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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Caravana Pereira Barreto
Autor José Eduardo de Oliveira Bruno
Antes de falar da caravana, é necessário e mister que se faça uma introdução a respeito de Luiz Pereira Barretto que foi o mais ilustre membro de uma tradicional família de cafeicultores no século XIX.Seria interessante inicialmente esclarecer o leitor, para que se tenha “a priori” uma noção sumária,de quem foi este personagem,atualmente tão esquecido pelos seus patrícios e conterrâneos.
Se você gosta de café, guaraná, cerveja e vinho, com certeza vai se deliciar com a história dele!
Dr. Luiz Pereira Barretto, é uma das mais significativas figuras do pensamento nacional.Viveu oitenta e três anos,nascendo em Resende-RJ à 11 de janeiro de 1840 e falecendo em São Paulo à 11 de janeiro de 1923.Desde 1864, quando retornou ao Brasil, após graduar-se, começou a desempenhar um importante papel na vida científica e intelectual brasileira.
Filho do Com. Fabiano Pereira Barretto, resendense e figura de maior projeção no cenário político e social do município, alcançando todos os mais importantes postos da representação política local. Seu pai foi uma personalidade com um espírito dos mais adiantados e operosos da época, fazendo de sua fazenda “Monte Alegre”(1) na então freguesia da Vargem Grande, um campo de demonstração prática da adaptação das terras resendenses às novas culturas, como a exploração do plantio de chá,a experimentação da cultura do café,tipo Bourbon, até então desconhecida no Brasil, a plantação de tabaco, ...etc.
Sua mãe chamava-se Francisca de Salles Barretto, prima de seu pai, e de tradicional família de Guaratinguetá – SP.
Em Resende, aprendeu as primeiras letras,fazendo ainda parte de seus preparatórios no Colégio Brasil, de Joaquim Pinto Brasil,depois concluindo seus estudos no Colégio João Carlos em São Paulo. Posterior mente seguiu para Bélgica com o objetivo de estudar medicina,porém não pôde ingressar imediatamente na Universidade de Bruxelas,pois era exigido dos estudantes um conhecimento mínimo de grego, que Barretto não tivera oportunidade de estudar no Brasil. À vista de tal exigência,passou um ano a estudar o grego, e no ano seguinte iniciou seus estudos superiores em ciências naturais e medicina. Em 1864 doutorou-se com “grande distinção”, tendo recebido um convite de seus mestres para “agrégé” da universidade, continuando como professor,a brilhante carreira que principiou como aluno.Entretanto, saudoso de sua pátria,que não visitava há muito tempo, Barretto, mesmo pensando em continuar na Bélgica, quis vir antes ao Brasil, onde seus planos seriam modificados e sua vida tomaria outros rumos.
Em 1865,revalidou seu diploma na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro defendendo a tese de suficiência: “Teoria das Gastralgias e das Neuroses em Geral”, clinicando em Resende até 1869, quando transferiu-se para Jacareí, onde se casou com Carolina Peixoto(2), aos 28 anos de idade.
Positivista ortodoxo,inicialmente,pois durante sua permanência na Bélgica,o jovem estudante transformar-se-ia em um discípulo apaixonado das doutrinas de Augusto Comte, tornando-se um positivista integral.Chegou a publicar algumas importantes obras de cunho positivista,t ais como: As Três Filosofilosofias;
Soluções Positivas da Política Brasileira; Positivismo e Teologia, que muito influenciaram a intelectualidade da época.O Positivismo no final do século passado e início do XX, exerceu forte influência não só na intelectualidade, mas também entre a classe política e militar,pois o lema de nossa bandeira“Ordem e Progresso”, foi fundamentado no preceito positivista “Amor como princípio, Ordem como base e Progresso como fim”.
Durante sua formação na Europa, com os amigos brasileiros Joaquim Alberto Ribeiro de Mendonça e Francisco Antônio Brandão Junior, Luiz Barreto dedicou-se ao estudo de filosofia, principalmente do positivismo. Tornou-se amigo de Pierre Laffitte, discípulo de Auguste Comte, o fundador da doutrina positivista. O positivismo é uma filosofia materialista, mas empírica , que propõe respeitar os passos do homem como inventor e herdeiro da história. Essa filosofia está intimamente ligada à moral cristã ortodoxa. E isso marcou a formação de Luiz Barreto. Tanto que, de volta ao Brasil em 1864, escreveu a Laffitte, em 14 de dezembro suas impressões da terra natal: “a doutrina regeneradora não encontrará aqui muita oposição. As câmaras legislativas estão no auge do descrédito e o clero, em desordem, só continua a subsistir pela tolerância da população que não encontra coisa melhor. Os padres são ignorantes e de sórdida falta de vergonha. Só fazem destruir os bons resultados da influência dos Jesuítas”.
Em 1876, Pereira Barretto pressentindo que o café no Vale do Paraíba estava com os seus dias contados,devido a exaustão das terras,pois o café era tratado quase como riqueza extrativa,cobrava caro o desleixo empírico com que era cultivado.Começou publicar uma série de artigos na imprensa de São Paulo sobre a “terra roxa” do “Oeste” paulista (3) que com sua fertilidade maravilhosa seria o novo campo de ação da cafeicultura brasileira.
Considerado o primeiro agrônomo do Brasil, ele escreveu uma série de artigos sobre as causas do declínio da cultura do café em terras fluminenses – na sua opinião, principalmente pela falta de adubação – e sobre as vantagens da “terra roxa” , publicados no jornal “A Província de S. Paulo”, nos dias 2, 3, 5, 6, 7, 8 e 10 de dezembro de 1876, que,sem sombra de dúvidas, podemos afirmar, que foi de fato, a Certidão de Nascimento de Ribeirão Preto.
Os textos duros,porém realistas com sua terra natal fluminense (“não se precisa ser profeta para avançar, sem receio de errar, que os seus dias estão contados e que o mais sombrio prospecto de futuro já ameaça e a domina efetivamente”) e generosos com a “terra roxa” (“...Não é possível deixar de ao menos assinalar a espessura da camada do terreno roxo. É esta espessura que torna as terras do Oeste sem rivais no mundo e que distância a perder de vista a sua lavoura da do resto do império”).
