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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A VITÓRIA DA ESTUPIDEZ – CÉLIA BORGES


A inversão de valores que vem tomando conta da nossa vida prática, nos últimos anos (ou seriam décadas?) tem sido motivo de muitas das minhas crônicas anteriores, mas que depois de publicadas, me deixaram com a desconfortável impressão de estar falando sozinha. Por isso, foi um grande consolo encontrar em O Globo de 24 de novembro, uma crônica do Arnaldo Jabor, “A burrice na velocidade da luz”, onde enfim encontrei afinidades com muitas das minhas impressões e preocupações. Jabor leva sua análise ao nível mundial, o que é muito apropriado, já que vivemos numa aldeia global, de tal forma que o que acontece num determinado país, acaba afetando todos os demais. “A burrice mais crassa toma o poder no mundo”, escreve ele, na abertura dessa crônica cuja leitura recomendo a todos, embora sem muita esperança a que me dêem ouvido. Eu ainda estou naquele nível do “se queres mudar o mundo, começa pela sua própria casa”. Então, a vitória da estupidez no meu próprio país, ainda é o que mais me assusta.Não tenho pretensão de ser mais inteligente do que ninguém, mas sou alguém que dá muito valor á inteligência. Entendo a inteligência como um processo dinâmico, através do qual nossas capacidades intrínsecas são alimentadas por informação e conhecimento. Sei que existem multidões de pessoas inteligentes pelo país afora, gente que estuda, que aprende, que exerce seu ofício com empenho e competência. Mas também vejo com perplexidade que essas multidões de inteligentes estão cada vez mais omissas, quando de trata dos problemas coletivos, e das conseqüências de uma política que compromete os princípios democráticos que deveriam reger a nossa vida, e o nosso próprio futuro.Covardia, é a primeira palavra que me vem à mente, quando abro o meu jornal de cada dia. Covardias ativas, daqueles deputados e senadores que legislam em causa própria, dos juízes que vendem sentenças, de um presidente da República que não admite críticas, e que berra publicamente, sem a menor compostura, chamando aqueles que discordam dele justamente dos adjetivos que ele próprio merece. E covardia passiva, daqueles que tem os meios e a capacidade de reagir, mas que permanecem calados, conformados com a usurpação dos seus direitos de cidadão, inertes diante do desrespeito aos direitos de toda a população.A covardia coletiva toma contornos de uma doença social. Ela é ao mesmo tempo causa e efeito de uma preguiça mental, que nos remete à alegoria de Macunaíma. Ela é cúmplice da falência do nosso sistema educacional, que atualmente é muito mais eficiente em perpetuar a ignorância, do que promover o saber. É ela que nos impede de cobrar melhores salários para os professores, melhor investimento em formação, de exigir escolas minimamente decentes, capazes de motivar os estudantes para darem valor ao conhecimento.Também é a covardia que nos imobiliza, diante da incompetência, da corrupção e da arrogância de um sistema judiciário, pra lá de falido. Ministros e desembargadores, nomeados para altos cargos pelo poder executivo, acabam lacaios, reféns dos interesses de quem os indicou. O desempenho do judiciário brasileiro está abaixo de qualquer crítica, mas seus representantes estão sempre mais interessados em garantir freqüentes aumentos dos seus salários, antes de estarem comprometidos com os anseios, necessidades e exigências da população que paga seus exorbitantes vencimentos.Sem educação e sem justiça, o que nos espera? Embora muitos ainda não se dêem conta, estamos mergulhados até o pescoço num mar de estupidez. Num país que parece precisar de um sistema de cotas para garantir acesso aos “negros” no ensino superior, matéria dessa semana nos jornais, nos informa que existem mais de um milhão de vagas ociosas nas nossas universidades. Outra matéria revela um parecer do STF, segundo o qual 1/3 das nossas leis é inconstitucional. Mas o que se pode esperar de um legislativo, formado por pessoas de quem não se exige mais do que saber assinar o nome? A estupidez gera a irresponsabilidade, a falta de compromisso. Afinal, ela é protegida pela impunidade. Impunidade essa que alimenta a violência, a corrupção, o vandalismo. E assim, sobrevivemos um círculo vicioso, com os oportunistas tomando o poder de assalto, e fazendo de suas permanências no poder o único objetivo. Para o povo, pão e circo. E para os inconformados, o ostracismo. Críticas não são bem vindas, pensar é tanto um crime quanto um pecado. Até artistas famosos, como o Caetano Veloso, podem ser apedrejados por falarem o que pensam. E os cidadãos comuns, como eu, quando dizem ou escrevem o que pensam, falam sozinhos. Ou correm o risco de serem segregados socialmente, relegados à categoria dos “chatos”. A inteligência anda envergonhada, diante do avassalador poder que vem sendo conquistado pela burrice e pela estupidez. Como escreveu o Jabor, “É a vitória da testa curta, o triunfo das toupeiras. Inteligência é chata – com seus labirintos. Inteligência nos desampara; burrice consola e explica. O bom asno é bem-vindo, o inteligente é olhado de esguelha. Na burrice não há dúvidas. A burrice não tem fraturas. A burrice alivia – o erro é sempre do outro.”Célia Borges

