FOLCLORE DO VELHO “CAMPO BELO” (ITATIAIA)
Aqui neste espaço de nossa revista iremos resgatar através da memória, aspectos relevantes do Folclore do Velho “Campo Belo”(Itatiaia). Na qual citar-se-ão a Catira, o Cateretê, o Cana Verde e o Jongo. A Catira era mais comum, porque dançavam e cantavam homens e mulheres, acompanhados ao som da viola, onde cada um cantava, versos já conhecidos ou improvisados no momento, mas sujeito a um estribilho, exemplo:
BIS: “Se você pesca de linha – eu pesco de varejão,
Roda, roda moreninha – peixe bom é camarão.”
O Cateretê – “Meu Boi Barroso” – “Menino da Porteira”- “Cavalo Zaino”. O Cateretê é realizado numa espécie de sapateado, geralmente os pisos eram de terra batida e era comum o poeirão que se levantava com o sapateado marcando o compasso.
O Cana Verde – A Cana Verde veio com os portugueses e adaptada entre os nativos e mamelucos, ou sejam, os caboclos brasileiros, e, raramente um Afro – Brasileiro, tomava parte numa Catira, Cateretê ou Cana Verde.
Exemplo: “O Anu é um pássaro preto – que tem o bico rombudo. Foi praga que Deus deixou – todo negro ser beiçudo.”
Ou ainda, de um descendente europeu, geralmente mais racista, esta:
O branco é filho de Deus – o mulato é um enteado,
Caboclo não tem parente e o negro é filho do Diabo.”
Declamações como estas, hoje, não passariam desapercebidas pelo rigor da lei que considera a discriminação racial como crime inafiançável contra os direitos civis do cidadão brasileiro.
O Cana Verde era mais para demonstração das qualidades trovadorescas dos cantadores. Formava-se uma roda com os cantadores, movimentando-se com suas cantigas, sempre pelo lado direito. O Cana Verde podia ser simples ou dobrado , sendo o simples, de uma trova composta de quatro versos setessílabos com rima obrigatória entre o 2º e 4º versos, mas os melhores trovadores, preferiam rimar, 1º com 3º e 2º com 4º versos. O Cana Verde dobrado era de oito ou mais versos, onde os cantores famosos chegavam, às vezes, a contar uma odisséia, tal como hoje a literatura de cordel, usada pelos nossos poetas nordestinos. Exemplo: “Quem tem nome de ‘Gambá’ – bicho louco de fedê,
Pudesse o nome trocá - que bicho quiria sê?”Ao que Rufino incontinente respondeu:
O que eu quiria sê – e cheguei a Deus pedí, eu vou contá pra vancê – quisera sê lambari. Minha maió alegria – ir nadar no “Poço fundo” nas águas da “Grota Fria” – gozando os “Gozos do Mundo”.
No exemplo acima foi uma cantoria de três moças e Rufino, o cantor de Cana Verde. O JONGO, principalmente aqui em nossa zona sudeste, abrangendo São Paulo, sul de Minas e Rio de Janeiro desapareceu e muita gente o confunde com macumba, não obstante, alguns jongueiros também eram macumbeiros. A prova disso está neste soneto alexandrino, de autor desconhecido.
A MACUMBA
Beirando a grota está o velho rancho oblongo
Cujo aspecto bacento e fúnebre de tumba.
Ali, quando alta noite, o bate-pé retumba
Lento, ao som do atabaque e cantigas do Congo.
O velho pai de santo, o chefe da macumba,
Fala ao “Cambone” o guia, e solta um grito
Longo, faz piruetas, ginga e gingando no jongo,
Risca a “pemba”a pedir que o inimigo sucumbe.
Uma preta que acende a vela e urde a mandinga,
Funga, resmunga, dança, ora canta, ora xinga,
Enquanto outras em torno, acompanham na toada.
No furor da balbúrdia, é medonho o alvoroço.
Santo Antonio ali está, amarrado ao pescoço...
Empesta o ar o mau cheiro, à pólvora queimada.
Em Itatiaia, ainda nos tempos de Vila Campo Belo, os famosos jongueiros eram: Leandro, Firmino Campos, Abel, estes ainda dos tempos da escravidão, e os mais novos: João Bimba, João Luciano e Benedito Vitor, cuja mãe, a parteira Celestina, com sua sobrinha Maria da Glória e a Chica do Salatiel eram as melhores damas numa roda de jongo. (Fonte: Macedo, Tharcílio Gomes – manuscritos) Carlos Lima –cadeira n.º 13 – Dep. Amadeu O. Rocha
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