Foi o começo do êxodo por parte dos cafeicultores do Vale do Paraíba, sobretudo de Resende(4), pois ecoava a voz do ilustre patrício como grande era o prestígio junto a sua originária grei.
Verdadeira expedição conquistadora se desloca de Resende em direção ao“Oeste”paulista em busca de um novo campo de ação. Inicialmente, são os “Barrettos”,homens de recursos, ativos, sertanistas e inteligentes que lançaram diversas lavouras naquela região,disseminando princípios racionais de agricultura num meio até então considerado inóspito. Introduziram o café Bourbon que se espalhou vertiginosamente por todo o “Oeste”paulista, desta forma trazendo a riqueza e a prosperidade que tomariam conta da economia da região e fariam Ribeirão Preto se tornar o novo “Eldorado do Café”.
Ribeirão Preto no início do século tinha sua população constituída de 2/3 de fluminenses, sendo Resende o ponto em que a migração se revelou em maior amplitude (5).
“Vamos para São Simão que os cafés daqui não dão”(6) - era a crítica manifestada numa marchinha de Carnaval em Resende na década de 70 do século XIX, que refletia a decadência da produção cafeeira fluminense como um todo, especialmente a resendense,pelo cansaço das terras e principalmente pela falta de mão-de-obra escrava, conseqüência da proibição do tráfico de escravos e das leis do Ventre Livree dos Sexagenários.
Assim, em janeiro de 1876,o coronel José Pereira Barretto,irmão de Luiz,seu filho Fabiano, o‘Bizinho’, seu sobrinho Antônio de Paulo Barreto Ramos e seus irmãos Miguel Pedroso Barretto e Francisco Pereira Barretto,saíram em expedição para conhecer as terras do então, “Oeste” paulista. Da Estrada de Ferro Pedro II, hoje Central do Brasil, seguindo até Cachoeira Paulista, ponto então terminal dessa via férrea. Ali chegados, em janeiro de1876, acompanhados de escravos pagens, transportando enormes cargueiros, que haviam partido antes pela estrada de rodagem, margeando a várzea do Paraíba, prosseguiram até Jacareí,onde os aguardava o Dr.Luiz Pereira Barretto,pronto para acompanhá-los às plagas tão faladas do “Oeste paulista”. Depois de uma demora de alguns dias em Jacareí, para descanso das fadigas que lhes trouxera a grande caminhada ao longo do Vale do Paraíba, os ilustres Barrettos, seguros no feliz êxito da aventura a que iam entregar-se, puseram-se de novo a caminho do “Oeste paulista”,através da expedição que integravam,depois conhecida como a : “Caravana Pereira Barretto”(7).
Partindo de Jacareí, os Barrettos passaram por Camanducaia e Ouro Fino, em Minas Gerais e Espírito Santo do Pinhal, já na província de São Paulo. Depois chegaram a Casa Branca. A partir daí, foram guiados pelo coronel Hipólito de Carvalho, que conheceram naquela cidade. O entusiasmo para com as terras paulistas era tão notório que o Dr.Luiz disse ao guia Hipólito, enquanto descansavam num hotel: “Estamos maravilhados... São Paulo dentro de poucos anos será o maior empório cafeeiro do mundo. Para isso, só lhe faltam fáceis meios de transporte. Felizmente o paulista é inteligente e empreendedor e, em breve, fará com que estradas de ferro rasguem todos os seus sertões. Assim, a imigração virá!”.
De Casa Branca, os Pereira Barretto chegaram à Fazenda Cravinhos, de 800 alqueires,que foi comprada de Antônio Caetano por Luiz Pereira Barreto, por 36:000$000 (trinta e seis mil contos de réis), algo entre R$ 300 mil e R$ 400 mil atualmente (em torno de 150 ou 200 mil dólares). Nesse período, embora existissem outras propriedades na região, inicia-se a formação da cidade de Cravinhos. O local onde hoje se encontra a cidade foi a Fazenda Cantagallo, de 80 alqueires, também comprada por Luiz Pereira Barreto, de Domingos Borges, ao valor de 600$000 (seiscentos mil réis).
Com a compra da ‘Cravinhos’ (hoje pertencente ao empresário Luís Biagi), os Barrettos retornaram a Resende, para prepararem a mudança definitiva para a região de Ribeirão Preto naquele mesmo ano, em novembro 1876. Voltaram com as famílias completas, equipamentos agrícolas e cerca de 60 escravos para iniciar o plantio do café. E o café não era mais o Typica,o comum nacional, mas o Bourbon,trazido por Luiz Barretto da Fazenda Vargem Grande, em Resende, onde ele, com seus conhecimentos agronômicos, fizera multiplicar sementes trazidas da Europa.
Derrubaram,ceifaram e queimaram matas virgens. Foi um ceifar sem piedade, naquele “oceano” verde.
Derrubadas as matas, vieram as queimadas gigantescas, cobrindo toda a terra de cinzas, para que estas, qual novo Fênix, surgisse a grande lavoura cafeeira, que foi durante muito tempo, o esteio daquela região. Ao fim de três anos,os Barrettos possuiam as mais famosas lavouras da região do excelente café Bourbon, com as sementes trazidas da Fazenda Monte Alegre na Vargem Grande em Resende-RJ.
A geada de 1870,parecia uma advertência contra a tentativa do aproveitamento do “Oeste paulista para a lavoura cafeeira em grandes extensões...
Qual nada – sentenciava confiante, certo do bom êxito, o Dr.Luiz Pereira Barretto aos irmãos. – “Não tenhamos medo; plantemos café aos milhões, que a sua defesa contra a geada é uma simples questão de enxada...A imigração européia ai está às portas..”.- Perfeitamente, Lulu – replicou o seu irmão Miguel. – “Não devemos ter medo do futuro... Ribeirão Preto é uma terra abençoada...! Deus o fez e perdeu a receita...!”
Contudo,os Barrettos não esmoreceram, plantaram o cafezal na região,em sua maioria, o excelente ’Bourbon’,garantidor da primazia cafeeira paulista,das sementes trazidas cuidadosamente de Resende, como ‘pepitas de ouro’,quando da mudança deles para a região das terras roxas “encaracoladas”, também vulgarmente conhecidas por “sangue de tatú”.