ROBERTO DONATI - CÉLIA BORGES


O nome de Roberto Donati é frequentemente associado ao do pintor Alberto da Veiga Guignard, por ter esse genial artista vivido em alguns períodos, entre 1940 e 1944, no Hotel Repouso, em Itatiaia, de propriedade de Donati, de quem era grande amigo. Ali, recuperando-se de problemas de saúde e encontrando abrigo para enfrentar as dificuldades financeiras, Guignard teve um período extremamente produtivo, do qual ainda se conhecem alguns quadros.

Donati foi amigo de muitos artistas - compositores, músicos, cantores líricos, romancistas, poetas e pintores - que frequentaram o seu hotel desde 1931, quando foi inaugurado, mas as referências biográficas sobre ele mesmo são raras. Há um esforço de pesquisa sendo realizado para recuperar documentos, já que a maioria das informações que se pode obter, são resultados de lembranças de pessoas que conviveram com ele.

Roberto Donati nasceu em Berlim, por volta de 1886, tendo deixado a Alemanha logo depois da primeira Guerra Mundial, estabelecendo-se em Paris, onde dedicou-se ao comércio de peles. Essa mesma atividade levou-o a Argentina, onde viveu até meados da décado de 1920, quando veio para o Brasil, onde radicou-se definitivamente. Homem culto, falava oito idiomas e tocava piano. E foi justamente a música que o inspirou para uma nova atividade profissional, quando veio para o Rio de Janeiro, tendo adquirido a Casa Carlos Wers, especializada na venda de instrumentos musicais e partituras. Mais que um negócio, a Casa Wers foi um ponto de encontro dos artistas da época, onde Donati teve a oportunidade de cultivar uma verdadeira legião de amigos, que preenchiam sua vida solitária. Tendo perdido na guerra a família, os amigos, e possivelmente àquela que teria sido o grande amor da sua vida, tinha em seu país natal apenas duas sobrinhas... e foi no Brasil que ele encontrou um novo tipo de fraternidade, entre pessoas com as quais partilhava sua sensibilidade e generosidade.

