar medicina, porém não pôde ingressar imediatamente na Universidade de Bruxelas, pois era exigido dos estudantes um conhecimento mínimo de grego, que Barretto não tivera oportunidade de estudar no Brasil.
À vista de tal exigência, passou um ano a estudar o grego, e no ano seguinte iniciou seus estudos superiores em ciências naturais e medicina.
Em 1864 doutorou-se com “grande distinção”, tendo recebido um convite de seus mestres para “agrégé” da universidade, continuando como professor, a brilhante carreira que principiou como aluno. Entretanto, saudoso de sua pátria, que não visitava há muito tempo, Barretto, mesmo pensando em continuar na Bélgica, quis vir antes ao Brasil, onde seus planos seriam modificados e sua vida tomaria outros rumos.
Em 1865, revalidou seu diploma na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro defendendo a tese de suficiência: “Teoria das Gastralgias e das Neuroses em Geral”, clinicando em Resende até 1868, quando transferiu-se para Jacareí, onde casou-se com Carolina Peixoto, aos 28 anos de idade. Positivista ortodoxo, inicialmente, pois, durante sua permanência na Bélgica, o jovem estudante transformar-se-ia em um discípulo apaixonado das doutrinas de Augusto Comte, tornando-se um positivista integral. Chegou a publicar algumas importantes obras de cunho positivista, tais como: As Três Filosofias; Soluções Positivas da Política Brasileira; Positivismo e Teologia, que muito influenciaram a intelectualidade da época. O Positivismo no final do século passado e início do século XX, exerceu forte influência não só na intelectualidade, mas também entre a classe política e militar, pois o lema de nossa bandeira “Ordem e Progresso”, foi fundamentado no preceito positivista “Amor como princípio, Ordem como base e Progresso como fim”.
Em 1876, Pereira Barretto pressentindo que o café no Vale do Paraíba estava com os seus dias contados, devido a exaustão das terras, pois o café era tratado quase como riqueza extrativa, portanto, cobrava caro o desleixo empírico com que era cultivado, começa publicar uma série de artigos na imprensa paulista, sobre a “terra roxa” do “Oeste” de São Paulo que com sua fertilidade maravilhosa seria o novo campo de ação da cafeicultura brasileira.
Foi o começo do êxodo por parte dos cafeeicultores do Vale do Paraíba, sobretudo de Resende, pois ecoava a voz do ilustre patrício como grande era o prestígio junto a sua originária grei.
Verdadeira expedição conquistadora se desloca de Resende em direção ao “Oeste” paulista em busca de um novo campo de ação.
Inicialmente, são os “ Barrettos”, homens de recursos, ativos, sertanistas e inteligentes que lançaram diversas lavouras naquela região, disseminando princípios racionais de agricultura num meio até então considerado inóspito.
Introduziram o café Bourbon que se espalhou vertiginosamente por todo o “Oeste” paulista, desta forma trazendo a riqueza e a prosperidade que tomariam conta da economia da região e fariam Ribeirão Preto se tornar o novo “Eldorado do Café”.
O café Bourbon foi obtido através de experiências realizadas por Luiz Pereira Barretto, na fazenda de seu pai, na Vargem Grande em Resende, após uma fecundação artificial, do café comum com o Libéria.
Ribeirão Preto no início do século tinha sua população constituída de 2/3 de fluminenses, sendo Resende o ponto em que a migração se revelou em maior amplitude.
Entretanto em 1885, Pereira Barretto abandona a lavoura cafeeira, tornando-se viticultor, pois achava que seríamos capazes de produzir, não só o café borracha, como país tropical, mas também poderíamos produzir o vinho que seria a única forma de atrair o colono europeu em emigração voluntária.
Dizia: “A vinha é vista pelo europeu, não como um arbusto qualquer, mas como uma verdadeira pessoa, um membro da família, uma segunda companheira que sempre amou e adorou”.
Dispôs-se a cultivar a “vitis vinifera” em Pirituba, nos arredores de São Paulo, em uma verdadeira estão experimental agrícola, onde chegou a reunir mais de 400 variedades de uvas vindas da França, Portugal, Itália, Egito, Síria... etc.
No entanto, apenas a uva nascia e crescia, já era vítima de doenças produzidas por fungos que atacam principalmente as folhas.
Apoiando-se na doutrina de Pasteur, estudou, correspondeu-se com os mestres da viticultura européia e após vários anos de trabalho, de esforços, de despesas e de incertezas, enviou ao Professor M. Victor Pulliat, grande ampelógrafo, Diretor da Escola de Viticultura de Lyon, seu relatório “A Viticulture à Saint Paul” em 1888, sobre o cultivo de uvas no nosso clima tropical, com muito calor, umidade e bastante chuvoso durante o verão.
Pulliat, assombrado, pois não era médico e não conhecia ainda a doutrina microbiana de Pasteur, foi tomado de espanto diante da carta de Barretto, passando dias a lê-la e a relê-la, sem saber se ela procedia de um lunático ou de um homem extraordinariamente inteligente. Não obstante, já que a carta não continha nenhum absurdo, apesar de suas opiniões insólitas no domínio da ampelografia, resolveu responder favoravelmente, porém com certo ceticismo.
Algum tempo depois, Barretto enviava-lhe belos exemplares de uvas européias, nascidas no Brasil. Entusiasticamente, Pulliat exclamava que “ Se o Brasil tivesse meia dúzia de homens como o Dr. Barretto, a viticultura européia estaria vencida!”.
Dr. Barretto colaborou durante 12 anos na imprensa européia , e em especial na francesa, dando lições aos viticultores europeus. Dizia Barretto: “ O caminho que o presente nos aponta e que o futuro exigirá de nós é o da policultura. É preciso que se abandone o velho lema ‘ o café dá para tudo”; é preciso compreender que a ciência permite fazer deste país uma maravilha; todas as culturas são aqui possíveis; podemos exportar tudo”.
Pereira Barretto , como grande cientista que era, se lançara na grande campanha contra a febre amarela, pois achava que o saneamento não era só um dever de humanidade para a medicina, mas também uma medida de extrema importância política, pois se a obtenção de uvas européias no Brasil, provava a fertilidade de nosso solo e a excelência de nosso clima, portanto a extinção das moléstias epidêmicas que nos assolavam, provaria sua salubridade e seria um estímulo e consequentemente um convite aos imigrantes europeus.
Barretto, mais uma vez dá uma grande contribuição para a ciência, causando uma enorme polêmica quando afirma que a febre amarela não era contagiosa e sim um problema de saúde pública devido a contaminação das águas. Então publica uma série de artigos na imprensa em defesa de sua tese, que acabou prevalecendo.
Num desses artigos, ele cita o exemplo de Resende:
“Em Resende, sobretudo, o problema se apresenta em sua maior simplificação. A cidade está dividida em duas partes pelo rio Paraíba, achando-se uma em colina e abastecida de excelente água canalizada, e a outra em planície não dispondo senão de água de poço.
Ora, ao passo que esta última está sendo flagelada pela febre amarela, a outra permanece completamente indene”.
Posteriormente em Havana foi descoberto o transmissor que era um mosquito chamado na ocasião de stegomya, denominado hoje como “aedes aegypti”.
Logo após, começou a combater o mosquito através da pulverização com inseticidas.
Pereira Barretto foi também o introdutor da cerveja em nosso país.
Em 1885, foi organizada em São Paulo a Cia. Antarctica com a finalidade de produzir presuntos e outros artigos congêneres. Os cálculos falharam, pois logo após a instalação da grande fábrica, a matéria prima começou a escassear, devido ao avassalamento da lavoura de café que se espalhava por todo o interior. A cultura do café extinguindo a fonte de produção de porcos desfechou um golpe mortal sobre a nova indústria nascente. As custosas e magníficas instalações, não tinham mais razão de ser; não restava à utilíssima empresa, outro recurso senão fechar as suas portas.
Entretanto, Pereira Barretto mais uma vez entra em ação, propondo aos diretores e acionistas que aproveitassem os excelentes aparelhos de fabricação de gelo de que dispunha a Antártica, passando a companhia a fabricar a cerveja.
Portanto, no dia da assembléia geral que seria para extinção da empresa, Pereira Barretto faz uma explanação da viabilidade de se transformar aquelas magníficas instalações, em uma fábrica de cerveja.
Até então ninguém acreditava na possibilidade de se fabricar cerveja no Brasil, pois o nosso clima parecia a todos um obstáculo insuperável.
Contudo, uma grande indústria constituiu-se, os acionistas enriqueceram-se, a empresa tornou-se milionária e a cerveja pioneira da Antarctica derramou-se por todo o país, desta forma cessando a importação desta bebida, afirmando-se a nossa emancipação em um domínio que até então fôramos inteiramente tributários.
Como se não bastasse, este cientista, foi também o descobridor dos benefícios que o guaraná traz à vida do homem.
Foi o pioneiro nos estudos científicos e na realização de experiências com o propósito de produzir uma bebida refrigerante industrializável com base no guaraná criou um método de processamento desse fruto, que deu origem ao xarope do guaraná, utilizado até hoje na fabricação do refrigerante.
É como sábio, como um cidadão onisciente, que dominou com lucidez todos os problemas do homem, que podemos sem nenhuma sombra de dúvida, dizer em uma só palavra, desta forma sintetizando todas as suas qualidades, que ele acima de tudo teria sido, um Humanista.