O café ‘Bourbon’, nasceu por experiência de fecundação por hibridação do café Libéria com o café Comum, realizada pelo Dr.Luiz Pereira Barretto,na Fazenda Monte Alegre na Vargem Grande em Resende.O seu irmão Francisco Pereira Barretto,encontrando-se no Rio de Janeiro, na residência de um amigo,conheceu o comandante de um navio cargueiro, que trouxera da África, embalagens de bambú com mudas de café Libéria,que tinha uma qualidade diferente do café vulgarmente conhecido no Brasil,que era o denominado como café Comum.
Comprou várias mudas por um alto preço na ocasião e levou para Resende, plantando-as na horta da Fazenda Monte Alegre e algum tempo depois, principiam a nascer ao redor das mudas do Libéria,umas quarenta ‘orelhas-de-onça’,denominação dada ao café quando nasce.
Desenvolvendo-se as ‘orelhas-de-onça’,observaram os Barrettos,uma diferença entre elas e as plantas do “Libéria”, bem como, com o café “Comum”. Tempos depois, foram as plantinhas separadas e cuida-dosamente transplantadas para covas definitivas. Na primeira floração do “Libéria”, Dr. Luiz Pereira Barretto verificou tratar-se de café inferior,selvagem,pois era exagerado o tamanho das flores. Perdida essa florada,na segunda resolveu o grande cientista provocar a fecundação artificial das flores do Libéria” com as do café resultante das sementes nascidas nas embalagens e com as do café Comum.
Portanto, feita a delicada operação,assinalou as flores fecundadas e algumas dessas flores vingaram, e os frutos,quando maduros, foram colhidos, plantados e convenientemente tratados. Contudo, vingaram cinco pés , apenas.
Eram plantas lindas, com as características de excelente qualidade, e completamente diferentes do Libéria e dos demais. Com o produto desses cinco pés,ao cabo de quatro anos, os Barrettos iniciaram a plantação de regular cafezal de Bourbon, nome com que foi batizado pelo Dr. Luiz Pereira Barretto, o novo café obtido, apesar de aconselhado por amigos, para que lhe fosse dado a denominação de café “Barretto”.A preferência foi por se lembrar o Dr. Barretto, ter conhecido nas estufas da Universidade de Bruxelas, uma qualidade de café muito semelhante aquele, conhecido pelo nome de “Bourbon”. Daí a história da famosa variedade conhecida pelo nome de café “Bourbon”que se destacou pela grande produção de seus arbustos de 2 a 3 mts. de altura, de forma mais ou menos cilíndrica com folhas verde-claras e quando maduras ficam verde escuras, elípticas, levemente coriáceas, com lâmina e margem mais ondulada do que a variação typica.
Em 1876, quando de sua mudança para Cravinhos, no “Oeste” paulista, os Barrettos levaram nos cargueiros transportadores da bagagem, cuidadosamente, como pepitas de ouro, sementes do ‘bourbon’ resendense,daquele cafezal abençoado,resultante da feliz fecundação feita pelo sábio Dr.Luiz Barretto, as quais foram plantadas na Fazenda Cravinhos.
Luiz Pereira Barretto, vibrante de fé e entusiasmo, inoculou em todos, em memorável campanha de propaganda, a confiança necessária para o prosseguimento e consolidação desta nova grande lavoura cafeeira e foi assim que Ribeirão Preto depois de poucos anos,trabalhados e lavrados inicialmente pelo braço escravo e caboclo,e posteriormente pelos braços dos imigrantes, tornou-se o maior centro cafeeiro do mundo.Entretanto em 1885, Pereira Barretto abandona a lavoura cafeeira, tornando-se viticultor,pois achava que seríamos capazes de produzir,não só café e borracha, como país tropical ,mas também poderíamos produzir o vinho que seria a única forma de atrair o colono europeu em emigraçãovoluntária.
Dizia: “A vinha é vista pelo europeu,não como um arbusto qualquer,mas como uma verdadeira pessoa, um membro da família, uma segunda companheira que sempre amou e adorou”.Dispôs-se a cultivar a “Vitis vinifera”em Pirituba,nos arredores de São Paulo,em uma verdadeira estação experimental agrícola,onde chegou a reunir mais de 400 variedades de uvas vindas da França, Portugal, Itália, Egito, Síria...etc. No entanto, apenas a uva nascia e crescia,já era vítima de doenças produzidas por fungos que atacam principalmente as folhas. Apoiando-se na doutrina de Pasteur, estudou, correspondeu-se com os mestres da viticultura européia e após vários anos de trabalho,de esforços,de despesas e de incertezas, enviou ao Professor M.Victor Pulliat,grande ampelógrafo, Diretor da Escola de Viticultura de Lyon, seu relatório “A Viticulture à Saint Paul” em 1888, sobre o cultivo de uvas no nosso clima tropical, com muito calor, umidade e bastante chuvoso durante o verão. Pulliat, assombrado, pois não era médico e não conhecia ainda a doutrina microbiana de Pasteur,foi tomado de espanto diante da carta de Barretto,passando dias a lê-la e relê-la, sem saber se ela procedia de um lunático ou de um homem extraordinariamente inteligente.
Não obstante, já que a carta não continha nenhum absurdo,apesar de suas opiniões insólitas no domínio da ampelografia,resolveu responder favoravelmente,porém com certo ceticismo. Algum tempo depois, Barretto enviava-lhe belos exemplares de uvas européias, nascidas no Brasil. Entusiasticamente, Pulliat exclamava que “Se o Brasil tivesse meia dúzia de homens como o Dr. Barretto, a viticultura européia estaria vencida!”.
Nosso patrono colaborou durante 12 anos na imprensa européia,e em especial na francesa, dando lições aos viticultores europeus.
O sucesso das videiras do Dr. Barreto foi publicamente apresentado à sociedade paulistana em de 1897, na “Exposição das Uvas”. O evento foi patrocinado pela veneranda e de tradicional família paulistana D. Veridiana Prado. Nessa festa aconteceu um interessante encontro de sábios. O poeta Olavo Bilac,de passagem pela cidade, escreveu uma ode espirituosa sobre o evento:
“Já não há mais vinho que nos envergonhe;Não beberemos Verde, nem Colares,Nem Bordeaux, nem Marsala, nem Bourgogne,Vindos de além dos mares!(...)E em prantos de ventura me derreto,Vendo-te, oh Baco, naturalizado,Graças ao Gênio do Dr. Barreto,Graças à Dona Veridiana Prado!”