Pouco depois de chegar ao Brasil, Donati conheceu Itatiaia, onde costumava hospedar na famosa Pensão Walter. Encantado com o local, onde encontrou outros imigrantes europeus, vindos em 1908, na época da criação do Núcleo Colonial do Itatiaia, Donati adquiriu em 1928 a gleba 128, do mesmo casal Walter que o hospedava. E ali construiu o Hotel Repouso, inaugurado três anos mais tarde. Na época não havia estrada, e o material da obra era transportado em carros de bois. E os hóspedes tinham que chegar lá à cavalo. Em poucos anos, o hotel transformou-se em seu principal interesse, tendo fechado a Casa Carlos Wers para dedicar-se integralmente. Afinal, o hotel era também um bom endereço para receber seus muitos amigos, como o poeta Vinícius de Moraes, que se refere a ele em algumas cartas. E como Alberto da Veiga Guignard, que retribuía a hospitalidade de Donati pintando muito, inclusive nas portas, paredes, traves e janelas da cabana que ocupou, e na sede do hotel. O Hotel Repouso hoje, chama-se Hotel Donati, por iniciativa dos novos proprietários, herdeiros do casal Marina e Mamede Vidal de Andrade, que o administraram nos últimos anos de vida de Roberto Donati, que faleceu entre 1967 e 1968, não tendo sido possível precisar a data. A cabana onde Guignard morou ainda mantém as pinturas que ele fez, e onde, apesar da necessidade de reforma por que passou, continuam preservadas.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ANIVERSÁRIO DE NOSSA PRESIDENTE DA ACIDHIS - ALDA BERNARDES

Prof. Alda e a Prof. Eliane Barros
Alda com Prof. Angela Campos, Ciméia Faustich Bernardes, Recy Feijó.

Alda ladeada de M. Tereza Mehr, Vice-Prefeita de Itatiaia, Gilda
e amiga.

Alda com a Prof. Eliane Barros, Lilian Flóres e Eliana Gouvêa



As irmãs Ednamara, Rosa e Eliana Gouvêa e Alda Bernardes, ao centro.




Sra. Gjroup, Prof. Dra. Nilza Macário, Rosa M. Cotrim(ao fundo), Rosa M. Esteves e Alda Bernardes.






Simone Talyuli e Maria Tereza Mehr - cento, Alda B.





Célia Borges e Alda Bernardes















Mais um botão em seu buquê!!!

















Faceira, autêntica, dinâmica e de bem com a vida. Alda Bernardes de Faria e Silva - professora, fisioterapeuta aposentada e uma das fundadoras da AACD de São Paulo e também historiadora da história viva da nossa Itatiaia. D. Alda como é conhecida, ganhou mais um botão em seu buquê de vida. Nova idade em que ela celebrou em um chá com algumas de suas amigas em sua encantadora residência. Postarei aqui fotos daquele momento, realizado um dia após seu niver - 27/11; pois, segundo ela, o sábado seria mais fácil, onde as amigas não estariam trabalhando e poderiam comemorar junto dela essa data festiva. A amiga, jornalista profissional e fotógrafa Célia Borges cedeu gentilmente as fotos para abrilhantar esse nosso blog. Valeu Célia!!!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Educação prepara livro didático sobre a cidade



ITATIAIA Secretaria de Educação e Cultura (Smec) está preparando para lançar em breve o primeiro livro técnico didático-pedagógico sobre o Município de Itatiaia, para ser utilizado pelos professores do primeiro segmento (2º ao 5º anos do Ensino Fundamental) e um Caderno de Atividades para os alunos.Este material é voltado especificamente para professores e alunos do 4º ano (antiga 3ª série) e também poderá servir de consulta para professores do segundo segmento (6º ao 9º ano) de diversas áreas de conhecimento, como História, Geografia e Ciências Biológicas. A pedido de secretária Municipal de Educação e Cultura, Elenir Laurindo Pereira, o professor Carlos Lima, que também é historiador e membro da Academia Itatiaiense de História, está a frente da elaboração do projeto, desde o primeiro semestre.Também colabora diretamente com a publicação a Coordenadora Virginia Lucia Nogueira de Deus, da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. De acordo com Carlos Lima, alunos e professores estão contribuindo de forma relevante na elaboração do projeto. “Um concurso de desenho, foto e redação foi realizado durante o período da festividade de aniversário de Itatiaia e em breve os nomes dos vencedores serão anunciados pela secretaria, que realizará uma premiação”, comenta o professor.Existe uma grande ansiedade dentro da rede de ensino e na secretaria por conta da finalização do projeto, que pretende ser um material para consulta sobre o município, com dados sobre sua história, economia e riquezas naturais. “É muito importante para o professor conhecer a história do local onde trabalha, para construir junto com seus alunos a memória do tempo e da preservação das raízes histórico-culturais”, afirma o professor Carlos.

sábado, 9 de maio de 2009

INFORMATIVO GERAL DA ACADEMIA ITATIAIENSE DE HISTÓRIA

Homenagens nos Aniversários da Cidade e da Academia Itatiaiense de História em Maio de 2009.