CADEIRA N.º 22 – MÁRIO PEREIRA DA SILVA

Nasceu no antigo Campo Belo, hoje município de Itatiaia a 03 de setembro de 1906. Segundo filho de José Pereira da Silva e Adelaide Vieira da Silva, teve mais quatro irmãos: Glorinha, José, Nair e Altair. Seu avô, Cel. João Vieira da Silva foi prefeito de Resende por curto período e dele talvez tenha herdado o gosto pela política, pois ela foi a grande prioridade de sua vida.
Estudou o antigo curso primário com a professora Dona Isabel Mourão Dias. Ficou órfão de pai muito cedo e essa foi uma das razões pelas quais começou a ajudar o avô no 1º empório que este possuía no Centro, em frente ao campo de futebol, que na época nem existia.
Em 1925, então com 19 anos, aceitou o convite de seu primo, Mário dos Santos Pinto e lá em São Paulo foi trabalhar como trabalhar como motorista numa leiteria. Nessa época, aproveitava os finais de semana, para fazer aquilo que o apaixonava: remar nas águas ainda navegáveis do rio Tietê.

Foram 16 anos de vereança ao término dos quais, junto com outros colegas Hermínio José da Fonseca, Dirceu Araújo Vicente e Vicente Monteiro Diogo entre outros, deram-se conta de que, tantos anos dedicados à vida pública não lhe proporcionaram nem sequer uma modesta aposentadoria. Não eram remunerados. Apoiou João Nunes de Almeida e depois Pedro de Souza Rangel quando estes se elegeram vereadores. Em 17 de janeiro de 1996, aos 89 anos, internado no Hospital de Santos Dumont, em Minas Gerais partiu em definitivo, deixando uma lacuna não só na vida política como no coração daqueles que o conheceram tão bem.