Dizia Barretto: “O caminho que o presente nos aponta e que o futuro exigirá de nós é o da policultura.É preciso que se abandone o velho lema ‘o café dá para tudo’; é preciso compreender que a ciência permite fazer deste país uma maravilha; todas as culturas são aqui possíveis; podemos exportar tudo”.
Pereira Barretto,como grande cientista que era, se lançara na grande campanha contra a febre amarela,pois achava que o saneamento não era só um dever de humanidade para a medicina, mas também uma medida de extrema importância política, pois a obtenção de uvas européias no Brasil,provava a fertilidade de nosso solo e a excelência de nosso clima.
Portanto a extinção das moléstias epidêmicas que nos assolavam,provaria sua salubridade e seria um estímulo e conseqüentemente um convite aos imigrantes europeus. Barretto, mais uma vez dá uma grande contribuição para a ciência,causando uma enorme polêmica quando afirma que a febre amarela não era contagiosa e sim um problema de saúde pública devido a contaminação das águas.Então publica uma série de artigos na imprensa em defesa de sua tese, que acabou prevalecendo.Num desses artigos, ele cita o exemplo de Resende: “Em Resende,sobretudo,o problema se apresenta em sua maior simplificação. A cidade está dividida em duas partes pelo rio Paraíba,achando-se uma em colina e abastecida de excelente água canalizada, e a outra em planície não dispondo senão de água de poço. Ora, ao passo que esta última está sendo flagelada pela febre amarela,a outra permanece completamente indene”.
Posteriormente em Havana foi descoberto o transmissor, que era um mosquito denominado na ocasião de “stegomya”, e hoje conhecido como ”aedes aegypti”.Logo após, começou-se a combater o mosquito através da pulverização com inseticidas, por iniciativa e campanhas coordenadas pelo Dr. Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro.
Pereira Barretto foi também o introdutor da cerveja em nosso país. Em 1885, foi organizada em São Paulo a Cia.Antárctica com a finalidade de produzir presuntos e outros artigos congêneres.Os cálculos falharam, pois logo após a instalação da grande fábrica, a matéria prima começou a escassear, devido ao avassalamento da lavoura de café que se espalhava por todo o interior.A cultura do café extinguindo a fonte de produção de porcos,desfechou um golpe mortal sobre a nova indústria nascente.As custosas e magníficas instalações, não tinham mais razão de ser; não restava à utilíssima empresa, outro recurso senão fechar as suas portas.Entretando,Pereira Barretto mais uma vez entra em ação,propondo aos diretores e acionistas que aproveitassem os excelentes aparelhos de fabricação de gelo de que dispunha a Antártica, passando a companhia a fabricar cerveja. Portanto,no dia da assembléia geral que seria para extinção da empresa, Pereira Barretto faz uma explanação da viabilidade de se transformar aquelas magníficas instalações em uma fábrica de cerveja. Até então ninguém acreditava na possibilidade de se fabricar cerveja no Brasil, pois o nosso clima parecia a todos um obstáculo insuperável. Contudo, uma grande indústria constituiu-se, os acionistas se enriqueceram,a empresa tornou-se milionária e a cerveja pioneira da Antárctica derramou-se por todo o país,desta forma cessando a importação desta bebida, afirmando-se a nossa emancipação em um domínio que até então fôramos inteiramente tributários.
Como se não bastasse, este cientista,foi também o descobridor dos benefícios que o guaraná traz a vida do homem.Foi o pioneiro nos estudos científicos e na realização de experiências com o propósito de produzir uma bebida refrigerante industrializável,com base no guaraná, criando um método de processamento desse fruto, que deu origem ao xarope do guaraná,utilizado até hoje na fabricação do refrigerante.
Contudo,é uma árdua tarefa poder sintetizar a vida de Pereira Barretto, pois ele cuidou de tudo, ou quase tudo:medicina, filosofia, educação, imprensa, cafeicultura, pecuária, sociologia, viticultura, política,geologia,etc.No entanto,de tudo que tratou, sempre fez com muito discernimento,segurança e sabedoria,conquistando as credenciais de sábio,com que passou para história.E, é como sábio, como um cidadão onisciente, que dominou com lucidez todos os problemas do homem, que podemos, sem nenhuma sombra de dúvida, dizer em uma só palavra ,desta forma sintetizando todas as suas qualidades, que ele foi acima de tudo ,um Humanista.
Roque Spencer Maciel de Barros em seu livro : “A Evolução do Pensamento de Pereira Barretto” diz: “Chamaram-no de o médico do Vale do Paraíba, muitas vezes , ‘o sábio dr.Barretto’. Parece-nos mais exato – e mais nobre mesmo – chamá-lo ‘o educador Pereira Barretto’.Por que, que é, senão educador, o homem que anela despertar o seu país, erguê-lo e dar-lhe consciência de si próprio, para que este cumpra o papel histórico reservado a todos no estado positivo da mentalidade humana?
José Eduardo de Oliveira Bruno, São Paulo, 20/04/2002
Notas
(1) Fazenda Santa Terezinha do Monte Alegre, existe ainda hoje(2002),apesar de encontrar-se em péssimo estado de conservação.Fica situada nas margens da estrada da Resende-Fumaça, na Vargem Grande.Na propriedade de 80 alqueires ainda estão instalados uma escola e uma igreja, além das casas de colonos, um armazém,três currais e vários silos.Também existem ruínas de casas antigas,senzalas da época do império.Ao lado da sede ou ‘Casa Grande’ como ainda hoje é chamada por muitos, o interessado que desejar conhecer um pouco de sua história vai notar um velho pé de café. O único e, talvez, último Bourbon da Vargem Grande que lembra ao futuro a época de ouro da economia resendense...