Prefeito Municipal de Itatiaia - Luís Carlos Ferreira Bastos e o competente e admirado Juiz da Cidade
Juiz da Comarca - MM. Dr. Marvin Ramos Rodrigues Moreira


Cel. Claudio Moreira Bento - Presidente da AHTMB







Antonio Delfino - Toninho Itamar (Presidente da Câmara)
























Será realizada a Sessão Solene Comemorativa do XX Aniversário do Município de Itatiaia e XVII Aniversário da Academia Itatiaiense de História no dia 30 de maio de 2009, às 15:00 horas, na Câmara Municipal de Vereadores de Itatiaia. Neste dia, serão empossados os Presidentes de Honra: Prefeito Luís Carlos Ferreira Bastos; Presidente da Câmara - Antonio Delfino; Juiz da Comarca Única de Itatiaia - MM. Dr. Marvin Ramos Rodrigues Moreira; Comandante do CRI - Cel. Médico Dr. Fernando Augusto de Araújo Oliveira; Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - AHTMB - Cel. Claudio Moreira Bento. Dois membros acadêmicos da Academia Itatiaiense de História, que hoje ocupam cargos de destaque no governo municipal serão diplomados. E será feita uma Retrospectiva dos 20 anos do município pela acadêmica e arquiteta Ednamara Maia Gouvêa Keller e pelo acadêmico e Cel. Claudio Moreira Bento.





O evento comemorativo integra as Comemorações Oficiais do Aniversário da Cidade. O Cerimonial ficará por conta da competente e renomada jornalista Célia Borges.