CADEIRA N.º 23 – EDUARDO BERNARDES COTRIM

Era o sexto filho de Eduardo Augusto Torres Cotrim e de Dona Rosa Emília Bernardes Cotrim.
Nasceu a nove de Dezembro de 1890, na fazenda Belos Prados, Campo Belo (Itatiaia), numa época em que o pai trabalhava como engenheiro ferroviário e a mãe voltava ao casarão dos parentes para os partos.
No ano de seu nascimento, o pai comprou a casa que depois transformaria no Chalet, lugar onde nasceram os demais três irmãos e que existe até hoje.
Do lado materno, descendia dos Mendes da Alagoa da Airuoca, dos Leite Ribeiro do Carmo de Minas, troncos setecentistas que buscaram o vale do Paraíba com o esgotamento da civilização do ouro, e dos Rocha Bernardes que vieram para o Brasil com a corte de D. João VI.
Pelo costado paterno, os Torres nos levam aos primeiros povoadores do Rio de Janeiro, numa seqüência que liga Eduardo aos Macedo Soares, os Álvares de Azevedo, os Duque Estrada, remontando a Antônio de Mariz, um dos 12 primeiros moradores do Rio de Janeiro.
O Cotrim de que Eduardinho – como era chamado na família – provém, chegou nos anos 1820 e se estabeleceu no Rio de Janeiro onde era forte comerciante, casou dois de seus filhos com 2 filhas do Visconde de Itaborahy.
Estudou, interno, como era hábito da época no colégio São Luiz em Itu, São Paulo, colégio dos padres jesuítas. Terminadas as férias no Chalet, ele e os irmãos iam de carro de boi, já uniformizados, até a estação de Campo Belo, de onde o trem os levava para o mundo da disciplina. Bacharelou-se pela Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro, com 23 anos.
Cedo, iniciou sua carreira política como secretário do governo de Washington Luís na prefeitura de S. Paulo, em 1914. Em 1915, com o dissídio entre Nilo Peçanha e Oliveira Botelho, as forças políticas que apoiavam este último em Campo Belo – Bernardes/Cotrim – através da folha O REGENERADOR, lançam seu nome à sucessão do prefeito de Resende, Capitão Cândido dos Reis. Com 27 anos, Eduardo Bernardes Cotrim torna-se o 4º prefeito de Resende, exercendo o mandato de 11 de maio de 1918 a 6 de fevereiro de 1921. Formou assim ao lado de outros campobelenses que governaram o município de Resende: Joaquim Tomás de Aquino, seu pai Eduardo, José Mendes Bernardes, João Vieira da Silva e Edgar Bernardes.

Foi secretário no governo de Washington Luís na prefeitura de S. Paulo, em 1914. Com 27 anos, Eduardo Cotrim Filho torna-se o 4º prefeito de Resende. Formou assim ao lado de outros campobelenses que governaram o município de Resende: Joaquim Tomás de Aquino, seu pai Eduardo, José Mendes Bernardes, João Vieira da Silva e Edgar Bernardes. Não se casou nem deixou descendência.

CADEIRA N.º 24 – CL. RUBENS TRAMUJAS MADER

Rubens Tramujas Mader nasceu em Curitiba em 07 de Outubro de 1926. Estudou no Instituto Santa Maria em Curitiba e também na Escola das Forças Armadas. Ingressou na Escola Preparatória de Cadetes de São Paulo em 1945 e em 1946, na então Escola Militar de Resende(hoje, Academia Militar das Agulhas Negras), tendo sido declarado aspirante a oficial da turma de 1948, na arma de infantaria, a Rainha das Armas. Durante sua vida militar recebeu inúmeras referências elogiosas destacando suas qualidades: lealdade, dedicação, senso de responsabilidade, espírito de cooperação, desprendimento, iniciativa, camaradagem, zelo no cumprimento do dever, virtudes militares que dignificam um soldado. Em 02 de agosto de 1996, o governador do Estado do Rio de Janeiro – Sr. Marcelo Allencar, decretou a Rodovia Rubens Tramujas Mader, que liga a BR 116 – via Dutra a Visconde de Mauá. Nesse mesmo ano, em 28 de agosto foi criada na Biblioteca Municipal de Itatiaia, o Espaço Rubens Mader em homenagem a sua cultura e dedicação pelo crescimento da comunidade Itatiaiense. Foi o primeiro Vice Presidente da Academia Itatiaiense de História. Tendo sido cônjuge da senhora Angela Maria Silveira Mader. Deixou órfãos os filhos: Malu, Patrícia e Felipe.

CADEIRA N.º 25 – EDUARDO AUGUSTO TORRES COTRIM

Formado em engenharia pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro jovem Eduardo que trabalhava na construção da Estrada de Ferro Central do Brasil, viajando em direção a São Paulo teve que passar na Estação de Campo Belo por motivo de problemas com o trem. Lembrando-se que havia tido no 1º ano da Faculdade um colega que em Campo Belo morava(José Mendes Bernardes) resolveu ir visitá-lo. Resultado, apaixonou-se pela prima do amigo com quem veio a casar-se um ano depois pela região e montanhas de Itatiaia onde 12 anos depois se radicou. No seu livro, a “ Fazenda Moderna” consubstanciou o que há de melhor para trabalhar em agro - pecuária no Brasil e, nas suas conferências, discursos e folhetos, claros, cheios de observações e de fatos, não só foi um precursor como um mestre ouvido que muito fez em forma do desenvolvimento e da riqueza nacional. Nasceu em 1857 nesta capital e era filho do Dr. José Custódio Cotrim e de D. Joaquina Carolina Rodrigues Torres Cotrim e neto do Visconde de Itaborahy. Exerceu vários cargos de representação na política e administração pública. Foi deputado estadual no Rio de Janeiro nos governos dos Drs. Alberto Torres e Quintino Bocayuva; fazia parte representante no Comitê Nacional de Produção e era membro do Diretório da Liga da Defesa Nacional do Estado do Rio de Janeiro.