(2) Carolina Peixoto, filha do português Antônio da Silveira Peixoto e de Ana Leopoldina Peixoto. Com ela, Luiz Barreto teve quatro filhos: Clotilde Augusta Pereira Barreto que foi casada com o Dr. Jesuíno Ubaldo Cardoso de Mello; Luiz Pereira Barreto Filho que faleceu na primeira infância; José Pereira Barreto Neto, nascido em 1874 e foi um grande fazendeiro em Matão e Paulo Pereira Barreto, nascido em 1884 e falecido em 1955 em Tatuí onde se encontrava em tratamento de saúde. Morreu solteiro.
(3) A região de Ribeirão Preto era chamada de “Oeste” porque referiam-se a ela, a partir da Capital. A atual geografia, porém, situa os pontos cardeais em relação ao epicentro da área mencionada, ou seja, em relação ao centro Estado de São Paulo, a região de Ribeirão Preto está a “Noroeste”.
(4) Resende, foi a região pioneira da grande cultura do cafeeira em nosso país. Foi o primeiro pedaço de terra brasileira onde o café encontrou acolhida com os elementos que foram propícios para o seu desenvolvimento.Todas as memórias confiáveis, que tratam da propagação do café na Província do Rio de Janeiro, são uniformes em atribuí-la a pouco depois de 1770, isto é, logo que a espécie já cultivada nesse tempo nas terras do convento dos padres Barbadinhos e na chácara do holandês Hoopman, na rua São Cristóvão no Rio de Janeiro. Este, forneceu as sementes que se propagaram pelo interior da província.Foi dali que os padres Couto e João Lopes, receberam as plantas que foram distribuídas no caminho de Resende pelo primeiro e através do distrito de São Gonçalo seguindo em direção ao noroeste fluminense,pelo segundo, conforme mencionou João de Azevedo Carneiro Maia em seu livro referencial sobre a história de Resende:“Notícias Históricas e Estatísticas do Município de Resende, desde a fundação”de 1891 e também a “Seleta Brasiliense”de J.M.P.Vasconcellos, pág.222, impressão de 1868. Por outro lado é sabido que neste mesmo tempo, muito se esforçara o Marquês do Lavradio, então Vice-Rei do Brasil, no empenho de disseminar a cultura do café, desta forma distribuindo grande quantidade de sementes pelos distritos de São Marcos(atual Piraí) e do Campo Alegre(atual Resende),apelando a um poderoso incentivo empregado, que era isentar do serviço milícias a todo o lavrador que provasse ter plantado certa quantidade de pés de café. Conclui-se do exposto que feita a sementeira em 1775,antes de 1785 já deviam existir alguns cafezais em efetiva produção.
Consta que os primeiros cafezais de Resende se formaram em torno da sede da frequesia, e nos sítios próximos, de onde foram sendo transportadas muitas mudas para os municípios vizinhos(fluminenses e paulistas).Resende até 1801,chamava-se frequesia de‘Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre da Paraiba Nova’. Posteriormente, foi elevada a categoria de vila por ato do Vice-Rei, Conde de Resende (D.José Luiz de Castro), desta forma passando-se a denominar-se Resende em homenagem ao conde.
(5) Veja livro do Dr. Antônio de Almeida Prado : “Crônica de Outrora”,(Ed.Brasiliense/1963; pág. 79).
(6) São Simão era o maior município do “Oeste paulista”,na ocasião, e ponto terminal da Mogiana. Posteriormente foi desmembra do em vários outros municípios, que deram origem a: Ribeirão Preto, Cravinhos, Sertãozinho...etcVeja no livro de Beatriz Garcia ; “O Romance do Café”- (Ed.Alfa-Omega – SP/1999) pág.143.
(7) Caravana Pereira Barretto - Veja livros :“Cravinhos – Histórico, Geográfico, Comercial e Agrícola”- (Prof.Francisco Gomes; Tipografia Selles - Ribeirão Preto / 1922)- “O Ribeirão Preto, Histórico e para História” (Prof. Plínio Travassos dos Santos, Ribeirão Preto-1938)
Obs: A ‘Caravana’ ou ‘Expedição Conquistadora’, conforme menciona Rubem Cione em seu livro: ‘A História de Ribeirão Preto’,foi quem fez a transmutação da cafeicultura valeparaibana ,com marcante hegemonia fluminense,devido ao seu declínio e exaustão de suas terras, para criação de um novo ciclo cafeeiro em nosso país, no ‘Oeste’paulista.É importante também não olvidar de que o café no Vale do Paraíba Fluminense foi quem sustentou economicamente o Império. No auge da cafeicultura no Vale do Paraíba (1860),a produção cafeeira fluminense alcançava 78% da produção nacional. O vale paulista representava 12%, e Minas Gerais mais o restante do país, 10%.Posteriormente a ida do café foi para o "Oeste paulista", aí sim, São Paulo passou a ter uma produção avassalaReferências Bibliográficas
“Reminiscências de Resende, Estado do Rio, às plagas paulistas de São Simão,Batatais, Altinópolis e Ribeirão Preto”. (RenatoJardim,Ed.José Olympio-São Paulo/1946)
“O Ribeirão Preto, Histórico e para História” (Prof.Plinio Travassos dos Santos, Ribeirão Preto - 1938) Obs: O Museu do Café de Ribeirão Preto foi organizado e fundado pelo Prof.Plinio Travassos dos Santos e tem o seu nome em homenagem à memória deste ilustre historiador.
“Cravinhos – Histórico, Geográfico, Comercial e Agrícola”- (Prof.Francisco Gomes; Tipografia Selles - Ribeirão Preto / 1922)
“O Município e a Cidade de Ribeirão Preto”- (1822 - 1922) na Comemoração do Primeiro Centenário da Independência Nacional.