Carlos Lima



quinta-feira, 7 de maio de 2009


FÉ E PODER NO MUNICÍPIO DE ITATIAIA

A criação e a identidade do município de Itatiaia estão estreitamente ligadas à religiosidade, tendo se desenvolvido em torno de uma igreja, assim como centenas, ou mesmo milhares de municípios, Brasil afora. Os registros históricos locais indicam que em 1839, D. Silvéria Soares Lucinda doou uma área de terreno para que fosse ali erguida uma capela sob a invocação de São José. Em cinco de abril desse mesmo ano, Lei Provincial instituiu o Curato de São José.
É interessante observar que a localidade, sob o nome de Campo Belo, só seria elevada à condição de Vila 100 anos mais tarde, pela Lei Federal no 311 de 2 de março de 1839. Só em 31 de dezembro de 1943, pelo Decreto-Lei no 1056, a vila tornou-se distrito de Resende, já com o nome de Itatiaia.
Nesses 100 anos, a influência do catolicismo no desenvolvimento do povoado foi decisiva, algumas vezes como poder moderador, mas outras vezes com relevante participação, tanto nos aspectos políticos e sociais, como até mesmo no administrativo, como revelam alguns episódios da História.
A união da comunidade em torno da igreja foi indiscutível, tanto que em 1842 os moradores da localidade que se mobilizaram para conseguir que o Curato fosse elevado à Freguesia (Lei n0 272, de 9 de maio de 1842), permitindo a transformação da Capela em Igreja Matriz. Isso com o apoio do capelão Padre Francisco de Oliveira e Silva, do Capitão José Ferreira Pinto, de D. Silvéria e de D. Clara (???), também próspera fazendeira na época.
Em 24 de agosto de 1944, após sua nomeação, o Padre Francisco funda a Irmandade de São José, com o apoio de toda a comunidade, e com a ajuda financeira do Comendador Pereira Leite e da referida fazendeira D. Clara, que doaram, cada um 80 braços quadrados de terras nas circunvizinhanças da capela, para formar o patrimônio do padroeiro. Foi também o Padre Francisco que, inspirado na beleza da paisagem, sugeriu que o nome da Irmandade, além de São José, tivesse o epíteto de Campo Belo.
Nessa época iniciou-se a construção da igreja matriz, inaugurada dois anos depois. A freguesia então prosperava, sob a riqueza dos vastos cafezais, que produziam com abundância, com reflexos dessa prosperidade na vida religiosa, alimentada pela presença constante na igreja da “aristocracia rural”, e de suas generosas contribuições. Em 1853 foi inaugurado o transporte fluvial pelo Rio Paraíba do Sul, levando a produção agrícola local, e também de Engenheiro Passos, Queluz e Areias até o Porto de Resende.
Os episódios mais significativos sobre a influência da igreja na comunidade foram observados, entretanto, à partir de 1863, quando o Padre Joaquim Thomaz de Aquino assumiu a direção espiritual da freguesia, que exerceu durante 16 anos, prestando tais serviços em benefício dos mais necessitados, e agindo com tal iniciativa e coragem, que inscreveu seu nome na História do município, sendo patrono de uma das cadeiras da Academia Itatiaiense de História, homenagem à altura do seu desempenho.
Investido no cargo por portaria do dia 30 de setembro de 1864, o espírito empreendedor e a vocação para a liderança do Padre Aquino ficaram claros desde que assumiu a paróquia. Ao chegar, encontrou em ruínas o prédio da Matriz, possivelmente em conseqüência de um empobrecimento repentino da comunidade, devido a uma praga que entre 1956 e 1864 dizimou grande parte dos cafezais. Reclamou providências ao Imperador, e só depois de longa espera, conseguiu que o Governo Provincial mandasse demolir o templo, vendendo em hasta pública o material aproveitável. O vigário alugou então, para o culto, um outro prédio, por 50 mil réis, pagos às suas próprias expensas.
A demora na reconstrução da Matriz foi circunstância adversa, mas deu a ele a oportunidade de empreender a primeira, e a mais renhida, de suas lutas à frente da liderança religiosa de Itatiaia. Episódio em que enfrentou, não apenas as autoridades administrativas, mas até mesmo as eclesiásticas, com o objetivo de “dar abrigo decente às práticas religiosas” de sua comunidade.