CADEIRA N.º 26 – ARY DOS SANTOS

Filho de uma família austera, nasceu em 13 de outubro de 1900, sendo seus pais Pedro Ulisses dos Santos e Bárbara Martins dos Santos. Casado com Maria da Glória Salgado dos Santos – Glorinha. Teve três filhos: Olga dos Santos Amorim, José Maria dos Santos, bancário aposentado e advogado e Ary dos Santos, coronel do exército e administrador, bem como oito netos e quatorze bisnetos. Homem de Imprensa, Comerciante, Tipógrafo, Industrial que fazia, também, escritas contábeis para várias pequenas empresas e, ainda, encadernações, como exímio encadernador que era. Editou em 1944, juntamente com Pedro Braile Neto O ALMANAQUE “ Resende no seu ducentésimo de existência” e, já em 1959, com redação total de Reynaldo Maia Souto, a “ História de São José do Barreiro”, no seu 1º Centenário. Na década de 20 fabricava, no processo artesanal, a tinta de escrever “ São José” usada não só em Resende mas, também, em Barra Mansa e adjacências. Na década de 30 tinha uma torrefação e fabricava o pó de café “Olga”. Fez surgir em 14 de setembro de 1936, novo seminário em Resende: ‘O MUNICIPAL”. No final da década de 50, princípios de 60, Ary dos Santos transferiu seu jornal a novos proprietários – políticos locais. Em 1983, por ocasião de seu falecimento, atendendo ao seu desejo, os filhos deram edições existentes do jornal O MUNICIPAL à Biblioteca Municipal de Resende.

