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sábado, 13 de dezembro de 2008

Nas pontas das pedras do Itatiaia - Jorge e Alberto Guedes


Nas pontas das pedras do Itatiaia

Muitas pessoas visitam Itatiaia. Poucas conhecem a origem dessa palavra que em tupi-guarani quer dizer no seu estado mais bruto “Pedra cheia de pontas”.
Como dizia acima, não sabem ao certo o que significa, porque o que realmente os interessa é estar aqui. Nas portas das pedras e sempre que possível, unidos por uma corda.
Entre essa tribo de trepadores de pedra, Itatiaia é muito conhecido e visitado, é uma das principais meças do alpinismo brasileiro. E embora o marco inicial do país seja a iniciativa de um grupo de paranaenses quem 1879 alcançaram os 1.539 metros do Monte Olímpio no maciço do Marumbi, na Serra do Mar, o primeiro relato registrado de uma escalada data do longínquo ano de 1856 quando José Franklin da Silva Massena atingiu os primeiros contrafortes do pico das Agulhas Negras e de maneira singela narrou ao Imperador toda a sua aventura e os perigos enfrentados nos imensos paredões sulcados da montanha mais alta do Rio de Janeiro, que na época também era considerada a mais alta do Brasil.
Contudo somente 63 anos depois, o topo de montanha que deu origem ao nome de nossa cidade foi alcançado pelos intrépidos Carlos Spierling e Osvaldo Leal, montanhistas que escalaram a Pedra Isolada, hoje conhecida como Itatiaiaçu(mais alto de todos) com seus 2.787 metros em 19 de dezembro de 1919. De lá para cá, o alpinismo mudou, cresceu, novas técnicas, novos equipamentos e novos estilos.
Todos já devem ter notado como cresceram as atividades ao ar livre, ou melhor “outdoor”, como insistem em plagiar termos de outras línguas..., seja num comercial de carros ou de pousadas, usa-se sempre o esporte aliado ao ambiente natural é a escalada em rocha transmite o sonho, o mistério. A força da natureza sobrepujada de maneira bela pelo homem. O alpinismo é o termo utilizado para definir essa atividade, contudo seu nome derivou-se dos Alpes franceses e alpinistas era como se chamavam os escaladores daquela determinada região, berço do nobre esporte ou esporte dos nobres.
Itatiaia também é berço dos mais conhecidos passos por essas montanhas, talvez seja por isso que alguém já carinhosamente se referiu ao planalto do Itatiaia como: Alpes da Mantiqueira.
Se nos primórdios almejava-se galgar as maiores atitudes, hoje se realizava um verdadeiro balé acrobático onde se gabam aqueles que executam os mais belos movimentos aliados a maior dificuldade técnica, mesmo em “boulders” de apenas um metro de altura. Mas, isso é outro estilo e outra história. Uma das escaladas que mais marcaram a comunidade escaladora de Itatiaia, foi a conquista do Mirante do Último Adeus. Mesmo passando de carro praticamente no topo desse imenso bloco de pedra, os quase 90 metros de altura não havia sido honestamente de baixo para cima. As primeiras rotas de escaladas são conquistas dos Irmãos Metralhas, como era conhecido o trio Zikán, que em 1979 chegaram a 30 metros do solo em conquistas audaciosas, porém, os conhecimentos e as técnicas utilizadas na época não permitiram que os irmãos Carlos, Fernando e Paulo atingissem seu objetivo. As técnicas eram outras, o equipamento inadequado, mas a ética prevaleceu. Toda conquista deve ser realizada de baixo para cima. Os perigos, desafiados e vencidos devem ser louvados.
Em 1999, vinte anos depois da primeira tentativa,m tivemos o prazer de sermos os primeiros a atingir o topo, partindo de baixo e com o objetivo de só sairmos por cima da pedra.
Depois de aproximadamente três meses de planejamento e quatro investidas, conseguimos chegar ao topo, sendo assim, batizamos a conquista com o sugestivo nome de Primeiro Adeus.
“Olhando agora parece fácil, mas chegamos a ficar horas sentados observando a parede para decidir qual seria o melhor caminho, uma vez que tomada à decisão seria impossível voltar, a saída era somente “por cima”, observa Fábio Guedes.”
O mirante do Último Adeus conta agora com mais de 25 rotas, 4 atingem o cume, dessas, 3 são conquistas nossas e uma delas é a rota mais perigosa de todo o Itatiaia.
Escalada em rocha é um esporte de risco onde acidentes sérios podem ser até mesmo fatais, contudo cada praticante assume este risco, sendo o único responsável por suas atitudes. A melhor definição para a escalada é: Como que um jogo de xadrez. Cada passo é estudado e entre os participantes(escaladores e escalada) deve existir um perfeito equilíbrio.
A escalada em rocha é uma atividade segura, com tecnologia avançada, básicos, individuais e coletivos. É notado também um grande retorno para seus praticantes, pois trabalha com o corpo e a mente. O equilíbrio psicológico, a força, a sensação de integração com natureza, a formação da ética e da moral.
Você está sempre em locais de agradável beleza e o que é melhor, alegre, feliz e obstinado a vencer o seu limite. Não precisa ser melhor que aquele fulano lembre-se, a parede é o desafio.
A primeira pergunta feita por aqueles que resolvem experimentar é: Por que subir montanhas?
A resposta mais antiga é de um professor de inglês indagado em 1921, durante sua investida ao Monte Everest. E também a resposta mais aceita. “Oras, porque elas estão lá.”
Itatiaia como o nome já diz, possui 4 das 10 maiores montanhas do país e tem 166 rotas para a escalada em rocha catalogadas no livro GUIA DE ESCALADAS DO ITATIAIA – uma publicação inédita com 112 páginas, fotos, mapas, comentários, curiosidades, acessos, etc. Foram quase dois anos entre as montanhas, as escaladas, o lápis e o papel. Por fim, chegamos a conclusão de que não só escalamos porque as montanhas estão lá. Mas também pelo mesmo motivo que acordamos todas as manhãs ou pela mesma razão que o sol ilumina a Terra. Venha estar nas montanhas.

Texto: Jorge Alberto Guedes

Nota:
Os irmãos Guedes são autores do livro GUIA DE ESCALADAS DO ITATIAIA/RJ.
Técnicos em Turismo, Guias locais do PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA,
Ministram cursos básicos de escalada em rocha e colaboram em diversas revistas e “sites” especializados em montanhismo.

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