Depois de longa espera, e esgotadas todas as possibilidades diplomáticas para obter os recursos necessários à reconstrução da Igreja Matriz de São José do Campo Belo, o Padre Aquino se expôs aos riscos de castigos e retaliações, e foi à imprensa denunciar o que considerava o “descaso oficial”. E mesmo diante da interferência do bispo, tentando “arrefecer a intrepidez de seu subordinado hierárquico”, ele persistiu destemidamente, até obter os resultados necessários ao projeto.
Outro episódio que revelou a coragem e o desprendimento desse Padre foi o surto de varíola verificado em 1865, que atingiu grande parcela da população, fazendo muitas vítimas. Além de atuar como enfermeiro, cuidando e alimentando com recursos de doações os doentes, ele assumiu até mesmo o papel de coveiro, carregando os cadáveres e abrindo as covas para enterra-los, diante da recusa dos coveiros profissionais em fazer o trabalho, devido ao temor de se contaminarem.
No período em que esteve à frente da paróquia, até seu falecimento em 27 de janeiro de 1880, o Padre Aquino exerceu um poder extremamente agregador, reunindo em torno das festividades da Igreja tanto a comunidade quanto aos representantes das classes mais abastadas, e conseguindo reconquistar para as solenidades, a pompa e o brilhantismo da época de sua inauguração.
As festas do Glorioso Patriarca São José eram celebradas todos os dias 25 de março, com cantata, sermão, procissão e o Te-Deum. O púlpito era ocupado por distintos e eloqüentes oradores. Havia Banda de Música dos Festeiros, e dois ou três dias antes da festa eram organizados os leilões de prendas, oferecidas pelos devotos. No dia 24 havia um espetáculo pirotécnico em frente à Matriz. Os Festeiros também trabalhavam junto à comunidade para que iluminassem a frente de suas casas na noite do dia 25, honrando assim, de modo esplêndido, a solenidade do padroeiro.
O Padre Aquino não só conseguiu seu objetivo, de construir a igreja Matriz de São José, como atraiu para a região seus familiares, como o Capitão Virgínio Thomaz de Aquino, sobrevivente da Guerra do Paraguai, e que em 1870 escolheu Campo Belo, onde residia o irmão, para se radicar. Dessa migração resultou numerosa prole, sendo que um dos descendentes da família, Luis Carlos de Aquino, foi o primeiro prefeito do município de Itatiaia, após a emancipação em 1989, tendo sido empossado em 1990.
À falta da influência do Padre Aquino são atribuídos os distúrbios verificados em Campo Belo e suas vizinhanças, em seguida à sua morte, com o assassinato do agente dos Correios Barreto de Farias, e uma situação de terror que se instalou nas fazendas e sítios próximos da Serra. Consta no livro de Itamar Bopp que, liderados pelo escravo Antonio Theodoro Leal de Mesquita, formou-se um quilombo na Fazenda Palmital, abrigando escravos foragidos, que ameaçavam sitiantes e visitantes, depredando propriedades. Teriam sido mais de cem criminosos, em seguida dispersados pela polícia.
Nos anos seguintes, a seqüência dos ocupantes e episódios da paróquia podem ser assim resumidos: em 1881 é nomeado vigário de Campo Belo o Padre Benito Carrera; seu sucessor foi o Monsenhor Mariano Capellini, nomeado em 1902, e que fundou o Apostolado do Sagrado Coração; em 1904 foi nomeado o vigário Padre Paulo Cortes; em 1916 o Bispo D. Benassi visita a sede da freguesia, que festivamente recebe o ilustre prelado, e durante cuja visita foram crismadas 1.120 crianças e ministradas 2.800 comunhões; em 1926 é nomeado vigário, com jurisdição em Campo Belo, o Padre Cícero Machado Sales.
Em 1930 uma outra personalidade marcante surge no cenário religioso de Itatiaia, reacendendo o carisma da Igreja diante da comunidade: foi o Padre José Sandrup, figura que se elevou na simpatia do povo, um verdadeiro “Bom Pastor” que percorria à cavalo estradas inacessíveis, semeando a caridade e seu apoio, sem distinção de classes sociais. Ele foi reconhecido com o nome de uma rua, no munípio de Resende, em sua homenagem. Mas seu trabalho no município merece ser melhor estudado, porque é uma das personalidades religiosas cuja memória permanece viva e ainda reverenciada entre os moradores de Itatiaia. Seu substituto, em 1944, foi o Monsenhor Ludovico Stanuch, que faleceu em Resende, em 1985.