CADEIRA N.º 27 – JOAQUIM THOMAZ DE AQUINO
Em 30 de setembro de 1864, uma portaria do governo da Província, científica à municipalidade que S.M. O IMPERADOR houve por bem concordar com a investidura do Padre Joaquim Thomaz de Aquino no alto ministério de dirigir como vigário a Paróquia de São José do Campo Belo. Não se sabe exatamente como e por que – possivelmente devido a uma praga que dizimou os cafezais entre 1856 e 1864 – mas os registros históricos indicam que ao assumir este encargo, o padre encontrou em ruínas a matriz da freguesia. Esta circunstância adversa deu a ele oportunidade para empreender a primeira, e talvez mais renhida de suas lutas, enfrentando tanto as autoridades provinciais quanto as eclesiásticas. Era preciso reconstruir a igreja. O padre Aquino primeiramente reclamou providências ao Imperador. Diante da demora na resposta, insistiu no pedido. Afinal, o governo provincial mandou demolir o templo, vendendo em hasta pública o material aproveitável. O vigário, para não interromper os serviços religiosos, teve que alugar um imóvel, por 50$000 mensais, pagos com seus próprios recursos. Mas a reconstrução da igreja demorava, e esgotados os recursos diplomáticos, ele passou a reclamar pela imprensa, contra o que considerava um descaso das autoridades. O bispo ainda tentou minimizar a questão, ou como dizem os cronistas da época, “arrefecer a intrepidez de seu subordinado hierárquico, na peleja em que se empenhara”. Mas o padre resistiu às pressões do diocesano, e prosseguiu com as reclamações. E foi assim, graças à sua ação tenaz, que a Matriz foi reconstruída no ano seguinte, de 1865, isto segundo a obra de Raul Bopp e Alfredo Sodré, “ Resende – Cem anos de cidade”, porque segundo uma outra fonte, referida em trabalho do Cl. Claudio Moreira Bento, a luta pela reconstrução da igreja teria durando três anos, e só ocorrendo efetivamente em 1868. Neste mesmo ano, de 1865, um novo desafio apresentou-se ao vigário de São José do Campo Belo, desta vez na forma de um surto de varíola, que atormentou a freguesia no decorrer de vários meses. E mais uma vez o Padre Aquino teve a chance de mostrar seu caráter corajoso e desassombrado, fazendo-se enfermeiro dos doentes e levando seus cuidados a ponto de descer freqüentemente até às margens do ribeirão Santo Antonio, para carregar às costas o vaso com água para as necessidades do isolamento onde o encontravam. O que se sabe da época é que ninguém o excedeu em caridade, chegando a abrir com as próprias mãos, as covas para enterrar as vítimas da epidemia, o que os demais moradores temiam fazer devido ao medo do contágio. Pronto para assumir tarefas tão rudes em benefício de sua comunidade, ele também conquistou a admiração dos paroquianos pelo seu belo discurso, arrebatando aplausos de seus ouvintes, com a força da eloqüência que lhe era peculiar. Eloqüência que soube usar não apenas nos sermões, mas também na política, tendo feito parte do Partido Liberal, e se empenhado inclusive em pleitos eleitorais. O Padre Aquino, de acordo com os registros de que dispomos, serviu com devotamento a seus paroquianos, e conquistou respeito e influência inquestionáveis em sua época. Ele faleceu em 27 de janeiro de 1880, mas foi lembrados ainda por muitos anos na região, tanto por sua alma caridosa, quanto pela postura corajosa. A família Aquino permanece presente em nossa comunidade, através da descendência de um irmão do Padre Aquino, o Capitão Virginio Thomaz de Aquino, sobrevivente à Guerra do Paraguai, que aqui se radicou em 1870, constituindo numerosa prole.
CADEIRA N.º 28 – LEON CAMEJO BAPTISTA
Leon Camejo Baptista nasceu em Tenerife, a maior das Ilhas Canárias, província independente de Espanha, localizada a 200 milhas da costa oeste da África.
Tenerife é hoje uma ilha paradisíaca na Europa, com florestas exuberantes, flora e fauna exóticas, desertos, montanhas, praias espetaculares e até um vulcão extinto (o Teide) que reina a 3.718 metros, sendo a mais alta montanha do território espanhol. O incrível e incomum cenário vulcânico de Tenerife já foi escolhido como cenário para filmes famosos, como Guerra nas Estrelas, Planeta dos Macacos e Os Dez Mandamentos. Embora a ilha tenha seu próprio governo e um estatuto especial na União Econômica Européia, é território da Espanha, tendo, atualmente, como representantes políticos maiores o rei Juan Carlos e a rainha Sofia, da monarquia espanhola. Possui hoje cerca de 750 mil habitantes, divididos por um território de quase dois mil e cem quilômetros quadrados. Nesse paraíso na terra nasceu meu avô, Leon Camejo Baptista, no ano de 1880.
Uma pergunta ainda tem uma resposta meio vaga: por que ele teria saído de Tenerife ainda muito jovem?
Existem duas hipóteses: a primeira, de que ele queria ser independente, e não suportou a convivência com o pai, um autoritário juiz de direito, um alto funcionário do governo de Espanha. A outra hipótese, contada por suas irmãs, já falecidas e que eu conheci pelo menos duas quando ainda era muito jovem, mostra que Leon Camejo saiu com a família de Tenerife depois que seu pai, pela importância que tinha no governo espanhol, sofreu um atentado político, que culminou com o suicídio de um irmão, tio de Leon. Tia Rosarita, irmã de vovô, contava que a família vivia numa mansão, talvez um palácio, e de que um dia, pouco tempo depois da morte do tio, os guardas da segurança a levaram, junto com a família, para um navio, e depois desembarcaram no Brasil.
Nem todos os Camejos de Tenerife, entretanto, vieram para o Brasil. Um irmão de meu avô foi para os Estados Unidos, e outros foram para a Venezuela e Santo Domingos, na América Central.
Leon Camejo saiu de Tenerife com treze anos de idade e foi morar com um tio na Venezuela, onde ficou por alguns anos. Não encontrando muito apoio do tio e de seus outros parentes, Leon Camejo vai mais tarde para Santo Domingos, na República Dominicana, ainda muito jovem (talvez com uns 17 ou 18 anos). Lá, na América Central, um ou dois anos depois, conheceu a esposa, Ângela, e com ela teve os primeiros filhos. Em Santo Domingos foi trabalhar de início no comércio e mais tarde sua ousadia e disposição para o trabalho fizeram com que ele montasse uma pequena fábrica de chocolate, um chocolate em tabletes, meio amargo, feito artesanalmente. Naquela época, as sementes de cacau, matéria-prima básica para se fazer o chocolate, eram processadas em pilões, manualmente. Leon, então, demonstrou uma de suas habilidades, e com criatividade inventou uma máquina que descascava, moia e torrava as sementes de cacau, e com essa máquina aumentou enormemente a produção do chocolate que produzia.
Decidido a vir para o Brasil, atendendo até mesmo o chamado da mãe (minha bisavó Joana), que já vivia aqui, vendeu essa máquina para os sócios e foi com o dinheiro do negócio que trouxe a família para o Rio de Janeiro, indo morar no bairro da Gávea, onde reencontrou seus parentes. Conta a história que parentes e amigos próximos de Santo Domingos não queriam que Leon viajasse naquele momento para o Brasil, já que um de seus filhos, meu tio Justo, recém-nascido, com apenas três meses, estava muito doente. Disseram a ele que a criança poderia morrer no navio. Decidido e autoritário, como foi em toda a sua vida, Leon Camejo teria dito que não havia diferença em sepultar um filho na terra ou no mar, e, ao contrário do que as pessoas lhe pediram, partiu para o Brasil. Curiosamente, talvez até pelo clima, o filho melhorou durante a viagem e só faleceu já velho, em Itatiaia, com mais de 70 anos. No Rio Leon trabalhou junto com a esposa Ângela na Tecelagem São Félix, na Gávea. Meu avô trabalhava embalando os produtos e vovó Ângela era tecelã.