“Família Pereira Barretto” - Notas Genealógicas (Itamar Bopp/São Paulo-1983)
“ Luiz Pereira Barretto e o Café Bourbon” (“O Estado de São Paulo”-15/10/1937) autor : C.A.Krug / Instituto Agronômico de Campinas
“A arte de fabricar o vinho - Manual do Vinicultor” - Luiz Pereira Barreto - Editora Red. da Revista Agrícola - 1900
“A História de Ribeirão Preto” vol.III (Prof. Rubem Cione- RP/1958)
“Crônica de Outrora” de A.de Almeida Prado – Ed.Brasiliense – São Paulo/1963
“A Evolução do Pensamento de Pereira Barretto” de Roque Spenser Maciel de Barros Ed. da USP / Ed.Grijalbo (SP/1967)
“Café e Ferrovias” de Odilon Nogueira de Matos( Ed. Alfa & Omega-São Paulo/1974) Obs: Atualmente editado pela Editora Pontes – Campinas-SP
“O Café – no segundo centenário de sua introdução no Brasil”,Departamento Nacional do Café – Rio de Janeiro/1934
“O Café em São Paulo”- Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio de SP/ 1927
“Obras Filosóficas de Luiz Pereira Barretto” (Vol.I) org. por Roque Spencer Maciel de Barros . Editorial Grijalbo – SP/1967
“Obras Filosóficas de Pereira Barretto”(Vol.II) org. por Roque Spenser Maciel de Barros. Editora da Unv. Estadual de Londrina-PR / 2001
“História do Positivismo no Brasil - Ivan Lins (Cia. Editora Nacional/ SP-1967)
“Notícias Históricas e Estatísticas do Município de Resende, desde a fundação” de João de Azevedo Carneiro Maia (Typographia da Gazeta de Notícias – RJ/1891)
“O Café em Resende no século XIX” de Maria Celina Whately (José Olympio Editora, Rio de Janeiro / 1987)
“Romance do Café” de Beatriz Garcia (Ed.Alfa- Omega – São Paulo/1999) dora, que foi o início do grande desenvolvimento paulista.
Principais obras de Pereira Barretto
“As Três Filosofias : Filosofia Teológica”. Rio de Janeiro – Ed. Laemmert/1884
“As Três Filosofias : Filosofia Metafísica”. Jacareí – Tipografia Comercial / 1876
“Positivismo e Teologia : uma polêmica”. São Paulo-Livraria Popular/1880
“Soluções Positivas da Política Brasileira”. São Paulo – Livraria Popular/1880
“O Século XX sob o Ponto de Vista Brasileiro” . São Paulo – Tipografia do Estado de São Paulo/1901
“A Arte de Fabricar o Vinho - Manual do Vinicultor” - Luiz Pereira Barreto (Editora da Revista Agrícola – São Paulo/1900)
Fonte: Matéria enviada por: José Eduardo de Oliveira Bruno - SP, junho de 2004. E-mail: jeobruno@uol.com.br e ou/ jeobruno@hotmail.com

Terra Roxa - "A Província de São Paulo"


Terra Roxa - “A Província de São Paulo”- 2/12/1876
por J.E.O. BRUNO
Dr. Luiz Pereira Barretto
Os paulistas do Oeste de São Paulo, em geral, não suspeitam o quanto a sua terra está na tela da discussão corrente nas outras províncias, mas, com especialidade na do Rio de Janeiro. Agricultores, literatos, estadistas, comerciantes, homens de ciência, ali encontram matéria abundante para toda sorte de considerações econômicas, sociais, políticas e filosóficas. Mesmo as menos perspicazes não escapa o notável contraste entre o rápido incremento dos progressos materiais da província de São Paulo e a posição improgressiva da maior parte de suas irmãs. A atitude de São Paulo é, de fato por demais proeminente para não provocar reflexões desta ordem. A sua prosperidade crescente não pode deixar de pôr em relevo a imobilidade de suas vizinhas, e, sobretudo, a irremediável decadência das do norte do império. Ao passo que o Maranhão, por exemplo, outrora tão florescente e com todas as aparências de um longo fôlego, hoje lá jaz prostrado, exausto e reduzido ao desesperado papel do paisano Russo, que come a sua semente de planta e resigna-se aos golpes de sorte; ao passo que Pernambuco e Bahia, em outro tempo as mais belas dentre as primeiras, não conseguem dar vida aos seus vacilantes ensaios de estrada de ferro; ao passo que o Rio de Janeiro, não obstante o prestígio e o poderoso influxo da monarquia a seu favor, confessa-se falida na esfera agrícola, vemos a província de São Paulo cada vez mais vigorosa renovar de ano para ano as suas forças e resplandecente de energia alargar os horizontes de sua atividade e de seu futuro. É natural que uma tão vistosa superioridade desperte em todos os brasileiros a mais viva curiosidade e provoque o justo desejo de saber quais os elementos, que dão a São Paulo essa brilhante e invejável perspectiva. É neste terreno que sempre se travam as mais calorosas e instrutivas discussões. É sobre este ponto que desejo atrair a atenção dos paulistas, colocando nuamente sob seus olhos as principais peças do processo e esboçando rapidamente os traços característicos da filosofia agrícola do terreno roxo desta província. A filosofia da terra roxa ! não se assustem os srs. fazendeiros, prometo-lhes não os fazer passear pelas nuvens, nem evocar os manes de Plutão, nem tampouco destecerei as meadas de Kant. Quero simplesmente colocá-los em estado de responder às incessantes objeções e aos pedidos de informação que nos chegam de fora da província. A minha tese é a seguinte: a província de São Paulo é o que é na atualidade, graças simplesmente à sua terra roxa. Deixam de lado o massapé e os outros terrenos de grande valor agrícola, porque são todos mais ou menos degenerescência da formação roxa; o massapé,com especialidade, sob o ponto de vista da química agrícola, é facilmente conversível à categoria do terreno roxo. Demais estes terrenos constituem a ínfima minoria relativamente à quantidade da terra roxa espalhada pela província. Já se vai bem longe o tempo em que, para se explicar os fatos da história, era bastante possuir-se conhecimentos mais ou menos variados de literatura antiga e moderna. O espírito científico, que domina a existência das sociedades de hoje, tornou-se mais exigente. Não é mais suficiente dar assaltos de memória à longa lista de todos os Faraós, ou de todos os Papas, nem tampouco conhecer todos os gestos e acenos dos reis, para se dar a razão da grandeza ou a decadência dos povos. A ciência hodierna, filha do povo, impôs ao historiador, hábitos de uma mais severa disciplina e não quer dele senão explicações que tenham uma profunda raiz na terra. Perante a ciência, a civilização