Após um período de vigários substitutos e provisórios, Itatiaia veio a ter um dos seus mais influentes líderes religiosos, cuja história esteve ligada ao município no decorrer de 40 anos, desde 1962, quando foi nomeado, até seu falecimento em 2002: o Padre José Wyrwinski, ou, simplesmente, o “Padre José”. Dono de uma considerável cultura eclesiástica, e de uma experiência de vida igualmente rica, poderia sem dificuldades ter se alçado a algum cargo representativo na hierarquia da Igreja, mas optou por uma paróquia do interior, onde exerceu o sacerdócio com extraordinária grandeza espiritual, em contraponto com uma extrema simplicidade de hábitos de vida.
O Padre José Wyrwinski, de origem polonesa, nasceu em 15 de janeiro de 1912, em Bieczyny, estado de Poznán, nono filho dos 12, do casal de agricultores Francisca Roszak e Francisco Wyrwinski. Fez seus estudos básicos na região de origem, e em 1933 entrou para a Congregação da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, atraído pelo exemplo de um seu grande amigo, mais tarde Padre Francisco Anders. Concluiu o noviciado na Casa da Congregação, em Cracóvia, e no dia 15 de agosto de 1934 fez seus primeiros votos religiosos.
Nesse mesmo ano foi enviado à Roma, onde permaneceu na Casa Generalícia da Congregação, no Seminário Internacional, convivendo com estudantes de diversas nacionalidades, como italianos, búlgaros, norte-americanos e até mesmo outros poloneses. Estudou na Pontifícia Universidade Gregoriana, licenciando-se em Filosofia e Teologia. Durante a II Guerra Mundial, foi ordenado sacerdote, em 7 de junho de 1941, na Basílica de São João Latrão. Foi nomeado Chefe dos Noviços, que exerceu durante dois anos, período em que estudou o Direito Canônico.
Além dos árduos e dedicados períodos de estudos, o Padre José Wyrwinski viveu e sobreviveu á experiências de risco pessoal, tendo sido capelão no Exército Polonês, que lutava ao lado dos ingleses. Acompanhou o Exército até à luta ao norte da Itália, tendo sido condecorado com a Cruz de Prata, pelos méritos, e medalhas de Guerra da Inglaterra, Itália e Polônia. Em setembro de 1946, acompanhando soldados poloneses, foi embarcado para a Inglaterra, e dois anos depois, desmobilizado, foi transferido para a paróquia de Biasca, Tkcino, na Suíça.
Em 1950 foi enviado à Viena, ainda ocupada pelos exércitos aliados, sendo nomeado Superior da Casa da Congregação e Reitor da Igreja, para dar assistência religiosa aos poloneses de Viena, e da Áustria em geral. Sete anos mais tarde ele retornou à Roma, onde encontrou D. Agnello Rossi, na época Bispo de Barra do Piraí, que então procurava padres dispostos a vir trabalhar no Brasil.
O Padre José aceitou o convite de D. Agnello, e no dia 9 de março de 1959, junto com o Padre Wojtyniak, desembarcou no Brasil. Ambos foram enviados à Resende, onde fundaram a Paróquia de Santa Cecília, no Manejo. Lá trabalhou durante três anos como Vigário Cooperador, sendo em seguida convidado por D. Agnello para assumir a Paróquia de São José, em Itatiaia, onde tomou posse no dia 22 de maio de 1962. Ali atuou ininterruptamente durante 27 anos, não apenas como o Pároco de Itatiaia, mas como um autêntico cidadão brasileiro e itatiaiense, cujo título aliás, outorgado pela Câmara Municipal, lhe foi oferecido em 1990.
Ao contrário do Padre Aquino, que se notabilizou pelo enfrentamento nas situações de conflito, o Padre José se caracterizou pela diplomacia. O poder que exerceu é difícil de ser avaliado, por ter sido um poder sutil. O que se pode observar vem do grande poder que a Igreja Católica exerceu sobre a comunidade de Itatiaia durante sua liderança religiosa. Foi um novo período de grande agregação em torno da Igreja, com o Salão Paroquial sempre aberto as atividades comunitárias, lindas festas em homenagem ao Padroeiro, intensa atividade da comunidade para reunir recursos para as obras e manutenção do imóvel. A campanha emancipacionista do município ocorreu, em muitos momentos, sob aquele teto, assim como as entidades voltadas para o desenvolvimento comunitário, cultural e comercial ali encontraram abrigo, sempre que era necessário encontrar um local para se reunir.
A aposentadoria do Padre José Wyrwinski, em 31 de janeiro de 1988, pegou a comunidade de Itatiaia de surpresa. Justamente às vésperas da emancipação, para a qual ele havia tanto colaborado, ia ser uma espécie de “grande ausente”. Após uma seqüência de festas de despedida, às quais comparecia sempre com uma espécie de alegria infantil, ele partiu em 1989 para Curitiba, onde obedientemente, e com a atitude filosófica que sempre demonstrava, foi exercer ofício no Seminário do Cristo Ressuscitado.