Mais ou menos quatro anos depois de chegar à Gávea, o imigrante espanhol adquiriu lotes do governo brasileiro pelo antigo INIC (Instituto Nacional de Imigração e Colonização, atual Incra), em Itatiaia, para onde se mudou em 1912, com a mulher Ângela Salvúcio Rivas, com quatro filhos nascidos no exterior (Leoncito – ou Leãozinho na tradução para o português –, Dolores, Izidro e Justo, todos já falecidos), e a filha recém-nascida na Gávea, Joana (minha tia, que faleceu dia 24 de maio deste ano, com quase 91 anos de idade). Veio para ocupar o lote 34 do antigo Núcleo Colonial de Itatiaia. Seus irmãos Justo Camejo (ele também tinha um filho com o mesmo nome) e Francisco Camejo (o tio Paco) também adquiriram lotes próximos ao dele, de números 38 e 40, e vieram também para Itatiaia. Justo era casado com uma italiana e tinha cinco filhos e Paco era solteiro. Os três lotes eram conhecidos como Três Casas, pois as sedes ficavam muito próximas. A entrada dos terrenos fica na estrada do Parque Nacional, próxima ao atual Centro de Recuperação de Itatiaia (CRI), área do Exército. No início ele trabalhou com o que poderia lhe dar algum dinheiro. Foi pedreiro e marceneiro, profissões, aliás, que ensinou aos filhos.
Leon e sua família viveram por cerca de 18 anos nesse local, e lá nasceram seus outros filhos: Emília (muito conhecida em Itatiaia como a “Dona Emília do posto telefônico”, morta em 87), Virgínia, Guilherme (meu pai, hoje com 84 anos), Helena e Laura, a caçula. Com suas economias, vovô, alguns anos depois de aqui chegar, adquiriu outro lote, o de número 32, vizinho ao seu. A vida lá na serra, no mato, era muito difícil, não havia eletricidade, e a luz vinha de lampiões a querosene, e o que não podia ser plantado tinha que ser comprado aqui no centro, quase seis quilômetros de distância. Vovô, com a ajuda da mulher e dos filhos, cuidava da criação de animais e fazia plantações para a própria alimentação, que sempre foi muito farta e boa. Um dos destaques culinários dos Camejos na época era o Puchero, um cozido com carnes de boi e porco, grão-de-bico e muitos e variados legumes.
Seus irmãos, Justo e Paco, tempos depois, não se adaptaram em morar no mato, e desistiram de suas propriedade daqui.
Já com os filhos mais crescidos e depois de alguns anos em Itatiaia, ele construiu lá nos sítios uma padaria. Os filhos Dolores e Justo faziam as massas dos pães, ele cuidava do forno e os filhos Izidro e Justo vendiam as fornadas nas áreas próximas e até no centro de Itatiaia e Santana dos Tocos (a região hoje inundada pela represa do Funil). O transporte dos pães era feito em lombo de burros, em grandes cestos colocados ao lado dos animais.
Trabalhador incansável, Leon Camejo Baptista construiu casas e prédios em Itatiaia. Mudou-se aqui para o centro depois de comprar de Orlando Jopes uma velha casa, existente até hoje na subida da rua Prefeito Assumpção (embora totalmente reformada) e onde mora minha tia Laura. Junto com a casa adquiriu, do mesmo dono, uma venda de secos e molhados (nome antigo que se dava aos mercados de gêneros alimentícios), e uma torrefação de café, o café Rubi, que era famoso até na capital do Rio de Janeiro. A estrada de ferro passava ao lado de sua casa, pela hoje chamada Linha Velha. A estação ficava ali perto da pracinha que existe hoje. Nos trens que vinham de São Paulo e do Rio de Janeiro, vovô Leon embarcava seu café torrado, moído e embalado para outros comerciantes e recebia os produtos que vendia no seu armazém. Ao lado da venda, ele construiu outra padaria. Nessa época a filha Dolores havia se casado com um sargento do Exército, Falcão, e por isso a massa dos pães passou a ser feita pelas filhas Emília (a do telefone) e Virgínia.
Quero lembrar que naquela época não havia as modernas massadeiras (máquinas que preparam as massas dos pães) que existem hoje. A massa dos era feita no braço, e pelas mulheres.
Lembro-me de uma vez, há uns poucos anos atrás, e conto isso apenas para ilustrar a força que as mulheres Camejo tinham, até pelo seu trabalho, que tia Emília me ofereceu um cacho de banana d´água que ela tinha colhido no seu quintal, no terreno ao fundo do posto do telefone. Eu quis ajudá-la a carregar as bananas, mas ela pegou sozinha o cacho enorme e o levou até a calçada da rua, deixando-o próximo ao meu carro. Tinha Emília já tinha mais de setenta anos. Então eu abri o porta-malas e fui pegar o cacho para guardá-lo. Olha, juro que eu tentei, mas o cacho de bananas nem saiu do chão, era muito pesado. Tia Emília, então, riu, de chorar, de seu sobrinho, envergonhado por não ter a força dela. Ela pegou o cacho de bananas e o colocou, sozinha, no carro e então me disse, ainda rindo, que os Camejos de hoje nem se comparam aos Camejos do passado, pois os de hoje eram todos “uns molóides”.
É a vida. Naquela época não adiantava reclamar. O trabalho era sagrado e necessário, e muito difícil. Diversão para os filhos de vovô Leon, só de vez em quando, e assim mesmo quando vovó Ângela topava ir junto com eles ao baile dos finlandeses, no centro de Itatiaia. O baile durava apenas duas horas, de oito às dez da noite, e apenas num dia da semana, mas era disputadíssimo. Namorar? Só de longe. Algumas das minhas tias até se surpreendem de terem conseguido se casar.
Vovô Leon administrava com muito trabalho e dedicação todo o seu comércio, acordando muito cedo, bem antes do sol nascer, e indo dormir tarde da noite, sob a luz fraquinha das lâmpadas antigas de Itatiaia, que vinham de um pequeno gerador, de propriedade da família Cotrim, e que ficava mais ou menos onde hoje está a escola municipal Ana Elisa Gregori.
Os filhos tinham que seguir a vida do pai, do meu avô, e era uma vida difícil, de muito trabalho. Até hoje, pelo que percebi nas minhas entrevistas com meu pai e minhas tias, eles ainda se perguntam se tudo isso valeu a pena. Viveram suas infâncias e juventudes no trabalho, acordando cedíssimo e dormindo quase sempre exaustos, às vezes até com dores no corpo, para no dia seguinte começar tudo outra vez.
Mais alguns anos e vovô comprou o sobradinho na esquina das ruas Prefeito Assumpção e Gomes de Macedo e a casa ao lado dela. E na parte de baixo do sobradinho montou um outro armazém, em sociedade com o filho Izidro. O sobradinho existe até hoje e nele funciona uma loja de doces e uma lanchonete. O prédio que mais tarde foi alugado para o Nacional Esporte Clube de Itatiaia, um dos mais badalados clubes da região, também foi de vovô e, inclusive, construído por ele.
Tendo nascido espanhol, Leon Camejo entendia e falava com sotaque o português, mas preferia falar com a família na sua língua pátria, o castelhano. Vovó, com uma vida mais fechada, entendia algumas palavras de português, mas só sabia falar o castelhano, e por isso até hoje meu pai e minhas tias só conversam entre si em castelhano.
Uma máquina de descascar arroz, inventada e construída por vovô Leon em Itatiaia, foi a responsável por um grande acidente com ele, em 1939. Essa máquina ficava na torrefação de café, e já era movimentada com motor elétrico. Ao trabalhar com a máquina, teve a mão presa numa das correias do ventilador que separava as cascas dos grãos de arroz, dilacerando a mão e quase a separando do braço. Com os poucos recursos da medicina da época, os médicos da antiga Santa Casa de Resende não conseguiram reverter o problema surgido com o esmagamento de músculos e nervos, e Leon Camejo acabou tendo que amputar quase todo o braço esquerdo devido a uma gangrena. Recuperado, e mesmo com apenas um braço, ele nunca deixou de trabalhar, e continuou a realizar seus afazeres da melhor maneira que podia.
Um tempo depois, um novo acidente aconteceu com ele. Foi atropelado ao atravessar a Via Dutra. Estava indo para sua casa na serra, lá no ex-Núcleo Colonial de Itatiaia, como fazia sempre. Ficou em coma por uns cinco dias e com uma seqüela numa das pernas, que fazia com que ele andasse sempre mancando.
Leon Camejo Baptista morreu em agosto de 1963, com 83 anos de idade, 19 anos depois da morte de vovó Ângela, sua mulher, e de seus filhos Izidro (falecido em 44, de ataque cardíaco) e Leoncito, falecido um ano antes, em 62.
Descansa sepultado no cemitério de Itatiaia, a terra estrangeira e muito longe de sua terra natal que escolheu para si e sua família, e onde viveu a maior parte de sua vida, deixando aqui filhos e netos, como eu, que hoje, com muito orgulho e emoção, ocupa a cadeira número 28 que a Academia Itatiaiense de História reservou para homenageá-lo.