nasceu da terra com o primeiro homem que brandiu a primeira enxada. Os historiadores, que explicam, por exemplo, a queda do império romano ou a decadência da Grécia por meio da corrupção dos costumes desses povos, não percebem que cometem um ilogismo, uma petição de princípio. A corrupção de um povo é um fenômeno muito complexo,que precisa a seu turno de uma explicação: é um efeito de longos antecedentes sociais e não uma causa. A corrupção não é uma entidade sobrenatural, ou algum gênio mau, habitando fora da terra, e que bruscamente tenha o capricho de invadir uma sociedade só pelo prazer de fazê-lo degenerar. Filosoficamente, a corrupção é uma moléstia social, que tem a sua raiz no estômago, e, neste ponto, a ciência se acha de pleno acordo com os depoimentos das Santas Escrituras. Quando a Bíblia nos informa que o primeiro cidadão do mundo, o pai Adão, foi sentenciado a ganhar o pão com o suor de seu rosto, quis enfaticamente significar que a cólera divina escolheu bem o seu teatro de vingança, confiando a execução da sentença precisamente ao inimigo o mais feroz e implacável do homem, - o seu estômago. É, de fato, de simples intuição, se não tivéssemos estômago, a nossa organização social seria inteiramente diversa do que hoje é, ou antes não haveria o mais fraco esboço de organização social; não teríamos necessidade de instituições administrativas; não teriam razão de ser os partidos políticos ;não haveria a distinção de classes;não haveria lugar para o Estado, para a nação;não existiriam as leis reguladoras da propriedade,do casamento,da família; se- riam impossíveis asa ciências ,as artes ,a poesia, em uma palavra , não haveria sociedade, haveria,quando muito, pecorismo grosseiro e confuso. É no estômago que devemos procurar os principais segredos da história do engrandecimento ou do abaixamento das nações. Em outros termos, é da maior ou menor facilidade com que o homem obtém os meios de aplacar a fome, que decorem todos os progressos ou todos os embaraços à marcha ascendente da civilização. Sabemos,hoje, positivamente,pelos documentos pré-históricos os mais autênticos,que,quando se fundou a vila de Roma, já o solo da Itália se achava, desde há muito, coberto de imensas populações, que viviam na maior abundância, graças ao estado florescente de sua agricultura.Ainda hoje se encontram os restos das construções colossais, executadas no Latium, e que atentam a alta prosperidade dessa pequena província nos séculos anteriores à fundação de Roma. Só no pequeno território, ocupado hoje pelas Alagoas Pontinas,existiam 23 cidades ou vilas densamente povoadas.Os romanos no apogeu de sua grandeza,deixaram este pequeno mimo degenerar em foro perpétuo de febres e opilações,das quais foi Mário vítima:sob o domínio dos Papas este estado não fez senão piorar até os nossos dias .Do mesmo modo os Etruscos haviam convertido os banhados e países da Lombárdia em magníficos jardins agrícolas,graças ao mais sábio sistema de canais de drenagem. Do mesmo modo, os Samitas porfiavam em converter a cordilheira dos Apeninos em um vasto e esplêndido celeiro. Surge o povo Romano com seu espírito aventureiro e sua inextinguível sede de conquistas, e a cena muda do todo ao todo.Aos canteiros de rosas e aos campos de cereais sucedem os cardos e os carrascais;aos verdejantes e risonhos prados ,que forneciam pingues pastagens à numerosos e variados rebanhos,sucede agora o aspecto da mais sombria desolação.Em lugar da alegria,é agora a fome que passeia seu lívido olhar por toda a Itália.Os camponeses desertam os campos, a soldadesca pulula nas cidades;os palácios dos Césares,as repartições públicas, pejam-se de enxames de pretorianos.Uma nova tarefa ,urgente,formidável,se impõe à edilidade: é preciso dar pão aos ciosos esfomeados, sob pena de uma sedição sangrente.Das províncias não vêm mais farinha que baste, e forçoso é importar trigo de remotas regiões.Com a miséria,com a fome,o casamento cai em desuso,os filhos não são mais uma benção dos deuses, os seios maternos não tem leite,os braços do trabalhado se desmusculam,o paisano rompido no físico e no moral, desesperado sob o peso dos esmagadores impostos que a populaça de Roma não cessa de arremesar-lhe entre rugidos de ameaça, retira-se afinal da luta desigual: taciturno,sombrio,desfigurado,ei-lo vagando pelas estradas abandonadas ,e revolvendo em seu cérebro incendiado, o pensamento insensato, atroz, de extinguir a família....para não vê- la sofrer. A mesma cena se reproduz em cada aldeia, em cada tugúrio, por toda parte. A população decresce rapidamente, Roma já não pode fornecer o contingente de duas legiões ! Sob o reinado de Júlio Cezar, 850 mil homens vivem à custa do tesouro, e o recenseamento para ele instituído , indica já uma baixa assustadora na população e determina a criação da lei agrária, que reparte as terras da Campania entre 20 mil cidadãos pobres, tendo ao menos 3 filhos cada um. Medida esta tão inútil como a repartição forçada dos bens sob Caio Gracho, porque nenhuma delas se dirigiu à fonte do mal. Sob Augusto, a notícia da derrota do pequeno exército de Varus, enche de pavor a cidade Imperial : todos sabiam que, fossem quais fossem as violências empregadas no recrutamento, não se conseguiria mais levantar um punhado de combatentes. O caminho estava franco, e as portas de Roma largamente abertas para a invasão dos bárbaros.
Dr.Luiz Pereira Barretto

Curiosidades sobre os Afro Descendentes

A presença cultural e religiosa negra é um fato tão evidente no continente americano que pode-se afirmar com certeza que, sem os traços característicos da cultura negra, não se pode definir o específico da cultura latino-americana. Há traços negros na música, na dança, na escultura, nas religiões, nos costumes e no modo de ser das pessoas.
Apesar das contradições e sofrimentos vividos pela população negra desde da época do Descobrimento das Américas, a sua cultura se enraizou e se mantém com grande vitalidade, expressando-se através das manifestações de caráter associativo, tanto no campo cultural quanto no social e religioso.