Mas, para a população de Itatiaia, o Padre José era uma espécie de “patrimônio espiritual”, único e insubstituível. Por força da opinião pública, em 1990 recebeu o título de Cidadão Itatiaiense, no primeiro ano em que o prêmio foi instituído. As pressões não pararam por aí, e foram tantas que, finalmente, em 1992 o Padre José voltou à paróquia de Itatiaia, como uma espécie de “morador honorário”, onde apesar da saúde debilitada, e atuando apenas como auxiliar, não se recusava a celebrar casamentos, batizados e outras festas.
Nos dez anos que se seguiram, até seu falecimento, em 2002, ele foi uma espécie de talismã para a comunidade, sempre convidado, e na medida em que a saúde permitia, sempre presente aos eventos mais significativos, tanto os particulares quanto aos promovidos pelos poderes públicos. Mesmo dos bastidores, ele continuou a exercer seu poder cativante, usado sempre no sentido da conciliação, do entendimento, da solidariedade e do perdão. Circulou nos salões do poder, mas também esteve presente nas reivindicações dos carentes, sendo ouvido e recebido em ambos os casos, com igual respeito e reverência.
Não seria exagero dizer que o Padre José foi um ecumenista, porque além de compreender essa questão (que tive o privilégio de discutir pessoalmente com ele), agia de acordo com esse conceito, recebendo pessoas de outras orientações religiosas nos rituais, sempre que a situação permitia. Seus aniversários nunca foram esquecidos, e sempre comemorados em Itatiaia, com boa parcela da comunidade se mobilizando, como quem comemora uma data oficial. A influência dessa personalidade tão peculiar e marcante, talvez não tenha a distância, no tempo, à ponto de ser devidamente avaliada.
UM ADITIVO: CURIOSIDADE HISTÓRICA
Além da Matriz de São José, a única igreja com conotação histórica ainda existente no município de Itatiaia é a Capela de Nosso Senhor dos Passos. Ela foi mandada construir por D. Mariana da Rocha Leão, personagem histórica que inclusive dá o nome à praça da Matriz. As obras, iniciadas em 1898, foram concluídas em 1914, constituindo-se portanto em um prédio às vésperas do centenário.
As terras da capela e cercanias pertenciam ao Desembargador Manoel da Rocha Leão, e a construção foi idealizada por sua esposa, D. Mariana, muito religiosa, como promessa pela recuperação do marido. A obra, do ponto de vista arquitetônico, retrata as tendências da “art-noveau”, levantada inicialmente pelos negros do regime colonial, e concluída por alforriados negros e pedreiros devotos de Campo Belo.
Todo o aparato clerical do ritual católico foi adquirido, pelos clérigos da época, em ouro maciço, em Minas Gerais, com recursos das doações dos devotos. A capela foi palco de muitas celebrações importantes, como missas em latim, casamentos, primeiras comunhões e crismas. Havia duas plenárias laterais para as famílias destacadas, e os demais, escravos e libertos, permaneciam nos bancos frontais ao altar, que possuía uma pintura barroca em seus afrescos, e imagens de santos de cerâmica portuguesa, entre os quais se destacava a imagem de Nosso Senhor dos Passos.
D. Mariana da Rocha Leão não obteve êxito em seu pleito, tendo perdido o marido em seguida. E a capela, tão bonita, encontra-se em estado de abandono, apesar dos esforços da Academia Itatiaiense de História de transformar o prédio em Patrimônio Histórico, para assim tentar obter os recursos necessários para as obras de restauração.

AUTORES:
Texto: Jornalista Célia Borges, Membro da Academia Itatiaiense de História, na cadeira no 27, que tem como Patrono o Padre Joaquim Thomaz de Aquino
Pesquisa: Professora Alda Bernardes de Faria e Silva, presidente da Academia Itatiaiense de História; Professor Carlos Lima, secretário da Academia Itatiaiense de História, e Jornalista Célia Borges

Bibliografia:
1) Arquivos pessoais da Professora Alda Bernardes de Faria e Silva
2) “Quatro personagens de Resende”, de Itamar Bopp
3) Revista da Academia Itatiaiense de História, n0 1, 2005
4) Discurso de posse na Academia Itatiaiense de História, da jornalista Célia Borges, sobre seu Patrono, Padre Joaquim Thomaz de Aquino