CADEIRA N.º 29- THARCÍLIO GOMES DE MACEDO

O Menestrel de Itatiaia, natural da antiga vila de São José do Campo Belo, hoje Itatiaia, nascido a 24/12/1909. Faleceu em Taubaté-SP a 18/08/97 e sepultado no cemitério local de Tremembé. Iniciou sua carreira como ferroviário da Central do Brasil, servindo na antiga Estação Ferroviária Barão Homem de Mello, em Campo Belo, hoje Itatiaia. Reuniu todas as suas poesias em um livro: “ O MENESTREL DE ITATIAIA” . Recebeu várias inscrições às várias academias estaduais a que foi convidado e apenas aceitou em vida, a Comenda da Legião Giuseppe Garibaldi, para não melindrar amigos que para ela o indicaram.

CADEIRA N.º 30 – GRACIEMA DA SILVEIRA COTRIM

Primeira representante feminina da região a ocupar um lugar na Câmara Municipal de Resende, Dona Graciema Cotrim. Graciema, da família Carvalho da Silveira, nasceu sob o signo da vanguarda, e desde menina, muito ativa, praticava os mais variados esportes: remava no Rio Paraíba, jogava voleibol, foi capitã do time de futebol do Largo do Rosário, andava de bicicleta e montava a cavalo feito homem, revolucionando os costumes locais. Também praticava alpinismo, tendo o título de primeira brasileira a escalar as Prateleiras. Casou-se com o médico Dr. Roberto Bernardes Cotrim aos 21 anos de idade. O mandato de Dona Graciema foi de 1946 a 1950, até hoje é lembrado por sua participação intensa, tendo ela inclusive sido a responsável pela semente da emancipação de Itatiaia, ao propor a criação de uma subprefeitura para melhorar o atendimento à população daquele que era então distrito de Resende. Afastada da política, dedicou-se à fazenda e aos negócios da família. Amiga pessoal do poeta Carlos Drummond de Andrade, teve um poema dedicado exclusivamente a ela, “ Graciema, A Fazendeira”. Faleceu em 2001, aos 99 anos de idade.

CADEIRA 31 – CAPITÃO OSWALDO MOTTA

Oswaldo Motta nasceu na cidade de Lambari, sul de Minas Gerais, em 03 de outubro de 1913, filho do médico Juarez de Noronha Motta e Laura Alexandrina Kraus Motta. Foi o quinto entre treze irmãos. Oswaldo passou parte da infância e adolescência por fazendas, serras, rios e lagos nas encostas da Serra da Mantiqueira, por chãos de propriedades históricas e familiares. Ao chegar o tempo da juventude, Oswaldo vai na brisa de outros caminhos, deixando por instantes um pequeno passado pelos lugares por onde andou: os ares de Lambarí, São Tomé das Letras, Conceição do Rio Verde, Três Corações, Varginha, Soledade, Caxambu, Campanha e outros tantos recantos dos segredos de sua alma aventureira. Muito cedo, ainda imberbe, teve manifestada a vocação pelas artes, pelas letras. Sendo a poesia a fonte que o alimentava, buscava ansiosamente conhecê-la. Se acercava dos mestres embora fosse em si um autodidata, coisa comum na época.Outro sopro do destino e Oswaldo incorporava-se ao Exército, na década de 30, na Guarnição Militar de Três Corações – MG. Habilita-se no Curso de Enfermagem e Conhecimentos Básicos de Medicina para atender ao chamamanto da nação e compor o contigente da Força Expedicionária Brasileira a ser enviada para a a Itália durante a II Mundial. Quis o destino que nesse tempo de conflito Oswaldo permanecesse na situação de reserva de emprego da Força, ora embarcado, ora servindo em outras unidades militares, como no Hospital Geral de São Paulo, no Hospital Geral da Guarnição Militar de Santa Maria – Rio Grande do Sul, no Hospital de Convalescentes e no Sanatório Militar, ambos em Itatiaia. Finalmente, no início da década de 40, terminada a Grande Guerra, Oswaldo se estabelece definitivamente em Itatiaia, local onde passou a maior parte de sua vida. Ao longo de sua carreira militar, contudo, não abandonou a poesia. Antes procurou aprimorar-se mais e mais na literatura, na clássica poesia parnasiana, na compassada metrificação, na melodia das palavras. Enfim, levava nas costas uma mochila de guerra e, na respiração, inspirações de belezas transcritas em versos cheios de amor e de ternura por tudo deste mundo. Oswaldo transpôs a Mantiqueira, guardou-se no local que fez feliz – Itatiaia, motivo de tantas manifestações, tantas décadas do bem. Ali respirou tudo: o amor por Francisca, a poesia e carinho pelos filhos. Nesta terra do Planalto do Itatiaia, harmoniosamente e de forma simples integrou-se a todos. Procurou estar sempre presente e participante nos anseios locais, desdobrou-se no jornalismo fundando o jornal O ITATIAIA, participou de diversos movimentos políticos locais e regionais, inspirou-se escrevendo várias obras literárias, duas delas publicadas – Ocaso da Vida e Páginas Íntimas – e outras duas a serem editadas – O Céu Azul de Itatiaia e Gritos D’Alma.
Após essas palavras, o corte profundo do destino gera interrogação em nossas mentes: a tragédia, coisas constante dos tempos atuais, a desgraça social presente, a sociedade do medo e da violência, se manifestou em um lapso de tempo e levou Oswaldo Motta a sofrer uma agressão física brutal que antecipou sua passagem para a vida eterna em 24 de junho de 1997.