A classe dirigente latino-americana não assume as culturas populares, ao contrário, procura reduzi-las a mero folclore. Também os canais oficiais de maneira sistemática insistem em fazer com que a cultura latino-americana seja uma desfigurada reprodução da cultura ocidental européia.
Aqui no Brasil a população negra é significativa e nossas raízes, com "o pé na África", como fala a sabedoria popular. A população afro-americana entretanto, proveio de poucas fontes principais da África. A maioria descende de duas grandes culturas principais: Banto e Nagô. Os negros de origem Banto foram trazidos principalmente das regiões de Angola, Congo e Moçambique. Um terço da população negro-africana é banto. Há aproximadamente 500 povos bantos, ou seja, comunidades culturais com civilização comum e línguas semelhantes.
A palavra "Banto" significa "seres humanos, pessoas, homens, povo". As línguas Banto formam um grande grupo, porém com muita semelhança entre elas. São faladas em muitas regiões da África atual: Uganda, Kênia, Tanzânia, África do Sul, Ruanda, Burundi, Zâmbia, Moçambique, Zimbabue, Angola, Zaire, Gabão, Camarões, República do Congo, Malawi, Botswana, Lesotho.
Seria impossível descrever nesse breve espaço tantas particularidades e riquezas dos povos Banto. É importante ter presente que os africanos de origem Banto foram trazidos para as Américas e particularmente para o Brasil procedentes do Congo e de Angola, durante o período da conquista e do desenvolvimento da colônia. Foram distribuídos principalmente no centro litorâneo, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais.
Outro grande número de afro-americanos e brasileiros tem sua origem na tradição cultural Nagô. O nome "Nagô", que originalmente se referia unicamente a um ramo dos descendentes Yorubá de Ifé, foi aplicado de maneira extensiva a todos os povos Yorubá. Os diversos grupos provenientes da África, principalmente do Sul e do Centro do Daome e do sudeste da Nigéria, são conhecidos no Brasil com o nome de Nagô.
Os Nagô são portadores de uma particular tradição cuja riqueza deriva das culturas dos diferentes reinos de onde eles se originaram. Os Ketu, Sabe, Oyó, Egbá, Egbado, Ijexa, Ijebu exportaram para o Brasil e outras regiões da América seus costumes, suas estruturas hierárquicas, seus conceitos filosóficos e estéticos, sua língua, sua música, suas danças, sua literatura oral e mitológica. E, sobretudo, trouxeram para o Brasil sua religião.
Os Nagô foram os últimos grupos africanos de escravos que chegaram ao Brasil. Isso ocorreu entre o fim do século XVIII e início do século XIX. Foram concentrados nas zonas urbanas do Norte e Nordeste, Pernambuco, Bahia, particularmente nas capitais desses estados: Recife e Salvador. A maioria da população baiana é de origem Nagô.
O comércio intenso entre Bahia e África naquele período manteve os Nagô do Brasil em contato permanente com suas terras de origem. Foi, sobretudo, através da prática contínua de sua religião que os negros nagô conservaram um sentido profundo de comunidade e preservaram o mais específico de suas raízes culturais.
O Banto e o Nagô têm características básicas em comum. Uma destas características é a própria concepção de mundo que fundamenta a cultura. Uma visão de mundo profundamente religiosa, onde tudo tem origem em Nzambi, criador e organizador do universo na tradição Banto, ou Olorum, na tradição Nagô.
Para o Banto, Nzambi (Deus) é a fonte de vida, fundador do primeiro clã humano, causa primeira de tudo o que existe. Para os Nagô, há uma força suprema, geradora de todas as coisas que é Olorum (Deus). Abaixo dessa força existem os Orixás. As religiões tradicionais africanas são o espaço prioritário do relacionamento com a divindade.
Tanto o homem como a mulher africana são seres profundamente religiosos e os locais de seus cultos não são templos suntuosos, mas a "roça" ou "terreiro". É no terreiro que os negros nascidos nessa terra reconstituem um pedaçinho da África genitora e desenvolvem seus conteúdos culturais.
fonte: http://www.rosanevolpatto.trd.br/dancatamborcrioula.htm

A Importância da História e o Trabalho do Historiador


Historiador é uma peça fundamental em todo o tipo de cultura. Ele retira e preserva os tesouros do passado, interpreta a História, aprofunda o conhecimento do presente. Um povo sem História, e sem o Historiador, é um povo sem memória.A ligação com o cotidiano está tornando a História cada vez mais atraente para o grande público. Atualmente, não é só com países, guerras e heróis que os pesquisadores se preocupam. Nos últimos anos, muitos deles começaram a pesquisar a História do Vinho, do Aborto, das Mulheres, da Juventude, do Medo, do Perdão, dos Bairros, etc. Na profissão de Historiador, a curiosidade de descobrir a origem das coisas tem sido fundamental.O curso de História nas Universidades tem duração média de 4 anos, e possui um currículo recheado de disciplinas que tratam de períodos, regiões e outros temas específicos, como História Antiga, Moderna e Contemporânea, História das Idéias, do Brasil, da África e da Ásia. A Metodologia da História é uma das matérias básicas que são vistas no primeiro ano. Para os que se interessam em dar aulas, é necessário fazer licenciatura. Um outro setor a ser explorado pelos que se formam é o de Consultoria para empresas, já que muitas delas estão preocupadas com o registro da sua história em livros, vídeos e CD-ROMs. Mas a grande maioria desses profissionais acaba mesmo é se empregando como Professor de Ensino Fundamental e Médio.O Ensino Superior também oferece um bom mercado, em virtude da presença da disciplina de História em praticamente todos os currículos da área de Ciências Humanas. Os Historiadores se beneficiam também da tendência de dividir a disciplina de Estudos Sociais, para as turmas do 2º ao 5º anos do Ensino Fundamental, em duas - Geografia e História. Embora ainda seja pequeno, tende a crescer cada vez mais o mercado de trabalho para os Historiadores na Internet, onde eles trabalham principalmente prestando consultoria para empresas e instituições que desejam resgatar sua memória empresarial. Também começa a crescer a procura por professores virtuais de várias disciplinas e pesquisadores de conteúdo com formação em História.
Fonte: Contribuição e autoria do Prof. Adinalzir
Rio de Janeiro, RJ, Brasil