CADEIRA 32 – ANTÔNIO CORRÊA


Nasceu em 13/09/1903, na Fazenda Belos Prados, foi retireiro e peão amansador de cavalos; prestou serviço militar durante a Revolução de 1932 – como soldado, atuando na linha de frente, tinha como hobbie ser jogador de futebol.
O Estádio Municipal de Itatiaia leva o seu nome. Nasceu em Itatiaia.
Segundo relatos, Antônio Corrêa jogava futebol descalço e durante uma partida, entre o “ Campo Bello” e “ Engenheiro Passos Futebol Clube” , Antônio Corrêa , mesmo descalço, dividiu uma jogada com um atleta adversário que saiu de campo com a chuteira arrebentada e o nosso Antônio continuou jogando, normalmente a partida, garantindo a vitória para o Campo Belo. Seu companheiro e admirador Mário Pereira, eleito vereador, rendeu-lhe merecida homenagem com Projeto de Lei, dando seu nome ao novo Estádio Municipal. Somente inaugurado no dia 12 de junho de 1991, com a presença do grande público e do Prefeito Luís Carlos de Aquino e a iluminação do espaço. Faleceu dia 07/01/1965, deixando 07 filhos.

CADEIRA N.º 33 – WALTER MOREIRA MARTINS


Walter Martins Moreira nasceu na primeira hora do dia 02 de junho de 1939 em Santa Joana, município de Alegre- ES.
Quarto, dos oito filhos de José Martins Moreira e Josephina Martins Moreira, concluiu o 4º ano primário no Grupo Escolar Parada da Vala em 1951.
Mudou-se junto com a família para o Estado do Rio de Janeiro no ano seguinte onde concluiu o curso ginasial e conquistou o primeiro diploma profissional no Instituto Iguassuano de Ensino, em 1954, no curso de datilografia.
Fez o científico e ingressou na Escola Nacional de Química. Trabalhou em inúmeras atividades, antes de concluir a Faculdade de Medicina: bancário, professor de química, funcionário do jornal “Última Hora” entre outras.
Casou-se pela primeira vez em 1968 com Sonia Rodrigues Sant’Anna(1941-)e com ela tem quatro filhos: Luiz Renato Sant’Anna Moreira(1969-); Ana Lúcia Sant’Anna Moreira (1971-); Angela Sant’Anna Moreira (1975-1996) e Gabriel Sant’Anna Moreira (1979-). Mas tarde, no ano de 1975, se mudou para Itatiaia onde prestou serviço militar no H.C.I (Hospital de Convalescentes de Itatiaia) no posto de Aspirante à Oficial R/2 – Médico na função de Chefe da Clínica Médica, iniciando o seu estágio no Forte de Copacabana- RJ no ano anterior. Após a conclusão do serviço militar decide residir em Itatiaia onde abre a CLIMEDI (Clínica Médica Itatiaia). Realizou inúmeras especializações como: Insuficiência Respiratória (1968); Aplicações Clínicas da Medicina Nuclear (1968); Temas de Gastroenterologia (1970); Medicina Desportiva (1975); Fisiatria (1981) entre outros. Exerceu ainda sua profissão em inúmeros prontos-socorros, postos de saúde e hospitais púbicos nas cidades de Itatiaia, Resende, Queluz, Cruzeiro e Lorena. Integrou o Movimento Emancipacionista liderado por Nilson Rodrigues Neves em 1984 e foi eleito vereador em 1989. Exerce seu mandato até 31 de dezembro de 1992 e destaca-se por sua contribuição na organização da Lei Orgânica do Município. Casou pela segunda vez em 1987 com Maria Luiza de Lima Moreira (1961-1996) com quem teve o seu quinto filho: Luiz Eduardo de Lima Moreira (1988- 1996). Participações do Saudoso companheiro Leão Dr. Walter Martins Moreira no Lions Clube de Itatiaia


1) Sócio Fundador; 1982.
2) Presidente ano leonístico 85/86.
3) Primeira campanha comunitária de saúde: Hipertensão e Diabetes.
4) Primeira campanha de visão – Óculos para crianças.
5) Festa Junina(3ª), para arrecadação de recursos para a Campanha do Agasalho.
6) Festa de Natal(2ª), para as crianças carentes, com a participação de artistas da Rede Globo, e distribuição de presentes.
7) Diversos Bingos de Tortas, realizado sob o comando de sua Domadora – Luiza.
8) Palestras nas escolas sobre Tratamento e Cuidados com os Dentes.

Faleceu em dez de agosto de 1996, vítima de um acidente de carro, ao lado da segunda esposa e de dois filhos.

Um comentário:

  1. Quanta emoção senti,ao lembrar um pouco da minha infância,lendo a biografia de meu tio descrita nos anais da ACADEMIA ITATIAENSE DE HISTÓRIA,pois sou sobrinho de Leon Camejo Batista,sou filho de uma de suas irmãs,Maria de Jesus Camejo Muela (Jessucita),já não está mais entre nós,em 1944 nos mudamos do Rio para Itatiaia e moramos algum tempo em sua casa com toda sua família,foi um tempo que ficou vivo em minha memória,apesar dos meus 9 anos,lembro-me parfeitamente com muitas saudades de todos,tia Angela,(ela me chamava de guricito),Leoncito,Dolores,Juana,Guilherme, Emília,Helena,Laurinha e a neguinha (maria Luiza)que era adotiva.Saudades,saudades e saudades.Araruama,24/12/2009.Diogo Herminio Camejo Muela.

    ResponderExcluir